Opinião: o marketing e o Psy Trance

Publicado em 05/10/2016 - Por

Marketing relacionado ao contexto do Psytrance tem se tornado um assunto bastante polêmico. Por um lado, o crescimento da cena desperta cada vez mais em artistas, agências e festas o desejo de trabalharem suas marcas de forma mais correta do ponto de vista publicitário: um conceito diferenciado, uma comunicação criativa, imagens de qualidade e postura cuidadosamente pensada nas redes sociais geralmente fazem parte do pacote.

Porém, há também uma parcela considerável do público que costuma criticar a influência do marketing, apontando como principal efeito colateral – e indesejado – uma suposta “perda da essência” da cena (conceito amplo e que pode significar muitas coisas, mas aí já é assunto para outro post).

Se pararmos para analisar o histórico do Psytrance não é difícil entender essa resistência. Os festivais open air, que são a base dessa cena, evoluíram com base em valores diferentes de boa parte daquilo que se vê em outros estilos de música eletrônica “nascidos e criados” em clubs fechados.

Muito daquilo que caracteriza a cena Psytrance vai na contramão do que se considera normal e correto do ponto de vista comercial em outros contextos. Aliás, “comercial” aqui é uma palavra que é evitada a todo custo.

Nesses festivais, em que se reforça a todo tempo valores como a simplicidade, união e vida em comunidade, a idéia de auto promoção pode soar para muita gente como algo quase alienígena. Enquanto muitos DJs de Techno, House e EDM se preocupam em aprender desde cedo oque precisam saber para se vender, no Psytrance não é raro encontrarmos artistas reconhecidos que não possuem nem um press kit (por pura convicção).

Para parte da cena – e aqui podemos misturar público, DJs e núcleos de festa -, o Psytrance e seus artistas não nasceram para serem comercializados como outros estilos. Há sempre aquele receio de que se os festivais se tornem mais populares, acabem virando um desfile de DJs fanfarrões e público no camarote ostentando bebida que pisca.

Ao mesmo tempo em que esse receio é pertinente, traz consigo um paradoxo: para viver de sua arte, um DJ precisa se promover. Um festival, para crescer e se sustentar, precisa comercializar sua marca. O que nos leva à questão fundamental: qual é o limite do marketing no Psytrance?

Para tentar entender melhor essa questão, o Psicodelia pediu a opinião de algumas pessoas que vivem o dia a dia a cena psicodélica brasileira. Perguntamos o seguinte:

Na cena de Psytrance ainda existem excelentes artistas e festivais que carecem de profissionalismo na área de marketing. Você acha que nesse meio ainda há preconceito com quem investe em marketing? Por quê?

 

Capital Monkey – Atha Jonatha Yunoki

https://www.facebook.com/capitalmonkey

“Acredito que existe uma certa carência sim. Mas hoje o Psytrance é dividido em vários gêneros. Isso quer dizer: existe o Psytrance comercial e festas comerciais no gênero, que sabem usar muito bem o marketing, tanto artista quanto a festa. Mas geralmente esses tipos de festas são julgadas pelas mesmas pessoas do Psytrance só que por sua vez o Psytrance “underground”. Esse gênero dentro do Psytrance, as pessoas preferem realmente não usar o meio do marketing. Querem manter a imagem da raiz do gênero, o que eu respeito muito. Mas hoje com o crescimento disparado da cena, a cada dia que passa esse tabu está sendo quebrado, lembro que em meados de 2006 o artista nem presskit tinha porque realmente não era necessário. Se você colocasse uma foto no flyer você já estava deixando de ser ‘underground’ “.

 

Kaliom – Edson Richard

https://goo.gl/s2IYOP

“Com certeza há essa carência, muitos eventos e profissionais estão ainda deixando a desejar no Marketing, um pouco por falta de informação e capacitação profissional, e lógico, muitos ainda por preconceito sim. É fácil notar que muitos dos que criticam o marketing pessoal, são profissionais que defendem uma visão de essência antiquada, gerando assim o preconceito contra aqueles que querem evoluir a cena.

Ninguém perde a essência por ter uma boa imagem e um bom trabalho de marketing, por ser muito conhecido dentro e fora do mundo Psy. O Trance é lindo, e todos deveriam ter a oportunidade de conhecê-lo, mas somente com profissionais bem apresentados isso poderá acontecer.

Desta forma acredito que o preconceito está sim, bem enraizado em pessoas que pensam que o verdadeiro Psy tem que ser altamente underground, mas esquecem que o verdadeiro underground é o novo, o inovador, aquilo que ninguém viu ainda”.

 

Yuri Phalcom – Terra em Transe

https://www.facebook.com/phalcohm

“Acredito que dependendo do tipo de marketing e do tipo de evento exista preconceito sim. Caso uma festa ou festival underground, não-comercial utilize ferramentas não muito sutis, acredito que o público em geral se sentirá invadido ou dissimulado, pois geralmente a comunicação entre público e o evento ocorre de maneira mais subliminar, menos explícita, discreta e distoante de qualquer padrão de comunicação mainstream, como ocorre em festas mais comerciais.

Em relação ao marketing de artistas acho que varia muito do estilo e do posicionamento do proprio artista. Alguns estilos de psytrance aceitam e abraçam com mais naturalidade as publicidades e ações de marketing do que outros estilos. Penso que é possivel trabalhar o marketing em artistas underground e artistas mainstream, porém são abordagens completamente diferentes, mesmo porque o mainstream necessita de uma participação mais ativa e massiva das ações de marketing e publicidade e o underground nem sempre”.

 

Synthatic – Vinícius Ferreira

https://www.facebook.com/synthaticmusic

“Acredito que ainda exista esse preconceito, mas está diminuindo cada vez mais. Há um tempo atrás os artistas e festivais não precisavam fazer muito investimento para conseguir uma boa visualização do seu trabalho/evento e hoje acabam continuando com esse tipo de pensamento. Sinceramente eu não sei porque esse preconceito ainda existe, pois o marketing evoluiu juntamente com o aumento do profissionalismo da cena e a evolução das mídias sociais, fazendo dele algo presente e obrigatório ao trabalho de todos. Não vejo isso como algo ruim, pois faz parte da constante mudança em que vivemos. Acredito que o produto/conteúdo que o artista/festival têm a oferecer será sempre o principal e a base de tudo, mas sem um bom marketing esse produto pode ficar escondido”.

 

E você, o que pensa sobre o assunto?

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