Kaballah acerta ao fazer edição no Hopi Hari, e leva 20 mil pessoas ao delírio

Publicado em 09/05/2013 - Por Psicodelia.org

No último final de semana, o Brasil pôde conhecer um novo formato de festa. A edição de 10 anos da Kaballah foi o primeiro festival a acontecer dentro de um grande parque de diversões – o Hopi Hari, no caso. Lançado no final do ano passado, em meio a natal e ano novo, o novo formato ganhou adesão incondicional do público, com um sold out em tempo recorde: 3 semanas antes do evento os 19.100 ingressos esgotaram-se. Na semana do evento o lote da portaria foi liberado para venda antecipada, e mais 900 pessoas garantiram o “Passaporti” para a “festa das festas”, por módicos R$ 300,00 (pista).

A ansiedade do público era grande, tendo o Facebook como termômetro – só se falava disso nos últimos dias. O problema de criar uma expectativa tão grande é que a obrigação de corresponder é ainda maior. E será que a Kaballah deu conta de tudo o que esperávamos dela? Vamos descobrir.

UMA NOVA EXPERIÊNCIA

Ao chegar no evento, já era claro que seria uma experiência inédita. Ficou claro que organização do evento estava investindo pesado no storytelling, ou seja, em desenvolver a festa como uma história, envolvendo o público em um ambiente muito maior que o de uma simples festa de música eletrônica. Ponto este que é crucial para o sucesso de marcas como Tomorrowland – exatamente o que as cópias nacionais não copiam direito.

Para tanto, o ambiente do parque já ajudou muito: muito mais do que um simples parque, o Hopi Hari se apresenta como um país – inclusive com idioma próprio, o Hopês – e durante a Kaballah pôde-se “entrar nessa pira“, e passar um dia diferente nesse tal país. Um reflexo bastante positivo dessa proposta ficava claro quando mudávamos de um palco para o outro: mesmo longe do som, ainda assim era possível sentir-se envolvido pela festa e suas diversas atrações.

Vejam só a entrada do parque (ou a imigração, se assim preferirem):

Depois de entrar, explorar o ambiente e observar o mapa, passamos a encarar cada palco como uma cidade diferente a ser visitada – afinal cada um tinha uma idendidade bem clara, graças à decoração do parque. Elementos, inclusive, muito bem aproveitados pela temática e decoração da festa.

O palco de Psytrance foi instalado na região do parque com temática de velho oeste, tornando-se assim o Psychedelic Wild West…

…a rua central, com largas calçadas e vista para a roda gigante, abrigou o House Parade…

…já nos arredores do Palácio da Justiça, encontramos o palco Techno Heroes…

…e o palco principal, no meio disso tudo.

Até mesmo áreas não exploradas pelos palcos acabaram fazendo parte da rota das pessoas, como o ponto de encontro na La Tour Eiffel ou no chafariz do Charada Verde.

Apesar do domínio conceitual do parque, o circo da Kaballah se fez presente, tanto na decoração do palco em si, como nas intervenções artísticas, principalmente no período da tarde.


Alô criançada, o circo chegou!

Uma coisa que deixou muitas pessoas decepcionadas foi o funcionamento dos (poucos) brinquedos por um espaço de tempo muito limitado. Algumas das atrações mais tradicionais do parque, como o Katabul e o Elevador (Torre) sequer abriram. Já a concorrida montanha russa decepcionou muita gente ao encerrar suas atividades prematuramente, às 17:30.

Segundo a organização do evento, a razão para isso foi a segurança – teoricamente, quanto mais a festa avança, mais malucas as pessoas ficam e maior é o risco de algo dar errado. Pelo mesmo motivo, a venda de bebidas alcoólicas só foi liberada às 18:00, o que também revoltou algumas pessoas presentes.

Mas falando em bebidas, algo que surpreendeu a todos e foi recebido com muita gratidão por parte do público foi a liberação dos bebedouros do parque. A água custava R$ 7,00, mas era preciso comprar apenas uma, e seguir abastecendo nos diversos bebedouros espalhados pelo parque.


Open água é muito melhor que open bar 😉

Os preços dos bares estavam na média dos grandes eventos atuais – todos em múltiplos de 7. Já para a alimentação, uma realidade um pouco diferente. Por ter sido operacionalizada pelo parque, que não possuía experiência com este tipo de evento, o preço das comidas em geral estava exagerado. Um micro-hamburguer, acompanhado de meia-dúzia de batatas-fritas e um refrigerante 500ml estava custando R$ 21,00. Procurando algo mais saudável? O restaurante do parque estava aberto, por módicos R$ 60,00 / pessoa. Um problema sério a ser sanado caso desejem repetir a dose, uma vez que a alimentação torna-se algo essencial em um evento com 20 horas de duração.

Salvou-se quem levou bastante comida industrializada de casa – a revista da festa foi extremamente branda, e liberou a maioria das coisas que foram levadas, exceto guarda-chuvas da Oakley, que pela primeira vez em anos não foram avistados durante o evento =).

 
Único umbrella avistado durante todo o evento.

