Dream Valley recebe 35 mil pessoas e firma-se no calendário de festivais brasileiros

Publicado em 20/11/2012 - Por Mohamad Hajar

O feriado da república foi um marco para a música eletrônica nacional: durante a semana passada, tivemos um overbooking de DJs internacionais de peso no país – e boa parte disso foi graças ao Dream Valley, festival de música eletrônica produzido pela junção da RBS, da Green Valley e da Plus Talent. Com produção de primeira, o evento foi um sucesso absoluto, e nós estivemos lá e vamos contar a vocês em detalhes como foi.

O Dream Valley tinha um fardo pesado pra carregar: assinado pelo “Club #2 do Mundo” e nascido já pra ser grande desde a primeira edição, tudo teria que correr muito bem. Problemas com o Ibama nos dias que antecederam a festa só aumentaram a expectativa do público quanto ao resultado final, e infelizmente estas questões ambientalistas acabaram resultando em um dos poucos pontos negativos de evento: a sua realização fora do Beto Carrero World, no estacionamento do kartódromo do parque, acabou tirando toda a magia do local escolhido para hospedar o festival. Com os brinquedos longe dos palcos, pouca gente usufruiu deles e a festa acabou acontecendo como se fosse em um centro de eventos qualquer. De qualquer forma, a estrutura foi montada de forma impecável, possibilitando uma fácil circulação do público entre todos os ambientes.

E já que estamos falando de estrutura, vale ressaltar que o palco principal foi uma das coisas mais impressionantes do festival: com mais de 1000 metros quadrados de fachada, pode-se dizer que é um dos maiores já montados no Brasil, e a decoração dele (assinada por Antonio Carlos da Costa, cenógrafo da Beija-Flor) ficou muito bonita, não devendo nada para festivais europeus. O telão também foi muito bem trabalhado pelo VJ, com projeções contextualizadas com o som que rolava, e muitas vezes bem sincronizado com ele. Ruim para o palco alternativo: analisando isoladamente, ele era digno, porém ao comparar com o principal, ele ficou pequeno e apagado. O line-up por lá era de primeira, em próximas edições ele merece um destaque maior.

 

Descendo os palcos e indo para o dancefloor, vemos os poucos problemas que rolaram: o número de banheiros insuficiente gerou esperas de até 30 minutos, a ausência de sinal das operadoras de celular fez com que as maquinetas de cartão de crédito parassem de funcionar, formando filas imensas nos caixas, e o camarote sofria um pouco de interferência do Mystic Stage em alguns momentos. Porém, coisas pequenas e aceitáveis para um “primeiro evento” – espera-se que sejam vistos e corrigidos para outras edições.

Por outro lado, pudemos ver um bar bem estruturado, com atendentes bem humorados e eficientes. A variedade de bebidas era a normal, com duas novidades: o Smirnoff Ice personalizado do evento e os novos Red Bull com sabores – cranberry, blueberry e lime. Os preços eram justos: R$ 5,00 na água, R$ 6,00 na cerveja, R$ 12,00 no energético. Chega a ser engraçado ver que o festival mais mainstream do país pratica preços menores que muita rave por aí.

Seguranças bem treinados, aliados aos postos médicos bem posicionados foram essenciais para o evento fechar com um número incrível: nenhuma ocorrência foi registrada, e nenhum caso grave precisou ser atendido pelos médicos. Apesar de ser uma festa mainstream, o público se comportou muito bem, e o clima era de alegria e amizade, como em uma boa rave. O perfil de “ostentação” atribuido ao público da Green Valley foi dificilmente notado, o que contribuiu muito para o clima de celebração da festa.

Saindo do dancefloor e indo para fora da festa, mais um ponto positivo para a estrutura: apesar do grande público, os estacionamentos estavam bem organizados, com filas menores do que as vistas em eventos de mesmo porte, como Tribaltech e XXXperience. Os ambientes de bastidores também merecem elogios: sala de imprensa com conforto, internet wifi, pontos de energia e tudo o que repórteres e fotógrafos precisam para uma boa cobertura. Destaque para o ambiente aonde foram feitas coletivas de imprensa com os DJs: ele eliminou o “caos” em que os palcos ficam, facilitou o nosso trabalho e deu privacidade aos DJs em seus camarins – esta é uma prática que deveria ser copiada por todos os eventos de música eletrônica do país.

