Periodicamente, “especialistas” nas mais diversas áreas costumam falar grandes bobagens na TV ou nos jornais. Eventualmente, um deles se supera, como aconteceu na Rússia, há alguns dias. Segundo o jornal O Globo, Yevgeny Bryun, uma “autoridade no combate às drogas”, declarou em uma entrevista coletiva que a apologia às drogas feita pelos Beatles nos anos 60 foi (e continua sendo) o principal fator responsável pela popularização do consumo de drogas: “Quando os Beatles foram expandir suas consciências na Índia, eles apresentaram à população a ideia de modificar o estado psíquico da mente usando drogas. Quando a indústria entendeu que podia fazer negócios com isso — prazer e produtos associados ao prazer — provavelmente foi aí que tudo começou.”
Daí a necessidade, segundo Bryun, de medidas de combate à cultura de massa e a qualquer tipo de publicidade que faça apologia ao uso de drogas. Entenda por “publicidade” qualquer música, livro, vídeo ou outra produção que faça alguma referência à drogas ilícitas. Praticamente um Farenheit 451.
Que os Beatles utilizavam drogas lícitas e ilícitas para se divertir e até mesmo compor músicas, não é nenhum segredo (seus pais sabem disso, certo?). O próprio Paul McCartney admitiu que Got To Get You Into My Life falava sobre maconha, por sinal, apresentada aos ingleses por Bob Dylan. Day Tripper fazia alusão ao consumo de ácido. Isso sem falar na mais célebre das suas composições psicodélicas, Lucy In The Sky With Diamonds, que faz clara referência ao LSD.
As músicas dos Beatles chegaram a ser banidas da União Soviética durante a Guerra Fria, pois o Kremlin considerava suas letras como uma péssima influência cultural para os jovens. De acordo com o jornal britânico The Telegraph, a gravadora estatal da URSS, Melodiya, chegou a anunciar que “músicos como esses, que mergulharam fundo na decadência musical, não merecem espaço nas gravações soviéticas”.
O que Yevgeny parece não entender é que eles estavam justamente sendo influenciados pelo comportamento de sua geração, e não o contrário. Além disso, a declaração do “especialista” só prova que, quando se quer combater/perseguir algo, qualquer coisa pode servir como argumento. Até mesmo os Beatles.
Ironia 1: o ex-presidente russo, Vladimir Putin, é um fã declarado da banda e chegou a se encontrar em 2003 com Paul McCartney quando este tocou Back in the USSR na Praça Vermelha.
Ironia 2: a Rússia está entre os países que mais sofrem com o consumo abusivo de álcool. Em média, os russos bebem o equivalente a 18 litros de bebida alcoólica por ano, contra 5 litros de média mundial.
—
Fonte: O Globo