Review: Tribe 50 Edições

Publicado em 12/07/2012 - Por Mohamad Hajar

A chuva, o maior vilão das open airs. Com esta frase, podemos resumir qual era a sensação das mais de 30 mil pessoas presentes no Helvetia no último sábado. É muito triste ver um evento que foi montado por meses, com muito cuidado, profissionalismo e amor, ser tão castigado pelo tempo. Apesar dessas dificuldades, a Tribe 50 Edições aconteceu do começo ao fim, e da melhor forma possível – um show de organização. Pois bem, vamos aos detalhes.

ESTRUTURA

A estrutura estava muito bem montada – e a chuva foi o teste de fogo para ela. Com exceção à decoração do palco Solaris, que cedeu e foi ao chão durante a apresentação do Eskimo (sem afetar o som e nem atingir qualquer pessoa – ela ficava atrás da área “útil” do palco), toda a estrutura aguentou firme até o final. Até Alex Grey, uma das maiores estrelas do evento, acabou prejudicado pela água que desandava: seu live painting só iniciou pela manhã, no final da festa, por questões de segurança.

Deu pra perceber que a organização levou a previsão do tempo a sério, pois eram abundantes as áreas cobertas. Uma pena que a estréia da tenda conceitual do Tribe Club tenha acontecido justamente em um dia de chuva – por muitas vezes nos pegamos preferindo a velha tenda branca sem graça, mas que é impermeável. Falando nos palcos alternaticos, geralmente festas com muitos ambientes costumam dar menos atenção aos menores, mas não foi o caso da Tribe: cada um dos 4 palcos tinha estrutura digna para ser uma festa sozinho! Todos os sound systems muito bons e as decorações, condizentes com as propostas. Nenhuma das pistas tinha frontstage, e camarotes, apenas o Big Room possuía. Inclusive, este ambiente desfrutava de um banheiro de dar inveja a muita balada do centro da cidade: um projeto da Recon Eventos que torcemos muito para que se torne a realidade da pista num futuro breve.

CENOGRAFIA

A Tribe sempre se diferenciou dos outros núcleos pela decoração psicodélica muito bem executada – e dessa vez não foi diferente. Pela primeira vez, dois palcos com tenda de lycra (Solaris e Tribe Club), cada um condizente com seu estilo, e com sua beleza incontestável. No Big Room, uma pirâmide de painéis de LED formou um telão interessante, com um ótimo trabalho de VJing por trás. No Domo, eram as luzes e lasers que formavam a identidade da pista.

No Solaris, claro, o maior destaque do visual da festa: Star Dancers, a tela que Alex Grey iniciou na Tribe 7 Anos e iria continuar nesta. Apesar de ter sido aberta e trabalhada por Alex apenas no período da manhã, ela sem dúvidas deu vida para a pista.

ARTISTAS

É humanamente impossível assistir a todos as apresentações de uma festa com quatro palcos, então me limitarei a falar dos artistas que vi ou ouvi comentários. Se eu não falei de alguém que você acha que merece nota, por favor, enriqueça este review nos comentários!

No Palco Solaris, o psytrance dominou do começo ao fim – ou ao menos deveria. Digo isso porque Eskimo estrapolou todos os limites do ridículo e fez uma das piores apresentações que já presenciei na minha vida. Misturando o seu já esquisito full on hi-tech com electro, dubstep e rock, pudemos ouvir alguns atentados aos bons costumes como um mash up de I Wish (Infected Mushroom) com Scary Monsters and Nice Sprites (Skrillex) e um remix de Foo Fighters. Deprimente, acabou até valorizando a entrada do Growling Machines. Falando no duo-enjoy-the-silence, estão com músicas novas e boas, pasmem! Obviamente tocaram todos os hits que o povo queria cantar junto, mas ponto positivíssimo para as novidades apresentadas! Caindo os BPMs, Ace Ventura tocou o progressivo reto e viajante de costume, Coming Soon surpreendeu a todos e botou a pista abaixo, Day Din fez mais um repeteco do seu sonzinho manjado – se não renovar o repertório cairá no esquecimento logo logo, e Captain Hook mais uma vez com o mesmo diagnóstico: excelente liveset de progressivo, mas com um dubstep “intruso” estragando as músicas.