Voltando aos palcos, hora de falar dos artistas. Os 41 DJs e produtores do line-up estavam divididos entre os dois palcos de acordo com a sua linha de som: mainstream no Dream Stage e underground no Mystic Stage. Devido ao público da Green Valley ser muito mais ligado aos artistas pop e ao preconceito que algumas pessoas alimentam contra o superclub, o palco alternativo ficou mais vazio que o principal durante toda a festa, com cerca de 10% do público. Uma pena, já que tivemos apresentações memoráveis nele, como os sets de Magda e Dixon e os lives de Gui Boratto e Robert Babicz. Outro que se destacou por lá foi Al Doyle, do Hot Chip, que fez jus à fama do projeto e mostrou que sabe ler a pista e levar qualquer multidão ao delírio.

Do outro lado da festa, muitas surpresas – e uma delas negativa, que você com certeza já ficou sabendo por intermédio do Facebook: o DJ set falhadíssimo do Justice. O que aconteceu foi tão impressionante que fica até difícil de explicar para quem não estava lá, muitos dizem que o público não compreendeu ou era “burro demais” para o som, mas isso não é verdade. Das bocas de pessoas que conhecem a história do Justice e viram suas apresentações no Skol Beats 2008 e Sónar SP 2012: foi um dos piores sets da vida deles. Provavelmente jamais saberemos a razão, mas o duo francês estava no DV com uma imensa má vontade, e descontou sua raiva no público. As atitudes estranhas já eram notadas antes mesmo do set começar, pois durante a coletiva de imprensa eles não esconderam o mau humor e distribuiram coices nos repórteres presentes. Na hora de tocar, um som desconexo que perdurou os 90 minutos de apresentação, mostrando que não houve qualquer leitura de pista. O público ainda se esforçou para gostar, pois apesar do set ter sido horrível como um todo, só depois de 1 hora que as primeiras vaias surgiram, graças a um momento em que eles retornaram 4 vezes na mesma virada, demonstrando que realmente estavam pouco se importando com a reação das mais de 15 mil pessoas à frente deles. É fato que o contexto no qual foram inseridos era péssimo: tocar um som conceitual depois de Zedd e antes de David Guetta não seria fácil, mas um bom DJ conseguiria fazê-lo.

Pois bem, saindo deste momento infeliz e indo para as surpresas positivas, talvez a maior foi Steve Aoki: apesar de ter feito todas as costumeiras palhaçadas (champagne, bolo, bote), o seu som foi mais centrado e sério. Não sabemos se ele está mudando a linha ou foi a responsabilidade de tocar depois do #1 do mundo, mas o fato é que ele tocou um electro mais pesado e dançante. E falando no holandês, Armin van Buuren foi o nome da festa, e mostrou porque sempre está no topo desta lista há anos. Ele assumiu a pista depois de um Calvin Harris bipolar, que alternava entre tracks pesadas recheadas de acid e hits de rádio como Feel So Close e We Found Love, mas não se intimidou: abriu sampleando deadmau5 e usou a primeira hora inteira do seu set só no trabalho de criar a atmosfera perfeita para seu trabalho. Saiu dos 128 bpm e chegou nos 145 bpm com tanta sutileza que o público acompanhou a aceleração e nem mesmo uma chuva forte de 15 minutos conseguiu tirar as pessoas do meio da pista.

No segundo dia, apesar de David Guetta ter lotado a pista, até mesmo o público dele já está começando a se cansar: o comentário geral foi que ele deixou a desejar, e a noite foi “salva” pelos excelentes sets de Zedd e Hardwell, que apesar de tocarem um big room bem comercial, o fazem com mais seriedade e menos cantores pop americanos. Uma observação particular de quem esteve no Creamfields BA uma semana antes: o set de Guetta foi religiosamente igual nos dois eventos. Mesmo tracklist, mesmos pontos de passada, tudo. Se é dead act ou não, deixo para vocês refletirem.

No fim das contas, o Dream Valley foi um evento muito positivo para a cena eletrônica brasileira. Apesar dos deslizes aqui citados, no geral o festival foi muito bem executado e deve ser ainda melhor e atrair ainda mais gente na próxima edição, que já foi garantida pela organização. Confira neste link a cobertura fotográfica completa, com mais de 200 fotos.

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