Retrospectiva 2010: 5 destaques e 5 #fails da cena eletrônica no ano

Publicado em 21/12/2010 - Por Eliel Cezar

Nesse primeiro post do nosso especial de fim de ano, Guilherme e Mohamad selecionam 5 categorias que incluem um destaque e um #fail de 2010 – Festas, Artistas, Mídia, Respeito ao Público e Psytrance. Confira!Esse é o post inaugural do nosso especial de fim de ano. A partir de amanhã, será a vez de cada um dos colaboradores do Psicodelia escolher as 10 tracks que mais marcaram o seu ano de 2010. Mas, para dar o pontapé inicial, eu e Mohamad selecionamos 5 categorias que abarcam boa parte do nosso universo eletrônico. Para cada uma, escolhemos um destaque positivo e outro negativo. Claro que essa seleção tem alto grau de subjetividade, mas temos certeza de que, para o bem ou para o mal, a listagem abaixo dá uma boa visão panorâmica do que foi a cena eletrônica brasileira em 2010! Confiram:

Festas

Destaque – XXXperience 14 anos A XXX passou por alguns maus bocados no passado recente. Depois de festas “meia-boca” como a edição especial de 13 anos em São Paulo e o aniversário de 10 anos em Curitiba, sem falar no pequeno escândalo causado pelo protesto do DJ Feio na web no início do ano, que levou ao rompimento do fundador da festa com a produtora No Limits, parecia claro que a XXX precisava de alguma auto-reflexão. Que festa quer ser e como executar esse conceito da melhor maneira possível? Bem, depois de marcar os anos 2000 como principal núcleo divulgador do psytrance no Brasil, a XXX encontrou sua nova identidade após esse breve período de crise e deu o pontapé inicial para se manter firme na próxima década. Como atestamos em nosso podcast e no review extra, a XXX 14 anos foi, apesar dos pesares, provavelmente a melhor, maior e mais variada festa do ano.

#Fail – Extinção sem explicação da Tribe A grande festa preferida de muitos e casa de grandes figurões que marcaram época no Brasil como Astrix e Growling Machines, a festa de Du Serena desapareceu sem deixar rastros. Após o alarde causado pelo anúncio de não-realização da festa de 9 anos em 2009 e com a promessa de uma “grande comemoração de dez anos em 2010”, nada mais se ouviu falar da Tribe, além dos clamores saudosistas do público cativo da festa. Em “substituição”, foi oferecida a Playground, uma festa com um conceito completamente diferente e muito mais comercial. Contudo, nada se falou oficialmente para justificar o fim. Seria a perseguição sistemática da mídia contra a festa? Seria o processo de uso de nome/marca movido por uma Tribe gringa? Para além das especulações, só temos a certeza de que uma das melhores e mais elogiadas festas, que marcou a vida de tanta gente, merecia ao menos um “enterro” digno. Pena.

 

Artistas

Destaque: Gabe e a brasilidade na música eletrônica Marky é referência nos Drum ‘n Bass há anos. Gui Boratto é referência no techno melódico há anos. Anderson Noise é referência no techno há anos. Dentro desse panteão dos nomões mundiais da música eletrônica brasileira, pode-se dizer que já podemos incluir Gabe, com a diferença de que é um produtor extremamente variado. Grande produtor de psytrance e uma referência no techno hipnótico, Gabe se lançou em uma nova empreitada tech house em 2010, e surpreendeu a todos com a bomba “Tudo Vem”. Num ano em que muito se falou em criar uma música eletrônica genuinamente brasileira, ninguém conseguiu executar esse objetivo de melhor maneira que Gabe. Sem apelar para clichês óbvios (Brasil = Carnaval = Samba, por exemplo), o brasileiro lançou tracks limpas, com grooves sólidos, vocais em português e sempre com uma certa melancolia. Toques de genialidade que fizeram de Gabe “o homem a ser copiado” e, naturalmente, um grande destaque em 2010.

#Fail: Victor Ruiz e a falta de profissionalismo Bom, precisa falar mais alguma coisa? O que aconteceu foi apenas um exemplo pontual, que nos afetou diretamente, de uma constante em festas no Brasil. Cancelamentos de apresentações mal-explicados (quer dizer, isso quando há explicação) acontecem em praticamente todas as festas, e é muito difícil haver qualquer feedback ou apresentação de culpados, seja por apontamento por parte dos afetados, seja por mea culpa dos faltantes. Promoters, agências e artistas, transparência faz parte do negócio! Não é só porque se organiza uma festa que tudo tem que ser uma festa.

