Psicodália: 5 dias de paz, amor, respeito e união

Publicado em 19/02/2016 - Por Psicodelia.org

“Wagneeeeeeeeeeeeeeeeeeeerrr!!!!”

Era o grito que se ouvia logo ao chegarmos no acampamento do Psicodália na sexta-feira à noite. E foi o grito que ecoou pelos campings durante todos os dias de festival, a qualquer hora do dia ou da noite. O Psicodália é definitivamente um lugar diferente de tudo. Mesmo para quem está habituado a frequentar festivais de música eletrônica, aquele ambiente era diferente. E isso era incrivelmente bom. 

Durante os 5 dias do feriado de Carnaval, diversos artistas consagrados, cultuados e iniciantes, se revezaram nos quatro palcos do festival: Lunar, do Sol, Guerreiros e Livre, que recebeu inscrições na hora. Juntos, reuniram mais de 300 artistas, que proporcionaram os mais variados shows. Elza Soares, Nação Zumbi, Naná Vasconcelos e Steppenwolf foram os principais nomes da programação, que levou mais de cinco mil pessoas a montarem um mar de barracas ao longo das encostas da Fazenda Evaristo.

Para que tudo funcionasse direitinho, cerca de 600 profissionais, entre segurança, limpeza, produção, alimentação, assessoria de imprensa, iluminação, som e monitores, se revezaram em um trabalho ininterrupto para manter uma minicidade funcionando 24 horas por dia.

Um festival confortável e acessível

A diferença do Psicodália começa pela política de bebidas e alimentação: lá você é livre para levar sua comida e também sua bebida. Cerveja, vinho, vodka, catuaba, à vontade. A organização só pede para que se evite levar garrafas de vidro. Isso por si só já é algo fantástico, pois torna o festival muito mais acessível e ao mesmo tempo desmoraliza qualquer festa que cobre preços exorbitantes das bebidas com a justificativa de viabilizar o evento.

Além da cozinha comunitária utilizada por quem preferiu preparar sua própria comida, havia uma excelente estrutura de bar com opções de chopp e cerveja, uma grande praça de alimentação com opções de lanches, salgados, café e comida vegana.

Para garantir o completo conforto, havia uma mercearia com diversos ítens de conveniência e higiene pessoal como sacos de gelo, frutas, escova de dentes, papel higiênico, entre outros.

 

Segurança e praticidade

Ao invés de fichas de papel, o festival disponibilizou cartões para a compra de produtos dentro do evento. Bastava ir ao caixa, carregar seu cartão com “dálias” (a moeda local) e gastar. Utilizar um único cartão de plástico(idêntico a um cartão de banco) é muito mais prático que dezenas de fichas e, em caso de perda, bastava ir ao caixa, cancelar o cartão perdido e pegar um novo. Mais um ponto para o festival.

 

Sustentabilidade

O Psicodália coloca o tema sustentabilidade realmente em prática. Não existiam copos descartáveis no festival. Ao invés disso, o público era incentivado a comprar o copo “oficial do evento” por apenas R$ 5,00. Além de uma bela recordação, essa ação simples serviu para promover o uso consciente em todos os dias de evento. Também havia lixeiras o sificiente e em locais estratégicos, bem sinalizadas e organizadas: algumas especiais apenas para as latinhas e outras separando os recicláveis dos orgânicos. O festival também contava com banheiros ecológicos que ao invés de utilizaram produtos químicos continham apenas serragem, que funcionou perfeitamente bem para cortar qualquer tipo de cheiro.

Diversão

Além da música, o Psicodália oferecia outras formas de diversão na forma de atividades alternativas que tomavam conta do local. Havia uma área dedicada à prática de slackline, com vários deles espalhados entre as árvores, com vários níveis de dificuldade e um profissional ajudando a galera que ainda não conhecia o esporte. E uma tirolesa com mais de 30 metros de altura de tirar o fôlego. Cada descida custava R$30,00.

E claro, durante todos os dias havia diversas atividades coletivas e lúdicas como aulas de alongamento, teatro ao ar livre(e também no espaço apropriado), além do cinema que apresentava diversos filmes alternativos.

