Entrevista: Electrypnose

Publicado em 01/10/2015 - Por Marina Tavares

Foto: Aleka Fotografia

Marina Tavares – Quando foi o seu primeiro contato com a música eletrônica?

Electrypnose – Eu acho que foi com 15 anos, com música comercial… Você conhece Hardcore?

Marina Tavares – Sim!

Electrypnose – Foi com Hardcore… Um amigo me mostrou um CD, eu não estava muito interessado. Quando estava mais interessado foi com Drum and Bass. O Techno e Trance que tínhamos na Europa era muito comercial, tipo aquelas bandas da MTV, eu não gostava… Então, eu descobri German Bass e Lounge Music. 

 

Marina Tavares – Como foi o início da sua carreira?

Electrypnose – É uma longa história…

Marina Tavares – Nós temos tempo (risos).

Electrypnose – Se leva muito tempo para se desenvolver uma carreira… Eu descobri o Goa Trance com esse amigo que você conheceu aqui no festival, o Psyberpunk… Ele estava organizando algumas festas.

Quando eu era criança, estudei música clássica… Depois, eu estudei música eletrônica profissionalmente. Então, eu descobri o Trance, nas festas que esse amigo fazia.

Tudo isso me levou a tocar em softwares, onde você pode produzir música eletrônica… Eu comecei a produzi, tentei por três anos, e então, mostrei o meu trabalho na Internet. A Internet é uma grande ajuda para ter o seu trabalho exposto para outras pessoas… Antes da Internet, você podia tocar apenas para seus amigos. Com a Internet, você pode mostrar o seu trabalho para pessoas do mundo inteiro.

Após algum tempo produzindo e compartilhando o meu trabalho na Internet, as pessoas começaram a ficar interessadas.

Foto: Yonatan Benakas

Marina Tavares – Quem foram as suas influências?

Electrypnose – Muitas! Eu amo vários artistas, depende em qual estilo, porque gosto de muitos gêneros… Eu não produzo apenas um gênero, estou interessado em música em geral. Então, eu acho que tenho muitas influências, que vem de todos os estilos, e faço um grande mix.

É difícil dizer apenas alguns nomes, mas, os projetos antigos do Trance, eu posso mencionar Simon Posford, Infected Mushroom nos tempos que era uma grande influência, Hux Flux, Absolum… Essa é uma boa pergunta! Essas foram as influências do passado.

Agora as influências são o tipo de música da Zenon Records, como: Grouch, Merkaba, Sensient… Eles estão realmente me inspirando! Eu gosto desse estilo Deep Progressive, e poderia mencionar muito mais…

Eu ainda ouço música clássica, é uma grande influência! Não é diretamente ligado ao Trance, mas, é incrível!

 

Marina Tavares – Como você define a sua música? Porque para mim é um mix de tantos sons diferentes.

Electrypnose – Como você disse, é um mix de sons diferentes… Então, como eu posso definir um mix de sons diferentes?

Têm muitas dessas influências diferentes, e ainda acho que, muitas vezes, você pode colocar uma categoria… Mas, se eu fizer uma track nessa categoria, irá ter outras influências de outras categorias… Eu gosto de viajar nos gêneros, ou talvez mixar algo que irá começar feliz e engraçado, e então mudar para algo Dark e sério… É muito legal brincar com todos esses humores, a música tem muitos humores para expressar, e todos eles você pode colocar na música. Para mim, a música expressa todos os humores que temos, como: feliz, triste, bravo, alegre… Você pode colocar tudo na música! É claro, em um pedaço da música, eu quero fazer algo mais como isso ou como aquilo, mas posso viajar… Começar feliz e terminar triste… Você pode fazer tudo , então, só depende de você.

Eu posso definir como experimental. Às vezes, é difícil, porque não mantenho uma linha, eu não me encaixo em uma categoria, apenas faço tudo… Então, eu não posso categorizar… É Techno, Electronic Bass, tudo isso!

Eu vivo para as pessoas, e faço a música, então, vou deixar elas decidirem o que é… Isso faz sentido!

Marina Tavares – Como foi tocar no Samsara Festival?

Electrypnose – O Samsara foi uma experiência muito legal! Eu estava surpreso, pois, não vinha ao Brasil por alguns anos… Eu acho que estava um pouco cansado da cena brasileira, porque estava muito comercial… E como não vim aqui nos últimos anos, as pessoas estavam me dizendo que a cena estava se reerguendo, tocando músicas melhores, então, eu queria muito voltar.

Foi um festival muito bom, a seleção das músicas foi algumas vezes ainda um pouco comercial, mas não muito, no geral rolou muita música boa. Então, definitivamente, eu curti muito! Foi um festival com boas pessoas e boa energia! Eu mal posso esperar para voltar nos próximos anos, só para ver o que irá acontecer.