Respeito ao Público

Destaque: Tribaltech e retratação 2010 realmente não foi o ano da T2 Eventos. O calendário das grandes festas de Curitiba foi reduzido para apenas duas, mas com a promessa de que uma delas, a Tribaltech, seria inesquecível. Mil promessas criaram uma expectativa monstra na cabeça das pessoas, o que acabou potencializando a decepção delas após o evento. O medo começou com o cancelamento da inédita edição paulista do festival, por falta de demanda. Daí pipocaram questionamentos: será que ela foi longe demais no conceito cult? Será que a fórmula só funciona em Curitiba? O que iria acontecer no dia 28 de agosto? O resultado você pode relembrar ouvindo o nosso podcast-review, gravado na época. Mas não fomos os únicos a criticar: na comunidade do núcleo no Orkut, no Twitter, no Facebook e na própria rede Multicult, muitos demonstravam suas insatisfações com a edição 2010 do maior festival curitibano. Diante disso tudo, a Tribaltech tinha tudo para ocupar a posição de festa fail do ano, mas eis que veio a retratação da organização. Dando um show de seriedade e compromisso com o público, a T2 assumiu todas as suas falhas, apontou os culpados por outras, pediu desculpas ao público e prometeu revisar o formato do festival (bem como sua data) para agradar a todos os seus clientes que, apesar de chatos, são fiéis. Em questão de minutos, a chama da Tribaltech estava acesa novamente e todos que criticaram a Tribaltech 2010 já estão ansiosos e confiantes para e edição 2011, inclusive nós do Psicodelia. Tudo graças a esse exemplo de respeito ao público. Parabéns, T2!

#Fail: Sr. KBL e seu piti Em contrapartida, cerca de 1 mês depois, a Kaballah enfrentou situação semelhante. Foi criada uma expectativa sem tamanho no seu público, graças a promoções excelentes nas redes sociais, graças a um lineup invejável, graças a uma proposta atrativa de ser um festival ao mesmo tempo grande e aconchegante e, principalmente, graças ao Sr. KBL, um integrante da organização que era membro ativo das redes sociais da Kaballah. Antes da realização do evento, elogiei muito a postura desta pessoa. Sua abordagem mais simples o aproximava das pessoas e criava uma grande empatia entre núcleo e público. Fotos e detalhes dos bastidores, informações privilegiadas, atenção às idéias e sugestões… Tudo que o fãs das festas eletrônicas sempre quiseram acompanhar estava sendo oferecido nesta Kaballah de aniversário. Porém, nem tudo saiu como o esperado. Chuvas fortes, fornecedores anti-profissionais e outros elementos fizeram com que a festa ficasse devendo algumas promessas, e o público reagiu sem pestanejar. Críticas inundaram todas as redes sociais, como era de se esperar. Pessoas falaram merda, como era de se esperar. E o Sr. KBL respondeu à altura, como não era de se esperar. Demonstrando um completo anti-profissionalismo (e causando até uma certa vergonha alheia em nós), este integrante da organização espanou e soltou o verbo em desabafos no Orkut. Como uma criança mimada, usou de ofensas baixas para atingir o publico reclamão e os fornecedores sacanas, e disse que a Kaballah estava extinta devido à falta de compreensão das pessoas. Bem, sabemos que o piti foi momentâneo, visto que já temos uma nova edição da Kaballah & Orbital sendo anunciada para 2011, mas a marca de uma das festas mais queridas do país foi manchada. Se antes iríamos neste evento simplesmente por gostarmos da Kaballah, agora eles precisarão de uma boa proposta para nos conquistar novamente. Tudo graças a essa reação fail do seu organizador.

 

Mídia

Destaque: O surgimento do PorraDJ! Jesus Light, o misterioso criador do PorraDJ, foi a figura mais comentada da comunidade eletrônica na Internet em 2010. Com uma mistura de humor e denúncia, o site dedicou neste ano mais de 900 posts à fina arte de apontar DJs e Lives falsos (seguindo rastros do saudoso Dead Act), achincalhar pseudo-celebridades que “atacam de DJ”, denunciar polêmicas do nosso mercado e, principalmente, mostrar aspectos engraçados e curiosos da cena eletrônica brasileira. A relevância atingida pelo site foi inesperada. Quem apareceu no site esperneou, chorou e alguns acabaram virando motivo de chacota na cena. Quem não apareceu, passou a conviver com o medo de ser flagrado e cair nas graças de Jesus Light. Apesar dos pesares, a intenção principal do site é fazer humor de forma ácida e consciente, sempre mantendo o respeito a quem merece. Esse humor livre é a cara da Internet e, com toda a repercussão e polêmica que causou, foi destaque inegável em 2010.

