Era da Informação. O jargão preferido de 10 entre 10 publicitários, mercadólogos, marqueteiros, analistas de social media para nomear o momento em que vivemos. Como não somos um site de comunicação e marketing, não me alongarei muito dizendo o óbvio: hoje em dia o principal meio de comunicação entre marcas e consumidores é a internet, e o veículo do momento é o Facebook. As festas de música eletrônica do país já aprenderam isso – vide o crescente investimento em Facebook ads e Google AdSense/AdWords, em detrimento a flyers, cartazes e outras mídias tradicionais. O problema, é que eles faltaram algumas aulas, e estão ignorando alguns fatos importantíssimos relacionados ao mundo da internet e das mídias sociais.
Facebook: você está usando isso errado.
Parece ridículo começar pelo básico, mas vocês sabem que é necessário. Ao contrário do Orkut, o Facebook é uma ferramenta incrível para marcas de todos os ramos. Ele possui diversas formas de comunicar cada coisa, possibilitando até a não-existência do tal “site oficial” em alguns casos. Porém, existem festas que ainda não aprenderam a usar estas maravilhas – e nem fazem questão, pelo jeito.
É muito comum ver DJs e eventos criando grupos para auto-promoção, em vez das corretas fanpages. Por que grupos são ruins? Bem, a começar pela forma de ingresso: forçada. Um dia você acorda, abre seu Facebook e descobre que foi adicionado a um grupo desconhecido, que está lotando sua caixa de notificações com spam. Qual a sua primeira impressão da “marca” – seja um DJ ou uma festa? Sim, péssima. Você não pediu para estar ali, você talvez até fosse gostar dela, mas a invasão já te causou uma primeira repulsa.
50% das minhas notificações são assim.
Fanpages são ótimas, pois são de adesão espontânea. É muito mais difícil conseguir fãs do que membros em grupos, mas acredite: o fã é fã mesmo, e faz questão de receber cada um dos seus conteúdos.
Outro vício dos “promoters” da cena é marcar o máximo de pessoas possíveis em uma foto. Bem, o recurso de marcar fotos foi criado para identificarmos nossos amigos em uma foto que publicamos, como um aviso de “esse aqui é o fulano” para o público geral – será que é tão difícil assim compreender que ele NADA tem a ver com divulgação de eventos?
Marcar 50 amigos em um flyer não trará resultado. Destes, alguns exigem aprovação para a marcação ser efetivada – sua marcação ficará eternamente pendente em uma lista de aprovações e você jamais saberá. Outros ficarão putos, pois zelam pelo seu perfil e não gostam quando abrem seu álbum de fotos e vêem mais imagens de flyers alheios do que fotos próprias. Alguns ficarão mais irritados ainda pois sequer simpatizam com a sua marca ou a apoiam, e você usou de uma falha do Facebook para divulgar seu evento para os amigos dele – quase um estupro.
Você acha mesmo que estas 50 pessoas gostaram de ser marcadas? Isso vai fazer elas irem na festa?
Esta prática tanto é mais grave que a outra, que é uma infração às regras do Facebook. Minha sugestão? Toda vez que for marcado em uma foto indesejada, denunciar como spam no ato. Acredite, funciona – em alguns dias o meliante ficará proibido de marcar qualquer pessoa em fotos (e ainda irá reclamar na timeline, xingando o Facebook pelo absurdo).
Saindo do “Facebook for dummies” e entrando agora em conceitos mais avançados, alguns organizadores se esquecem que uma marca tem personalidade. Quando você vai a uma Tribe, você está indo a uma Tribe, e não à “festa-do-Du-Serena“. Aliás, boa parte do público sequer sabe que aquele meninote que sempre toca nas Tribes é, na verdade, o dono da festa. O fato é que as festas estão se esquecendo que a sua marca nem sempre é você, e o maior reflexo disso é vermos fanpages oficiais tornando-se extensões do perfil pessoal do dono – ou pior ainda: do estagiário de mídias sociais.