Foto: Aleka Fotografia

 

Foto: Aleka Fotografia

Foto: Aleka Fotografia

Vídeo: UP Audiovisual

Marina Tavares – Fale-me um pouco sobre a Zenon Records. Como é fazer parte da gravadora?

Electrypnose – A Zenon é uma gravadora que alguns amigos me mostraram há muitos anos, eu não estava tão interessado… Mas o interesse pela música veio aos poucos… Há alguns anos, eu achei muito interessante algumas músicas que foram lançadas pela Zenon, e comecei a conhecer parte dos artistas que estavam lançando música pela gravadora… Nos tornamos amigos, e a música começou a me interessar, cada vez mais, até que, eu quis colocar essa influência na minha expressão musical.

Electrypnose – Você sabe que o dono é o Tim Sensient?

Marina Tavares – Sim!

Electrypnose – Nós conversamos sobre lançar algumas músicas, ele estava interessado em meu trabalho, e estava tocando algumas das minhas tracks… Então, eu disse que gostaria de lançar um álbum na gravadora, produzido completamente no estilo. Ele estava feliz comigo, abriu as portas, e disse: “Você é muito bem vindo para lançar com nós”. E é o que está acontecendo agora, eu estou lançando um álbum pela Zenon Records.

 

Marina Tavares – Fale-me um pouco sobre este álbum.

Electrypnose – Está sendo um processo difícil (risos)… Há quatro anos, eu comecei a construir um estúdio, onde investi muita energia e dinheiro, foi um lugar muito legal para produzir e dar aulas… Eu gosto de ensinar produção, foi um grande projeto, e após um ano e meio, aconteceu um incêndio, e tudo foi destruído.

E agora, após dois anos, eu estou meio que reconstruindo por mim mesmo, achei um novo lugar, e tentei reconstruir tudo com um conceito diferente. Eu sinto que, ainda não estou pronto para voltar a produzir tão bem quanto costumava, mas, ainda estou produzindo, tentando fazer o meu melhor. Este álbum foi produzido em condições difíceis.

Eu estou feliz com ele, mas, acho que poderia ser melhor… É isso que estou trabalhando, reconstruir o estúdio, poderia ser mais pessoal… Acabei de me mudar para uma casa antiga de família, e estou não apenas reconstruindo o estúdio, eu estou reformando toda a casa. É esse o trabalho que estou fazendo, reconstruindo a casa, o estúdio, e tentando fazer música boa.

Marina Tavares – Como é a cena eletrônica na Suíça?

Electrypnose – A cena é muito ativa, lá você encontra todos os gêneros. A cena Trance é pequena e grande ao mesmo tempo, na maioria das vezes temos festas pequenas, não temos muitos festivais grandes como esse, talvez um ou dois… A cena Progressiva na Suíça é uma grande parte alemã, uma pequena parte francesa, e uma parte ainda menor italiana… Então, é dividida, a parte alemã tem muito da cena Progressive; a parte francesa tem mais da cena Hi-Tech, Dark e Trance; e ainda tem uma pequena parte Progressive Minimal Techno; tudo isso junto. Atualmente, nós temos muitas festas legais, mas pequenas.

A cena comercial está ficando maior, que não é o meu campo. Eu estou muito mais envolvido na cena Underground, não quero ser um DJ famoso e estrela.

 

Marina Tavares – O que você acha da cena eletrônica brasileira?

Electrypnose – Tem uma cena gigante comercial, que não é para mim… Eu respeito totalmente, mas a cena que estou interessado é mais Freak e Underground.

Eu acho que tem uma cena para essa música, e a minha música, mas não é a cena principal, é muito legal e bem aceita, como nos grandes festivais… Eu lembro quando o Universo Paralello começou a trazer artistas como Psykovsky e Kindzadza, projetos loucos… Algumas pessoas realmente gostaram! Tem um bom balanço, boa música… Existe uma grande comunidade, um grande público na cena eletrônica, as pessoas gostam de vir para os festivais. Muitos anos atrás, era um lugar que todos os artistas europeus queriam vir, por causa dos festivais incríveis, lugares maravilhosos, a praia, o sol…

 

Marina Tavares – Quais são as expectativas para o Universo Paralello Festival?

Electrypnose – Eu estou muito curioso, porque o festival cresceu muito desde a última vez que estive lá… Eu espero que seja como uma versão menor do Boom Festival na praia, algo assim… Acho que será ótimo, eu tenho certeza! Tem muita música diferente, o jeito que a organização constrói o festival, a decoração, com um grande padrão de qualidade… Então, eu espero que seja muito bom!