Migrando para o Tribe Club, começamos a acompanhar as coisas por lá com um velho “conhecido” nosso: Victor Ruiz. Sem telão para passar seu audio-visual, Ruiz abandonou também a alcunha “live” e fez um set que podemos chamar de “Greatest Hits do techno 2007-2012”. Aliás, eu não entendo por que em São Paulo 9 em cada 10 DJs tem que tocar Rubin – uma música de 2006 que o próprio Stephan Bodzin, produtor dela, já falou que não toca mais em lugar nenhum do mundo, exceto no Brasil. De qualquer forma, Ruiz fez um bom set, mas com muitos “clássicos” e poucas novidades. Em seguida, Pirupa deixou o som mais monótono e acabou perdendo boa parte do público para a joelhada de Anderson Silva. Após ele, foi a vez do residente Gabe, que apesar de estar seguindo uma linha completamente disco em suas produções, acabou brindando o Tribe Club com um pouco da sua linha mais antiga, com mais peso. Seguindo a noite, Du Serena e Dahan fizeram um set muito envolvente e interessante, abrindo para aquele que deveria ser um dos principais da festa: Sascha Braemen.

E aí que vemos como a organização do line-up é essencial para o bom andamento da festa e para a imagem do artista. Sascha estava claramente na hora errada e no lugar errado. O seu som é extremamente minimalista e seco, com certeza faria muito bonito no Domo às 3 horas da manhã. Porém, ele acabou tocando no Tribe Club, logo antes do ídolo maior do público da Tribe, Boris Brejcha. Obviamente que as pessoas que estavam ali ansiosas para ver o mascarado arregaçar a pista com seu som pesado e maluco não gostaram nem um pouco da delicadeza do trabalho de Sascha, e o veredicto final das pessoas foi que ele teria sido o pior DJ da festa. Seguindo o baile, foi a vez do techneiro mais hypado do Brasil. Com sua tradicional máscara joker, Boris fez um excelente liveset, com muitas músicas novas, mantendo a sua característica. Era visível a empolgação do público enquanto o alemão tocava! Por sorte a sequência tinha Layo & Bushwacka, uma dupla com cacife pra segurar esta pista.

Finalizando o Tribe Club, vale relatar mais um erro que vem sido cometido e está rifando um ótimo projeto. A cada vez que vou a uma festa que tem D-Nox & Beckers eu percebo o quão ruim é para eles ter o set solo do D-Nox já na sequência. Digo isso porque o som da dupla sempre foi mais progressivo, introspectivo. É muito bem produzido e executado, mas quando D-Nox assume e faz o seu set de techno arrasa-quarteirões, com direito a Mind Dimension e tudo mais, a sensação do público é que sozinho ele é muito melhor – quando na verdade os estilos são diferentes. Os dois sets foram excelentes, e precisam ser melhor posicionados no line-up, para que recebam o reconhecimento que merecem.

Adentrando a House Village, pouco temos a dizer, pois pouco vimos desses ambientes. Na Big Room, carinhosamente apelidada pelos sulistas de “Green Valleyzinha”, Glenn Morrison mostrou porque era parceiro de Deadmau5 no início da carreira – som reto, pesado e sem firulas. EDX foi péssimo, parecia que havia um rádio ligado na Jovem Pan. Duty foi uma excelente surpresa, com um som reto, intercalado por breaks hipnóticos. Killer On The Dancefloor infelizmente bancou o Moisés da festa, e esvaziou a pista com seu som fora de contexto. No Domo, o cancelamento do dOP (pra variar) acabou deixando a pista sem um dos principais nomes, mas ainda assim Tale Of Us, Renato Ratier, Beckers e Noir mantiveram o alto nível no ambiente, que também ganhou um apelido dos sulistas: “Warunguinho”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Tribe 50 Edições foi uma festa muito bem executada, com um line-up de respeito, mas que infelizmente deu azar com relação ao tempo. Ainda assim, foi um final de semana divertido e proveitoso, mas era impossível esconder a sensação de “poderia ter sido melhor se não chovesse” ao final da festa. Uma pena, mas vem aí a edição 51 para reverter este quadro, né?

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