Não só para internet, mas para a comunicação como um todo, é importante definir quais valores são defendidos e condenados pela marca. Falando especificamente do mundo da música eletrônica, é importante as marcas decidirem seu posicionamento diante de temas polêmicos da nossa cena, como por exemplo: descriminalização das drogas; DJs celebridades; dead-acts; mainstream vs. underground.
Não é feio assumir uma posição neutra, como dizer que tanto mainstream quanto underground possuem seu espaço e seu valor e devem coexistir, mas é obrigatório ter uma opinião formada sobre cada assunto. E antes de definir qual é a opinião, lembrar que uma grande marca é uma grande formadora de opiniões, e uma publicação mal explicada pode causar danos irreparáveis – tanto para si própria, quanto para terceiros. Ataques geralmente devem ser muito bem planejados, ou então reservados para os perfis pessoais dos donos. Vale sempre lembrar: Quem tem Aoki de vidro, não joga pedra na House Mafia do vizinho!
Sua festa é mainstream? Roots? Underground? Eclética? Deixe isso CLARO para o público. Infelizmente, a cena está cheia de gente intolerante, e xiitas do psy odeiam quando o low bpm (sic) invade suas festas, assim como o pessoal do electro acelerado não gosta quando o deep “arrastado” corta sua vibe.
Uns 5 anos atrás era muito difícil dizer a diferença entre XXXperience, Tribe, Kaballah e Tribaltech. Hoje já é bem claro qual delas é a pop mainstream, qual é a roots, qual é a que sempre aposta em inovações e qual é a mais underground. O sucesso que as 4 obtiveram ao encontrar sua personalidade e ater-se a ela deveria servir de exemplo para todas as festas de médio e pequeno porte que ainda procuram fincar suas raízes na cena nacional. Se o público for ao evento sabendo o que vai encontrar, dificilmente ele irá reclamar depois.
Memes possuem um efeito 8 ou 80: se a idéia for bem sacada, será muito bem recebida, mas se for forçada, virará motivo de piada e pode até cair em páginas indesejadas, como Porra DJ ou Humor Eletrônico. Se quer entreter seu público e descontrair um pouco, o faça de forma decente – você quer ser o CQC ou o Zorra Total?
Não basta a piada ser ruim e não fazer sentido, tem que ter um erro de português grotesco nela.
E falando em Zorra Total, identifique seu público. Se você está fazendo um evento para classe A e B, jamais faça memes com imagens da novela das 9, com o bonde da Oakley/Evoke, com piadas do Ary Toledo. Se está no Facebook há mais de 1 ano, você já percebeu que os hipsters, ricos e early adopters são extremamente intolerantes contra esse tipo de orkutização – e por mais chatos que eles sejam, muitas vezes são os únicos dispostos a gastar 50, 100, 200 reais em uma festa.
Nesse tópico não vou falar sobre oferecer estrutura decente, banheiros limpos, preços justos e coisas do gênero. Estes itens são obrigação, e uma festa que não atenda a eles não deveria nem abrir suas portas. Lembrem-se: o foco do artigo é a comunicação.
Não venda gato por lebre – o público está cada vez menos desinformado. Não diga que você é o maior, o primeiro, o principal, o melhor melhor do mundo, quando você não for. Aliás, não diga nunca – se você for o melhor, as pessoas já saberão sem você dizer.
Um imprevisto aconteceu? Problemas? Jogue LIMPO com o público. Se o DJ cancelou a tour, apresente a justificativa do artista ou da agência, peça desculpas, ofereça uma compensação e proponha-se a reembolsar quem sentir-se lesado. O som estava baixo? Justifique-se! Foi exigência da polícia? Foi fornecedor que instalou um sound system ruim? Foi o DJ que não soube configurar seu próprio equipamento? Conte ao público, ele merece saber. Mas claro: cuide para não repetir o problema na próxima edição.
Dimitri Vegas & Like Mike cancelaram a tour brasileira dessa semana. Semana passada o Bielle avisou seu público, já outras casas ainda estão fingindo que nada aconteceu…
Vai mudar de data para fazer uma festa melhor? Bem, esse assunto merece um tópico próprio.