Passando agora para o musical, a Kaballah Circus teve atrações para agradar a gregos e troianos. Os quatro palcos do evento cobriram praticamente todos os gostos do público “pós-rave”:

Main Stage

Montado no gramado ao lado da Giranda Mundi (roda gigante do parque), apresentava sons ligados a electro house, big room e uma pitada de dubstep. Pode-se dizer que o palco principal seguiu a escola Tomorrowland (ainda mais sendo encabeçado por Dimitri Vegas & Like Mike), mas valorizando vários nomes do electro nacional, como E-Cologyk, Alex Mind, The Kickstarts e Digitalchord – que fez uma apresentação memóravel, com direito a controle total da platéia e homenagem ao Chorão, do Charlie Brown Jr, momento que levou o público à loucura.

Além deles, o Felguk também representou o país durante a madrugada, como um dos headliners do evento, porém já sem o mesmo brilho que empolgava os fãs de 2 ou 3 anos atrás. Entre os gringos, destaque positivo para Wolfgang Gartner e principalmente para Joachim Garraud, que marcou o ponto alto da noite com seu grande carisma, criatividade e absoluto domínio sobre o público.

O destaque negativo ficou para a grande repetição de músicas manjadas, como Internet Friends e os diversos hits do big room que dominam os sets do estilo. Era comum estar só de passagem pelo palco, e ouvir uma música pela segunda ou terceira vez no dia. Os belgas Dimitri Vegas e Like Mike empolgaram o público, mas também tiveram sua apresentação marcada por exageros que destoavam do clima da festa, como o excesso de gritos no microfone, referências exageradas ao Tomorrowland e momentos em que tiravam a camisa, sem contar no palco, que parecia tão cheio de gente quanto à pista. De certa forma, foi um verdadeiro circo.

Techno Heroes

Um palco imponente e bonito, inserido em uma das áreas mais divertidas do parque – uma pena que tenha ficado isolado do resto da festa. Já no começo da tarde, os brasileiros Alex Stein, Eli Iwasa, DJ Anna e Click Box trataram de lotar o palco, que acabou se dispersando diante do live introspectivo de Minilogue, que apesar de ser muito bom, acabou fora de contexto.

O minimal groovado de Gaiser que reviveu a pista, que tratou de ser destruída pelo tech house loopado de Popof logo em seguida. Para salvar o começo da madrugada, o versus entre os DJs Murphy e Mandraks atropelou a pista com o techno pesado que resultou da união dos dois.

Green Velvet, Victor Ruiz e Christian Smith fizeram boas apresentações, mas sem grandes surpresas. No fim das contas, Sven Vath mais uma vez foi o destaque maior, fazendo o dia amanhecer de forma memorável, com seu set de 4 horas de duração.

Psychedelic Wild West

Instalado no corredor do Velho Oeste, o palco de Psytrance pareceu ser o menos favorecido entre todos, ao menos no que se refere à estrutura. Havia pouca iluminação e pouco espaço para o público que se apertava para ver seus artistas favoritos, que se apresentavam em um palco mais acanhado se comparado aos demais.

No entanto, isso não diminuiu a empolgação do público que rasgou elogios para o sempre competente Element e, mais tarde, para o israelense Ritmo. Na sequência, Captain Hook agradou como de costume e o alemão Fabio Fusco, com sua performance cheia de energia, arrancou gritos histéricos dos fãs.

Já Ace Ventura e Liquid Soul, apesar de sua indiscutível qualidade, não chamaram tanto a atenção individualmente. Mas bastou subirem ao palco como Liquid Ace para fazer o público voltar a colar nas caixas de som, já ao amanhecer. Son Kite fechou o palco mantendo o nível de seus antecessores, garantindo a completa satisfação da galera do Psy.

 

House Parade

Essa é a tenda do house e do deep house – mas apostando em nomes bem diferentes dos que os adoradores do Warung estão acostumados a venerar. Por aqui, nada de Solomun, Jamie Jones, Kolombo ou Lee Foss. De clássicos como o Booka Shade a novidades como Justin Martin e Cajmere, o palco apresentou muita qualidade musical.

Talentos nacionais como Fabo, Pornrobot e DJ Glen deixaram a pista cheia cedo, e o pico foi na madrugada, com Amine Edge & Dance, Booka Shade e o live de KiNK. Mesclando um enorme carisma com uma técnica de cair o queixo, o produtor búlgaro envolveu a pista com sua música, e hipnotizou a todos os presentes por uma hora e meia. Uma aula de como fazer música ao vivo.

Butch bancou o Moisés da noite, apresentando um som repetitivo logo após o live completamente dinâmico de KiNK. No encerramento da pista, Cajmere apresentou um set competente, digno do palco.

No geral, é impossível negar: foi uma das melhores festas já realizadas no país. O feedback durante essa semana é de pessoas que se divertiram muito, conheceram novos ídolos e estão ansiosas para a edição 2014 – confirmada já para acontecer no parque novamente. Finalmente, uma fórmula balanceada misturando parque de diversões e festival de música eletrônica.

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