Entrevista: Vini Vici – “Life is a Remix”

Eles acabaram de lançar um novo álbum de remixes pela Iboga Records e aproveitaram a oportunidade para contar um pouco sobre a jornada que os trouxe até aqui.
Publicado em 08/12/2020 - Por Eliel Cezar

Entrevista realizada originalmente em inglês pelo Trancentral.

Aviram Saharai e Matan Kadosh são Vini Vici, uma dupla que dispensa apresentações. Os caras cruzaram todas as fronteiras do trance e hoje fazem sucesso nos maiores palcos da música eletrônica pelo mundo. No entanto, a maioria das pessoas que conhecem o Vini Vici provavelmente não sabem que tudo começou com 3 adolescentes que se apaixonaram pelo Psytrance em uma pequena cidade em Israel há uns 20 anos.

Eles acabam de lançar um novo álbum de remixes pela Iboga Records e aproveitaram a oportunidade para contar um pouco sobre a jornada que os trouxe até aqui.

Enquanto você lê, ouça o álbum “Life is a Remix” do DJ Set de Vini Vici:

Olá Matan e Aviram, como estão as coisas com o  Vini Vici? Como vocês tem lidado com o mundo tomado pela Covid?

Olá a todos, como a maior parte do mundo e especialmente no mundo da vida noturna, nossas vidas foram viradas de cabeça para baixo. No início foi um choque total e tudo o que fizemos foi tentar nos ajustar passo a passo à nova realidade.

Temos que dizer que pelo menos do nosso ponto de vista não tem sido de todo ruim, tivemos a chance de curtir nossas famílias (o que não podíamos fazer em nossa rotina normal) tivemos tempo para fazer coisas simples que sentimos falta tanto quanto viajar e explorar a natureza, jogar futebol com os amigos, bem como muito tempo de estúdio. Portanto, nem tudo foi negativo.

Vocês percorreram um longo caminho como artistas de música eletrônica até onde estão hoje. Vocês podem comentar para nós essas duas fotos e descrever as situações?

Sesto Sento, 2002. Da esquerda para a direita: Itai, Matan & Aviram.

Primeira foto: 3 garotos (Matan 18, Aviram 16, Itai 16) se encontrando depois da escola na casa do Itai sentados juntos na sala com um computador velho e umas caixinhas de som criando a primeira track do “Sesto Sento” chamada “Soap Bubble”.

Incrivelmente, também foi nossa primeira música lançada.

Segunda foto: 18 anos depois, Aviram e eu (Matan) sob o novo nome do projeto ‘Vini Vici’, tocando em um dos palcos mais prestigiosos do mundo da música eletrônica para mais de 100.000 pessoas no Tomorrowland na Bélgica. Foi uma experiência transcendental.

O que mudou em você entre essas situações? O que permaneceu igual?

Uau, tanta coisa mudou, acho que além do fato de ainda estarmos fazendo o que amamos, tudo ao nosso redor mudou. Pessoalmente, nós dois nos casamos e nos tornamos pais e ambos percorremos a jornada da nossa vida. Profissionalmente, mudamos nosso foco do projeto Sesto Sento para Vini Vici depois que o Itai decidiu que estava farto do mundo da música e deixou o grupo. Nosso estilo de música mudou muito também, para toda a cena e principalmente para nós (depois de 20 anos).

As habilidades de produção e o mundo da produção musical se tornaram muito grandes (lembro que quando começamos nem tínhamos CDs para distribuir). A cena cresceu de um jeito que nunca sonhamos. Começamos a tocar para 200 pessoas em festas underground nos bosques de Israel e agora podemos tocar em 3-4 países em uma semana, para centenas de milhares de pessoas.

Como dissemos, 20 anos se passaram desde que começamos nossa jornada musical, a lista de coisas que mudaram é interminável.

Ouça o mix de Vini Vici na Rádio Psy-Nation:

Como outros projetos que saíram do mundo do Psytrance e foram além (Infected Mushroom, por exemplo), vocês provocaram reações controversas por se tornarem “comerciais”.

Conhecendo vocês há um pouco mais de tempo, a gente sabe que na verdade não mudaram muito desde os primeiros dias do Sesto Sento e estão apenas fazendo suas coisas e acompanhando o fluxo da música. Também sabemos o quanto o mundo do Psytrance significa para vocês e que vocês sempre se vêem como parte dele.

Qual é a sensação de ler comentários como esses?

Tenho muito a dizer sobre isso e estou feliz que finalmente alguém nos fez esta pergunta. Na minha opinião (Matan), você não pode dizer que alguém se tornou comercial enquanto está fazendo verdadeira e honestamente o que ama. Lembro-me de 22 anos atrás, quando comecei a colecionar tracks de Psytrance, não gravaria um mini-disk ou compraria nenhum CD se a música não tivesse uma parte ou melodia realmente memorável, é assim que tem sido desde o primeiro dia.

Hoje estamos lançando músicas que são mais voltadas para o grande público, mas ao mesmo tempo continuamos lançando mais material underground, acho que os haters vão escolher o que olhar para que possam continuar nos odiando e se sentindo bem consigo mesmos.