Este artigo está na minha lista de pautas há meses, mas foi o caso XXXperience que me estimulou a fazê-lo agora. Se você acabou de sair da criogenia, explico de forma breve: a festa, marcada para acontecer no dia 3 de novembro (sábado), com 26 atrações já confirmadas, foi adiada para os dias 18 e 19 de novembro (domingo e segunda). Para maiores informações, leia o artigo sobre o assunto que escrevemos ontem.
Mesmo aonde é feriado, e quem não emenda? Fácil, hein?
A mudança causou uma revolta IMENSA no público e em nós, pois metade da festa acontecerá numa segunda-feira que é véspera de feriado apenas em São Paulo e mais meia-dúzia de cidades no país, ou seja, o resto do Brasil se revoltou contra a mudança. Depois de conversar com diversas pessoas, envolvidas e não-envolvidas com o festival, digo a vocês: a falha foi MUITO maior da comunicação do que da organização. Foi uma crise pessimamente administrada pela assessoria do evento, e vocês vão entender porque.
A idéia de fazer um festival de dois dias é mais antiga do que vocês imaginam – era o projeto original, adiado pois o SWU havia marcado seu evento de 3 dias para o mesmo feriado. Como o festival pseudo-ecológico foi cancelado, a tentação de retomar o projeto original foi grande – mas com uma mega-campanha em curso, como fazer?
Com certeza não é sendo sarcástico com seu público “contorcente”.
Deveria ter sido divulgado que a festa do dia 3, que todo mundo estava ansioso para ver, alguns com ingresso comprado já, foi transferida para o dia 18 – um domingo. O país todo pode prestigiar, assim como faria no dia 3. OK, chegar na madrugada de domingo em casa pode não ser bom para a produtividade da segunda, mas é passável – houve épocas em que as raves eram day parties de domingo e ninguém se queixava. No ato deste anúncio, uma forma de reembolso: é direito do consumidor desistir da compra, caso o produto mude. É LEI, deveria ter sido a primeira coisa a ser anunciada.
Depois de administrada essa parte da crise, o anuncio mais doloroso: um segundo dia para a festa, na véspera do feriado paulistano. O resto do país ainda teria direito à festa que havia sido anunciada até então, no domingo, e digamos que uma “festa extra” aconteceria no dia seguinte, para os afortunados que podem usufruir do feriado emendado.
Desta forma, as críticas e reclamações seriam bem menores, e mais facilmente contornáveis. Como diz o título do tópico anterior, o consumidor não é otário, e como diz o título do artigo, o maior problema das festas é a comunicação. Porém, os gestores do Facebook da XXX além de terem errado na mão, estão deixando suas emoções pessoais interferirem, portando-se de forma sarcástica diante das reclamações. E assim, está sendo assassinada uma das maiores e mais antigas marcas da nossa cena.
Desta proporção? Me conte mais sobre os 16 palcos, 300 artistas e cenografia impressionante que estão preparando.
Festas, para não enfrentarem um mar de reclamações e opiniões negativas é só jogar limpo e respeitar seu público. Nós não somos otários e nem crianças de 5 anos, vocês podem conversar conosco do mesmo nível que falam com um patrocinador ou uma agência de DJs internacional – te garanto que vamos compreender e apoiar toda crise que enfrentarem.
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A minha intenção com esse artigo não é atacar ninguém. Está mais do que claro que a década de 10 é o momento da música eletrônica dentro da cena global de entretenimento, agora cabe às festas, os principais fomentadores de música e conteúdo dentro da cena, posicionarem-se de forma profissional e correta, para que esta nossa paixão obtenha êxito na consolidação dentro da cultura geral do país. O nosso desejo é que um dia festas de música eletrônica, como XXXperience, Universo Paralello, Dream Valley, Tribaltech, sejam tão lembradas e respeitadas no imaginário da nação como hoje são os festivais de pop-rock, como Rock In Rio, SWU, Planeta Terra, TIM Festival.
Lembrando que todas as dicas servem também para sites, e o Psicodelia.org cuida para seguir cada uma delas 😉