 

Marina Tavares – Existe algum lugar que você nunca tenha se apresentado e realmente queria tocar?

Electrypnose – Japão! Eu nunca estive no Japão… Talvez seja o único país que consiga me lembrar… Não que já tenha ido a todos os lugares, eu nunca fui à Tailândia também… Tailândia e Japão são os dois lugares que estão faltando, que me lembre.

Eu quero ir, mas, já vi lugares o bastante para estar feliz, estou muito satisfeito com o que vi até agora… Então, eu não anseio em estar lá, apenas seria legal se acontecesse. Depende se as pessoas de lá querem ouvir a minha música.

 

Marina Tavares – Onde foi a apresentação que mais te marcou?

Electrypnose – Tem sido em todos os lugares, são sempre experiências diferentes, às vezes, alguma festa que realmente gostei foi pequena com cem pessoas, e às vezes, foi grande com mil pessoas. Todas são experiências muito legais, é muito difícil dizer: “Essa foi a melhor…”, porque você pode ter a mesma energia em uma festa pequena, quanto em uma festa grande… Então, eu não sei, todas são ótimas experiências… Eu não posso escolher uma que foi a melhor.

Eu organizei uma festa nas montanhas na Suíça, que foi um momento muito legal!  

Marina Tavares – Já aconteceu alguma situação engraçada enquanto você estava se apresentando?

Electrypnose – Engraçada eu não sei… Já tive problemas com o computador, o que faz você se sentir muito mal quando acontece, você não pode lidar com problemas técnicos, e os grandes problemas fazem você parar completamente.

 

Marina Tavares – Quais são os seus hobbies quando você não está produzindo ou em turnê?

Electrypnose – Eu estou fazendo o trabalho manual de construção após reformar a casa, construindo o estúdio, aprendendo sobre tratamento acústico, como lidar com matemática acústica, tudo isso é muito interessante, carpintaria, construindo portas, janelas, paredes…

Eu gosto de escalar montanhas, jogar Ping Pong com amigos…

Eu tenho pensamentos alternativos, sou ativista, tento reduzir um pouco a ganância, tentando consumir menos, ganhar menos dinheiro, fazer mais coisas por mim mesmo, plantar vegetais no meu jardim, coletar água da chuva… Eu tento ter esse tipo de estilo de vida na comunidade, vivendo com amigos, fazendo o bem, não apenas estando no sistema, talvez longe dele, criando arte… A arte que eu faço com a música, algumas pessoas fazem com pintura, decoração…

Eu não acho tempo o bastante para fazer o que quero.

 

Marina Tavares – Quais são as novidades em relação à turnê e lançamentos?

Electrypnose – Eu acabei de lançar um álbum pela Zenon Records. Eu tenho muitas músicas que ainda não estão prontas, preciso terminar, e quero lançar… Eu não sei quanto tempo levarei.

Eu irei tirar um intervalo de mais ou menos um ano… Eu acho que você pode imaginar a história, construí o estúdio, tudo queimou, me mudei para um lugar novo, e preciso meio que reconstruir a mim mesmo… Então, esse será o meu foco principal, nesse tempo irei preparar mais músicas, tentando focar na reconstrução, e depois disso tudo, eu estarei de volta. Então, será um pequeno tempo fora da cena.

 

Marina Tavares – Para finalizar deixe uma mensagem para os seus fãs brasileiros.

Eletrypnose – Eu amo vir aqui, e espero voltar mais vezes… É um prazer ser convidado para esses lugares, descobrir o mundo, tocando a minha música, e fazendo a minha própria arte… Tocar para pessoas ao redor do mundo, especialmente no Brasil. Dividir o que você faz é a melhor coisa que você pode fazer, eu tento deixar a minha arte, nós temos que deixar isso para o mundo… Eu ainda tento ganhar o meu dinheiro, mas, a melhor parte é conhecer pessoas, ver o mundo!

Eu estou muito feliz e agradecido, porque os brasileiros têm interesse no que estou fazendo, e espero trazer mais para vocês. Obrigado!                         

 

Interview in English here:

Conheça mais sobre o artista:

http://www.electrypnose.com/

https://www.facebook.com/Electrypnose

https://soundcloud.com/electrypnose

https://www.youtube.com/user/lebarde1

 

Fotos

Aleka Fotografia

https://www.facebook.com/AlekaFotografia

 

Yonatan Benaksas

https://www.facebook.com/yonatanbphotography

 

Vídeo

UP Audiovisual

https://www.facebook.com/Upteamvideo

https://www.youtube.com/user/upteamvideobr

 

[products limit="8" orderby="rand" order="rand"]