#Fail: Rede Globo e sua coleção de bobagens A maior e mais influente rede de comunicação do Brasil pode ser alvo de inúmeras críticas por incontáveis motivos. Mas, nesse ano, o canal criado por Roberto Marinho caprichou no que se refere à música eletrônica. A rede não apenas contribui com um sem-número de pseudo-celebridades (sobretudo ex-BBBs) para “incrementar” a nossa cena eletrônica, mas também com outras bobagens. Em 2009 “o Baladão do Faustão” fez DJs competentes como Dahram, Patife e Carlo Dall’Anese mixarem ao vivo música eletrônica com…axé e sertanejo, num apelo tosco ao popularesco. Repaginado para 2010, o quadro “Baladão dos Famosos” mostrou uma apresentação bizarra que misturava mashups pré-mixados com um freak show que juntava “grafite”, “dança” e mais uma série de imbecilidades, que deve ter divertido só a sua sogra ou seu cunhado (os parentes preferidos do promoter Faustão). E, para coroar o fim de ano, tivemos a estúpida reportagem do decadente “Fantástico” sobre o “perigo das festas rêive” (veja nossos comentários aqui e também aqui), com seus esteriótipos cansados e batidos, que apenas provou que essa mistura de falta de cérebro e televisão nos domingos pode ser uma combinação fatal (que nem aquela, de música eletrônica e brinquedos de parque de diversão….).

Psytrance

Destaque: O enriquecimento do psytrance progressivo O ano foi, sem dúvida, riquíssimo para o psytrance progressivo, qualquer que seja sua acepção. Para começar, tivemos a emergência e consolidação de uma nova linha, mas rápida, mais dançante, mais grooveada, que empresta timbres e técnicas de produção do techno e electro. E, se alguns possam criticar que esse estilo perdeu em psicodelia,  não há como negar que ganhou em abrangência. Se há alguns anos o público das grandes festas clamava pelo full on de Growling Machines e Astrix, hoje pede o progressive de Neelix e de Day Din. A Uxmal Records, do México, e a Spin Twist Records, do Norte da Alemanha, e artistas como os já citados Neelix e Day Din, ao lado de Vaishyias, Ojos, Interactive Noise, Jiser, DJ Fabio, entre outros, chegaram metendo o pé na porta. Ainda, o ano foi produtivo para o prog dark e selos como a Zenon Records. Destaque inevitável para discos como “The Eclectic Benevolence”, do Tetrameth, “The Space Between”, do Sensient, o diabólico “Minimus Maleficarum” do Minimal Criminal e a compilação “Occulta Vision”. Para terminar, o ótimo projeto Grouch soltou na web um dos melhores sets do ano e promete já para o início de 2011 um disco recheado de inovações. O prog dark, paradoxalmente, está brilhando! Para terminar, os amantes de uma linha mais tradicional não puderam reclamar. Houve ótimos lançamentos de figurões como Liquid Soul, Ace Ventura e Ovnimoon, além de grandes novos estouros como Sunstryk (que lançou o disco “Pure Essence”, um dos melhores do ano) e Loopstep, para citar alguns poucos. Enfim, o gênero explodiu em lançamentos, em quantidade e qualidade, recuperou e aumentou seu espaço nas festas Brasil afora. 2010 foi, sem dúvida, um ótimo ano para os fãs do progressivo!

#Fail: A repetição paranóica do full on nas grandes festas As grandes festas são o local onde a maioria das pessoas acaba conhecendo a música eletrônica e, por isso, são a principal fonte de opinião de massa. Nas redes sociais, fica muito claro que a repercussão causada por boas apresentações numa XXXperience ou numa Playground gera demanda para que esses nomes toquem em novas festas. Foi assim com Talamasca, Eskimo, Skazi, Growling Machines, Neelix, Khainz, Boris Brejcha… Assim, essa visibilidade em grandes festas é fundamental para disseminação de novos nomes e, em última análise, dos gêneros. Por isso, pode-se creditar boa parte da “decadência” do full on em grandes festas à repetição paranóica de lives. São sempre os mesmos nomes, vocês sabem. Mesmo boa parte do melhor full on do mundo estar sendo produzido no nosso quintal e divulgado pela Vagalume Records, pouco se ouve falar fora no nicho underground do psytrance de 28, Logica, Circuit Breakers, Laughing Buddah e cia. Concordamos que o full on continua firme e forte no nicho underground e dos festivais, mas certamente perdeu apelo para o grande público. Iniciativas pontuais como Flip Flop na XXXperience 14 anos e Psynema na Tribaltech são positivas, mas não suficientes para compensar lines batidos e apresentações mais batidas ainda. Certamente o full on não se resume a um punhado de nomes, e há uma porção de projetos competentes (em boa parte, brasileiros) que merecem ter espaço e repercussão.

E você? Quais foram os seus destaques e seus #fails para 2010?

Escrito a 4 mãos por Guilherme e Mohamad.

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