Assassinato Resulta em Campanha Anti-Raves

Publicado em 21/05/2008 - Por Eliel Cezar

A tragédia do estudante Erick Esiquiel, que desapareceu por quatro dias e foi encontrado morto no final de abril, após a Tribe da Pedreira em Pirapora do Bom Jesus (São Paulo), despertou mais uma polêmica em relação às raves. Agora, a família do estudante faz campanha pelo fim das raves, apontado o uso de drogas nas festas como causa maior da morte do filho. A polícia dá prosseguimento às investigações, mas, até agora, não pode afirmar exatamente como o estudante morreu.
Antes de mais nada, nos solidarizamos com a família. Sequer podemos imaginar a dor que estão sentido e sabemos que é natural que procurem encontrar um culpado pelo crime. Mas, cabe perguntar se não há alguma coisa errada aí. Por que a acusação às raves virou o foco da questão e não a investigação das pessoas suspeitas de assassinar o rapaz?

Tragédias por toda parte

Sem muita dificuldade, elaboramos uma lista de eventos que acabaram em tragédia. Nenhum deles foi proibido por causa disso. Vamos, então, citar só alguns exemplos:

  • O show dos Rolling Stones, que reuniu cerca de 1,3 milhão de pessoas em fevereiro de 2006, na praia de Copacabana, devidamente exibido pelas lentes da Globo, terminou com 50 ocorrências registradas. Entre elas, três esfaqueamentos, 33 furtos e seis acusações de porte de drogas (sem falar que, pensar que só seis pessoas usaram drogas no evento, é pura ingenuidade). Esses dados mal foram divulgados pela mídia. E nem precisamos comentar a inviabilidade de se fazer revista em um show gratuito para essa quantidade de gente.
  • Um adolescente de 17 anos foi baleado durante um show dos Titãs em Campinas, no ginásio da Unicamp. Acredita-se que a bala partiu de um dos seguranças do evento. Os organizadores não foram responsabilizados. O show, inclusive, prosseguiu após a confusão causada pela morte do rapaz.
  • Uma briga entre dois jovens durante a apresentação do Charlie Brown resultou em morte no show Pop Rock Brasil, realizado no estádio Mineirão, em Belo Horizonte, em novembro de 2007. Um dos envolvidos na briga acabou morrendo depois de dar entrada no hospital.
  • Até em um evento aparentemente pacífico, uma feira agropecuária, registrou crimes. Na 36 ª Expoingá, promovida de 8 a 18 de maio deste ano, dois jovens morreram esfaqueados, em dias diferentes, e uma mulher morreu após cair do telhado de um dos pavilhões. Claro que ninguém falou que a Expoingá precisa ser extinta.

CADÊ A LÓGICA DA COISA?

Dois outros eventos, pra lá de populares no Brasil, vem contabilizando grandes índices de mortes e violência ano após ano, sem que ninguém faça campanha pelo seu fim. Quantas brigas e mortes já ocorreram dentro e fora dos estádios de futebol e durante o período do carnaval?
Imagina se alguém falasse em proibir o carnaval ou os jogos de futebol, as duas maiores paixões dos brasileiros! Apesar disso, os dois eventos reúnem elementos que são os mais utilizados para criticar as raves: uso extensivo de drogas e violência. Aliás, vamos ponderar essa questão.
Apesar de reunirem milhares de pessoas, se formos olhar para os números, as raves apresentam índices de criminalidade muito baixos se comparadas com inúmeros eventos de mesmo porte. Claro que, com esse argumento não queremos menosprezar os casos de violência que já ocorreram nessas festas, que, com certeza, são dignos de profunda indignação. Estamos apenas tentando encontrar qual a lógica em pedir o fim das raves com base no fator violência e uso de drogas. Como se esses elementos não estivessem presentes na quase totalidade de shows, festas e eventos que reúnem grandes públicos.
A grande diferença é que toda vez que se fala em rave, tem gente que já sente calafrios, tamanha é a anti-propaganda que boa parte da mídia (que nada lucra com as raves) faz toda vez que um incidente é registrado. Já o carnaval e o futebol contam com todo o aparato da mídia para atuar na sua defesa e na sua divulgação.
Vale ressaltar que, atribuir índices de criminalidade diretamente a certos grupos sociais, caracterizando-os por preferências musicais ou comportamentais, é puro PRECONCEITO. E preconceito se destrói com informação.
Estimular o debate e disseminar a informação. É esse o papel do Psicodelia.

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