E sim, para mim o mundo do Psytrance é mais do que música, é uma tribo, é um estilo de vida! Não consigo ver minha vida sem fazer parte disso, eu sou casado com uma garota do psytrance e há 3 meses eu levei meu filho de 3 anos para um after de Psytrance pela primeira vez (e que eu nem estava pensando em ir).

Sesto Sento Live em uma festa em Israel (Projeto Moksha, 2003)

 

(Aviram): Em primeiro lugar, não estamos tendo tanta “polêmica” como você pode pensar, talvez 2-3 anos atrás sim. Posso dizer que no início ficamos meio magoados (afinal somos humanos), mas depois de um tempo não nos importamos muito com os “heróis do teclado”. Deixa eu te dar uma dica: às vezes, quando está tudo muito quieto, estamos fazendo coisas para sacudir um pouco o barco, de propósito.

Temos feito isso há 20 anos e está em nosso DNA sempre avançar e explorar o desconhecido! Para nós esta é a definição de arte. Vejo algumas pessoas que não mudaram de verdade seu som desde o primeiro dia, isso me deixa louco, tenho certeza que eles não estão gostando, são prisioneiros de seu próprio som.

Deixe-me perguntar uma coisa (Matan), se alguns artistas estão fazendo música mais underground que eles realmente não gostam, mas criam porque é a moda atual, isso é considerado “tornar-se comercial”? Você pode adivinhar minha resposta.

O novo álbum de remixes lançado pela Iboga Records conta com uma lista enorme e variada de participações, de Desert Dwellers a Infected Mushroom, Astral Projection, Bliss, Ace Ventura, Hilight Tribe, Captain Hook, GMS, Skazi e Tristan, só para mencionar alguns. É como se vocês reunissem todos os diferentes lados do Psytrance.

Essa foi uma das idéias por trás da escolha dos convidados?

Um dos lemas da nossa vida é “Boa música é boa música”. Não nos importamos se é mais underground ou mais comercial, mantemos a mente aberta e se gostamos, gostamos. Nós apenas pegamos alguns de nossos artistas de Psytrance favoritos e os deixamos fazer o que sabem. Artistas que em nossa experiência pessoal mudaram ou impactaram fortemente a cena. Claro que existem outros que têm influenciado a cena, mas não conseguimos encaixar todos.

É uma pergunta difícil de responder, especialmente com muitos dos remixers sendo seus amigos, mas ainda assim, quais remixes são seus favoritos no álbum?

Normalmente, daríamos a você a resposta politicamente correta, mas desta vez seremos diretos: o remix do Liquid Soul de “In & Out”, o remix do Bliss de “The Tribe”, e o do Ace Ventura/Outsiders de “Talking with U.F.O’s”.

(Aviram): Gostamos muito de todos eles, o remix do Infected Mushroom também é incrível!

Ouça Vini Vici – Life is a Remix: https://iboga.fanlink.to/LiFeRmx

 

Você já tocaram em lugares exóticos, como no Extremo Oriente por exemplo, conte-nos sobre a experiência de festa em alguns desses lugares?

Sim, a maior parte do Extremo Oriente é um território que é novo para nós, lugares em que nunca ouviram falar de Psytrance até alguns anos atrás. É um mercado enorme, e eles definitivamente sabem como levar as coisas para outro nível, seja pelo nível de produção dos festivais e clubes ou pela qualidade da hospitalidade, amor e respeito pelo artista. Além disso, é sempre incrível começar a explorar novos países, culturas, alimentos e pessoas.

Tenho certeza que vocês já passaram por algumas situações malucas em sua carreira musical – conte-nos uma história engraçada / estranha.

Nós tivemos muitas experiências estranhas e malucas, mas uma que me vem à mente aconteceu há cerca de 10 anos no Japão. Lembro de tocar em um after quando, de repente, uma mulher subiu no palco e começou a beijar o monitor, quero dizer, realmente beijar a caixa de som como se fosse uma pessoa por uns 3-4 minutos até que alguém veio e a tirou do clube. Isso foi muito estranho e hilário ao mesmo tempo.

Uma coisa que as pessoas ficarão surpresas em saber sobre vocês?

Normalmente não compartilhamos muito sobre nossa vida pessoal e, sinceramente, nós dois somos pessoas muito simples de uma pequena cidade em Israel. Muitas das coisas que podem surpreender as pessoas estão relacionadas à nossa personalidade, mas isso só pode acontecer naturalmente quando temos uma conversa profunda e significativa com alguém.

Profissionalmente, achamos que muitas pessoas ficariam surpresas em saber que, como Aviram está morando no Brasil e eu (Matan) estou em Israel, fazemos 90% de nossa música online. Costumávamos fazer isso o tempo todo, já que sempre fazemos música na estrada e durante as viagens, mas acho que é realmente incomum.

Uma pergunta difícil que fazemos a todos, se você tivesse que escolher uma música como a sua track final de Goa / Psytrance, qual seria?

Somos grandes fãs de muita música excelente ao longo dos anos, mas se tivéssemos que escolher uma seria “The Muses Rapt – Spiritual Healing”.

Planos futuros?

É meio estranho falar sobre planos futuros em tempos como estes. Uma das coisas que COVID-19 nos ensinou é que precisamos valorizar o que temos e não considerar as coisas como certas. Nosso principal objetivo agora é apenas voltar ao normal, ao nosso ótimo e incrível normal.

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