Poucos artistas conseguiram gerar tanta expectativa no nosso país quanto deadmau5. Desde 2008, quando fez uma pequena tour passando pela XXXperience e pelo Creamfields Brasil (entre outras festas), o rato nunca mais pisou em solo brasileiro. Mesmo sendo o nome mais pedido nas páginas dos festivais e superclubs, nenhum conseguiu fechar negociação com ele, e a expectativa crescia cada vez mais.
No final do ano passado, quando o Lollapalooza divulgou o line-up da sua segunda edição brasileira, finalmente a espera acabou: o rato estava confirmado, e seria o primeiro artista de música eletrônica a se apresentar não no Perry’s Stage, palco voltado à EDM que havia recebido Skrillex e Bassnectar no ano passado, mas no Palco Butantã, um dos dois palcos principais (por onde passaram também bandas como Franz Ferdinand e Planet Hemp). Este fato aumentou ainda mais a expectativa, pois seria necessário um show muito bem executado para agradar aos fãs de rock que acompanhariam este stage.
O grande dia chegou, e Joel Zimmermann foi o melhor embaixador que a música eletrônica poderia ter perante a este público novo, que busca novos ídolos em uma época tão carente de boas bandas de rock. Sua apresentação agradou a praticamente todo o público presente, e agradou a praticamente toda a mídia de massa que cobriu o evento (o único veículo que criticou foi, ironicamente, o Estadão, patrocinador oficial do evento). Confira abaixo os reviews feitos por estes portais, voltados para um público geral, que não conhece muito do nosso estilo:
Folha de S. Paulo: Com miscelânea de gêneros, Deadmau5 transforma Lolla em pista de dança
G1: Deadmau5 no Lolla tem remix rock, ‘cosplay’ e ‘enfermeira maluca’
UOL: Deadmau5 agita público eletrônico com som do Rage Agaisnt
Terra: Apesar de início negativo, Deadmau5 funciona bem no Lollapalooza
Estadão: Flaming Lips faz o show diferenciado do dia
De fato, a apresentação foi muito positiva, e foi na contra-mão do “arroz com feijão” que outros produtores de música eletrônica estão fazendo para fazer sucesso no mainstream mundial. Enquanto David Guetta, Calvin Harris e outros artistas apelam para ídolos da Billboard para entrar na FM como artistas pop, o rato se porta mais como uma banda de rock. Seu show foi composto por produções próprias que não fazem o gosto dos ouvintes da Jovem Pan: boa parte das músicas tocadas não possuem vocal, como Some Chords (que foi um dos pontos altos do set), Superliminal, Cthulhu Sleeps e Closer. Mesmo as colaborações com vocal foram feitas com vocalistas não muito conhecidos da grande massa, como Greta Svan Bach, Rob Swire, Chris James – a exceção fica para Gerard Way, ex-vocalista do My Chemical Romance. A única música não autoral tocada foi Below The Belt, de Pig & Dan – dupla de DJs underground, do ponto de vista do público do Lollapalooza.
Com certeza uma das razões para o bom funcionamento de Deadmau5 foi a qualidade de suas produções – acostumado às músicas água-com-açucar de Guetta e cia., a massa leiga conheceu um lado mais sério da música eletrônica, mais ligado à produção criativa, exercendo exatamente o mesmo papel que o rock exerceu durante anos. Só isso seria suficiente para arrancar os elogios recebidos, mas Deadmau5 sacramentou seu sucesso no festival tocando um remix antigo seu, que sequer foi lançado, para a música Killing In The Name, do Rage Against The Machine. O público rockeiro foi ao delírio, e se alguém ainda estava torcendo o nariz para o fato dele ocupar o lugar de uma banda no palco principal, depois deste ponto ninguém mais se opôs àquele maluco com capacete de rato agitando o Palco Butantã.
A grande genialidade fica na diversidade musical que Deadmau5 conseguiu apresentar: em apenas 1:30 ele partiu de som próximos do techno, como Sometimes Things Get, Whatever e Below The Belt, passou pelo seu electro característico com Some Chords, Ghosts n’ Stuff e Cthulhu Sleeps, agradou aos rockeiros com Killing In The Name, e finalizou emocionando a todos com as belíssimas The Veldt e Strobe. Tudo isso “parando” o set apenas uma vez, e sempre com transições muito bem executadas – importante ressaltar que apesar dele ter um espetácuo visual totalmente sincronizado com o som, todas as mixagens foram feitas na hora (inclusive ele cometeu uma falha na passada para a Killing In The Name). Mais uma prova de que o argumento dos pops de que “o set vem pronto por causa da cenografia” não cola mais.
O saldo final do set foi positivíssimo: além dos reviews citados acima, o show foi transmitido ao vivo na íntegra pelo canal Multishow, e durante o espetáculo as redes sociais foram tomadas por elogios das pessoas que estavam assistindo. Sem dúvidas a EDM venceu muitos preconceitos e ganhou novos fãs depois deste feriado.
Se você perdeu, confira no video abaixo o set completo, faltando apenas uma parte da primeira música:
[video: http://www.youtube.com/watch?v=U91duAi3xOo]
1. Deadmau5 – FML
2. Deadmau5 – Superliminal
3. Pig & Dan – Below The Belt
4. Deadmau5 – Sometimes Things Get, Whatever
5. Deadmau5 – Cthulhu Sleeps
6. Deadmau5 – Take Care Of The Proper Paperwork
7. Deadmau5 – Some Chord (Private Version)
8. Deadmau5 feat. Gerard Way – Professional Griefers
9. Deadmau5 – Moar Ghosts n’ Stuff
10. Deadmau5 feat. Rob Swire – Ghosts n’ Stuff
11. Rage Against The Machine – Killing In The Name (Deadmau5 Remix)
12. Deadmau5 – Closer
13. Deadmau5 feat. Greta Svan Bach – Raise Your Weapon
14. Deadmau5 feat. Chris James – The Veldt
15. Deadmau5 feat. Chris James – The Veldt (Tommy Trash Remix)
16. Deadmau5 – Strobe