Edição 2013 do Sónar São Paulo foi cancelada. E agora?

Publicado em 19/03/2013 - Por Mohamad Hajar

Esta semana começou mais triste para os fãs da “música avançada” do Sónar: a edição paulistana do evento, que aconteceria em maio deste ano, foi cancelada.

O fato já era iminente para os mais atentos, pois desde o primeiro dia deste mês, as redes sociais não eram mais atualizadas e a venda de ingressos, inicialmente prometida para fevereiro, ainda não havia sido iniciada. Quando os protestos estavam se iniciando na fanpage do evento, o comunicado abaixo foi publicado:

E além do impacto causado pelo cancelamento do evento em si, mais um alerta foi acionado: o mercado do entretenimento do Brasil estaria em crise? Pode-se dizer que sim, parcialmente. Eventos como o Sónar vivem sim uma crise, mas pela dificuldade de captação de patrocínios. Uma edição como a de 2012, espelhando o formato e tamanho do evento original de Barcelona, precisou de fortes patrocinadores para fechar a conta – Doritos e Samsung assumiram o posto. Esse fato ficou claro com as ações desenvolvidas, desde a embalagem do Doritos levar a marca do Sónar, até intervenções diretas durante a festa.

Em 2013 o patrocínio com estas marcas não foram renovados, e nenhuma outra se prontificou a assumir o mesmo investimento. Resultado? Evento cancelado. Mas afinal, por que as marcas estão fugindo da música eletrônica, se ela está tão “em alta” no momento? Muitos culpam a recente crise do mercado de varejo – com a queda nas vendas, nas grandes marcas o primeiro departamento a ver sua verba encolher é o de marketing, responsável pelos patrocínios deste porte. E se pensarmos nos eventos deste formato, realmente algo está acontecendo: o Ultra Music Festival Brasil, marcado para acontecer agora, em março, foi cancelado sem muitas explicações, mesmo depois de duas edições de sucesso em 2010 e 2011. Dos novos eventos prometidos pela ID&T para o Brasil no ano passado, nada se concretizou ainda: o One Rio, que já deveria ter acontecido em 2012, foi adiado para data indeterminada; o Mysteryland Brasil, prometido para 2013, ainda não tem nenhuma informação divulgada, o que indica que só acontecerá no segundo semestre, se acontecer; o Dirty Dutch então, nunca mais foi citado. Por enquanto, só o Skol Sensation está confirmado, mas este já possui o patrocínio garantido da AmBev, que colocou sua marca no nome do evento.

Mas se o mercado está em crise, aonde está todo este crescimento propagandeado pelos veículos da cena (como nós) nos últimos tempos?

Na cena “independente”, que por mais que envolva cifras enormes, não depende de mega patrocínios para sobreviver. Um dos principais formatos independentes que está em plena expansão, alheio a toda essa “crise”, é o do festival ex-rave. Mesmo os maiores, tidos como “comerciais” pelos seus frequentadores mais antigos, ainda funcionam de forma independente, com patrocínios pontuais e menores. Isso acontece com naturalidade devido à sua raíz: no início da década passada, quando a maioria surgiu, conseguir patrocínio de uma distribuidora de bebidas já era um grande feito. Dessa forma, todos os organizadores cresceram montando planejamentos para obter retorno direto no evento, tenha patrocínio ou não.

O resultado é o crescimento orgânico e saudável de uma cena que já tem mais de uma década de história. O estilo musical mudou? Bastante. Os frequentadores mudaram? Parcialmente. Mas hoje uma Kaballah consegue montar seu evento dentro do Hopi Hari, com gente do tamanho e respeito de Sven Vath, Booka Shade, Wolfgang Gartner, KiNK, Green Velvet, e fechar a conta toda sem um mega patrocínio. No ano passado a Tribaltech obteve êxito em sua “última edição da história”: com um dos melhores line-ups undergrounds do ano, com Dubfire, Magda, Dave Clarke, Danny Daze, Pillowtalk, recebeu seu público recorde de 20 mil pessoas. A marca deverá ser aposentada, mas a organizadora T2 Eventos vem com um novo evento forte no segundo semestre, conforme já confirmado por eles mesmos.

Outro mercado “auto-sustentável” é o de Baln. Camboriú: mesmo com três casas de grande porte (Warung, Green Valley e Space), durante a última “alta-temporada” todas elas conseguiram bons públicos, com artistas de primeira linha como Tiesto, Fatboy Slim, Avicii, Hardwell, Richie Hawtin, Ricardo Villalobos, Carl Cox. Isso já está se refletindo no mercado dos arredores – desde o interior do estado, com Adore e Caramba’s, passando pelo litoral do El Fortin e Bali Hai, e chegando até à capital Florianópolis, com a Pacha Floripa e o festival Creamfields.

O Creamfields é um exemplo curioso: foi duramente criticado por ser muito menor que a edição de Buenos Aires, mas talvez isso tenha evitado um cancelamento como o do Sónar. Com duas pistas, sendo uma assinada por uma marca tradicional da região (Warung), o Creamfields sabe aonde está pisando, e sabe que terá que crescer aos poucos se quiser emplacar no país.

Diante disso, fica a análise: não adianta tentar enfiar “goela abaixo” o que o público brasileiro ainda não aceitou. Se o Sónar tivesse vindo com uma edição menor, mais adequada para o tamanho do público brasileiro que já se interessa pela “música avançada”, provavelmente seria mais sustentável – e não seria cancelada, mesmo sem os grandes patrocínios.

No fim, por tentarmos ter um mega Sónar, acabamos ficando sem nenhum.

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