Paz e Amor

Diferente de um festival de música eletrônica onde acostuma-se rapidamente com a música tocando 24 horas por dia, no Psicodália o som das das bandas alternava-se de forma harmoniosa com períodos de silêncio e paz.

Aliás, “paz” é uma palavra que define bem o festival. O silêncio reinava na área de camping, onde ouvíamos apenas alguns passarinhos e, eventualmente, alguém tocando violão ou chamando pelo Wagner.

Mesmo no espaço entre os dois palcos do evento, onde a maioria do publico se concentrava, a paz e o relativo silêncio dominavam parte do dia. Ao fundo, ouvia-se apenas o som da Rádio Kombi tocando o melhor do rock progressivo, psicodélico e alguns projetos alternativos que o próprio público levava.

Sem música 24 horas por dia, as pessoas dedicavam mais parte do seu tempo para conversar e se conectar. O ambiente era especialmente favorável para casais, e como havia casais! Espalhados pelo gramado sob as sombras dos grandes pinheiros, via-se muito mais casais do que grupos de “galeras”. E como havia cachorros! Seja os da própria fazenda ou os levados pelo público, os cachorros corriam e se divertiam entre si ou com desconhecidos, a prova definitiva de que o ambiente estava repleto de muita positividade.

 

Os Shows

A primeira grande noite de shows teve Nação Zumbi como destaque. Que o show seria um dos mais concorridos era fácil de se imaginar. O que não imaginávamos era que, mesmo durante as passagens de som, ainda durante a tarde, fossem acompanhadas pelo público como se fossem uma dose extra, além daquilo que aconteceria à noite.

O Show do Nação Zumbi teve um clima muito especial, não só pelas 2 (duas!) horas de duração, mas também pela postura da banda. Era evidente o quanto a apresentação no Psicodália foi especial para o grupo. Jorge Du Peixe, vocalista do Nação lembrou muitas vezes de Chico Science, tocou algumas músicas da época da formação original da banda fazendo muitos paralelos com a política brasileira atual.

A segunda noite foi dedicada à bandas veteranas. Após a abertura com a banda Blindagem, veríamos a principal atração (ou a mais famosa) de todo o Psicodália 2016: Steppenwolf. E que show. Aqueles senhorzinhos com quase 50 anos de carreira tocaram com uma energia de moleques de 20 anos de idade. Energia devidamente retribuída pelo público que fazia tremer toda a estrutura do palco com gritos e aplausos a cada pequena pausa da banda. 

 

A terceira noite tinha uma dona muito especial: Elza Soares, com a turnê “A mulher no fim do mundo”. Do alto dos seus 78 anos, era de se esperar que essa verdadeira diva brasileira não apresentasse uma hora de suas músicas andando de um lado a outro do palco. Porém, o que seria um detalhe a ser “disfarçado” passou a ser o grande destaque da cenografia, com Elza comandou todo o show a partir de um grande trono colocado sobre um altar no centro do palco.

E que show. Com um verdadeiro exército composto por nada menos do que 19 músicos, Elza levou o público do Psicodália ao êxtase com suas músicas libertárias, expondo todo o preconceito, dramas e alegrias pelos quais passou sendo uma cantora negra no Brasil. E bastava olhar para os lados para perceber que os mesmos dramas e alegrias eram compartilhados pelas mulheres que estavam ali. Foi emocionante.

A quarta e última noite de shows teve como destaque Naná Vasconcelos, um dos maiores percursionistas do Brasil. Um nome até então desconhecido para nós e, portanto, uma satisfação ainda maior de conhecer sua música e um pouco da sua história, que ia sendo contada aos poucos no decorrer de sua apresentação. Gratificante, para dizer o mínimo

E o Wagner?

O mito do Wagner, segundo nos contou um funcionário do evento, surgiu há muitos anos, quando uma mãe se perdeu de seu filho e saiu chamando por ele de barraca em barraca, mobilizando boa parte do festival em busca do dito cujo. E até hoje ninguém sabe como a história acabou. =)

Mais Fotos

As fotos incríveis que utilizamos para ilustrar esse review foram publicadas originalmente no La Parola

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