Manifesto sobre as Raves

Publicado em 18/01/2008 - Por

Texto enviado por Marcos Vinicius (Dj Marc2.S)

Gostaria de me apresentar, sou Marcos Vinicius, brasileiro, casado, pai de dois filhos, empresário, consultor ambiental, dj e organizador de eventos. Escrevo este texto, pois muita coisa foi dita na imprensa nestes últimos dias, sobre eventos denominados “festas rave”. Algumas verdades e várias bobagens.

A democracia é algo comum à órgãos de imprensa e justiça, espero que este sejam ouvidos os dois lados desta discussão. As festas de música eletrônicas são uma manifestação cultural, e é previsto na lei e na constituição o direito de manifestações culturais. Envolve arte (decoração, pinturas, painéis), vestimentas, visual, música e amizade.

Há alguns dias, em um programa de tv eu vi uma chamada; algo como: “Um evento de longa duração, onde pessoas usam entorpecentes e ficam transtornadas e até fazem sexo no meio da multidão!”, por um segundo, pensei que falariam do nosso produto de exportação (não no caso de Curitiba) o Carnaval. Mas estavam falando das raves, usando imagens de festas fora de Curitiba.

Vou me ater à comentar sobre as festas daqui, pois é aqui que moramos e que os organizadores como eu, atuamos de forma correta. Em meu currículum, estive envolvido na organização de pelo menos 40 festas, incluindo as maiores de Curitiba. Hoje para conseguir uma licença para realização de eventos de grande porte são necessárias várias etapas. Pra ser mais preciso, 23 etapas. Entre elencar documentos e contratos (13 etapas), solicitar alvarás territoriais (4 etapas) e alvarás de segurança (6 etapas).

Um organizador que trabalha corretamente faz e paga por tudo isto, oferecendo segurança e conforto além de agir na legalidade e gerar divisas ao município acolhedor do evento, e tomando por exemplo nossas festas, várias toneladas em doação de alimentos e roupas para as comunidades carentes que vivem ali, próximo do local onde os eventos são realizados.

Isso sem citar que realizando eventos, geramos inúmeros empregos contratando porteiros, hostess, pessoal da limpeza, coleta de resíduos sólidos, seguranças, atendentes de bar, djs, iluminadores, gráfica, promoters, divulgadores, fotógrafos, websites, aluguel de som, aluguel de estrutura, aluguel de banheiros químicos, locação do espaço, recolhimento de impostos, e vários indiretos como por exemplo o posto de gasolina perto da festa para abastecer os carros.

Geramos divisas ao município, difundimos culturas e tudo isto ainda com a preocupação ambiental, fazendo o reflorestamento para compensar a quantidade de gás carbônico gerado pelo evento todo. Calcula-se quantas árvores foram necessários para imprimir os flyers, quanto gás carbônico foi emitido pelo avião que trouxe os artistas, pelos carros da equipe de divulgação e é feito o reflorestamento.

Uma fatalidade o que ocorreu com estas pessoas, no evento em Santa Felicidade, morrer por descarga elétrica, mas para a imprensa, parece que o foco passou longe do que realmente aconteceu, não é? 3 pessoas caíram de uma arquibancada num rodeio, cogitaram banir os rodeios do estado? Infelizmente a única interpretação que posso ter é de um extremo preconceito e falta de informação quanto à música eletrônica, além do farto sensacionalismo provocado por algumas redes da imprensa.

E de 5.000, 10.000 pessoas, uma parte se utilizar de drogas nos torna todos “drogados”? Estas pessoas, estão fazendo mal a sí mesmas e elas tem que ser esclarecidas, informadas e se preciso tratadas para livrar-se deste tipo de dependência. Fato: Morreram pessoas nesta festa “rave”, motivo? Descarga elétrica. Deve-se sim ser apuradas as responsabilidades e às famílias, eu envio as minhas mais sinceras condolências.

Mas claro que a discussão tomou outro caminho, a proibição das raves, por serem focos de uso e venda de drogas. Infelizmente, é muito mais que isso, as drogas são problema social, o problema está no morro carioca, no estádio de futebol, nas escolas, nos banheiros dos restaurantes mais caros e pasmem, até nas cadeias. Se acabar com as festas “rave”, acabassem com o tráfico de drogas, eu seria o primeiro a ser favorável, mesmo gostando tanto do meu trabalho como dj e organizador, mas, agora sejamos sensatos.

Proibir vai surtir algum efeito? Acredito que não. Poderia causar um efeito contrário com várias festas ilegais pipocando pela cidade, sem alvarás e segurança, longe dos olhos das autoridades. Daí sim, à mercê da sorte. Diferente dos comentários que eu ouvi, sim, a polícia está nos eventos, tanto por solicitação dos organizadores como pelo trabalho que nossa policia, a melhor polícia do Brasil faz.

Numa oportunidade, eu e Raul Romanus, meu sócio nos eventos, conseguimos uma reunião com o DR. OMAR DEIKIKI, do DINARC e explicar como queríamos fazer a diferença em nosso eventos, com folhetos explicativos pagos com nossos próprios recursos, reproduzindo materiais do CAPE (Centro Antitóxicos de Prevenção e Educação), cedidos gentilmente pela DRA. MARIA CRISTINA VENÂNCIO que realiza um trabalho preventivo anti-drogas nunca visto antes no estado. Atitude elogiada, pois somente ataques cirúrgicos e com precisão podem fazer a diferença no combate às drogas e principalmente aos traficantes.

A polícia está nas festas, o Secretário DR. DELLAZARI é um homem muito lúcido e firme. Usa da inteligência para investigar e tem feito as maiores apreensões de drogas no Paraná, com estas atitudes tem feito um trabalho brilhante e com certeza ele sabe que o foco em qualquer evento de grande porte é trabalhar em conjunto com os organizadores tendo como prioridade combater o tráfico, e logo em seguida conscientizar nossos jovens dos danos causados pelo uso de drogas. O que comprova isto é uma entrevista ao vivo, onde o repórter e o apresentador do programa Paraná TV 1ª Edição (rede RPC/Globo) tenta induzir o Secretário Estadual de Segurança à uma discussão unilateral e este mostra, qual a posição do órgão máximo de segurança no Estado (http://tvparanaense.rpc.com.br/index.phtml?Video_ID=18488&seq=&autostart=1).

Os traficantes são criaturas que não tem e nunca tiveram a CONIVÊNCIA dos organizadores, na verdade, eles nos causam prejuízos. Nossa receita vem da venda no bar e na área de alimentação da festa, um traficante tira o dinheiro que deveria circular em nosso evento, e ainda, em caso de algum terceiro passar mal devido à ingestão destas substâncias é a nossa estrutura que será usada (ambulâncias e ambulatórios) trazendo mais custos.

Eles não são interessantes de nenhuma perspectiva para uma festa. Tanto moralmente como financeiramente. Nossa equipe de segurança sempre tem instruções de encaminhar quem portar qualquer tipo de objeto que caracterize contravenção às autoridades.

Em resumo, poderíamos usar as festas como uma via de informação, conscientização. É muito mais fácil policiar em uma chácara do que num litoral inteiro. Informação: esta é uma arma que acredito ser útil nesta guerra contra as drogas. A imprensa pode fazer o papel dela. A polícia e os organizadores também.

E estamos num Estado onde as liberdades são respeitadas e o bom senso é aplicado pelas nossas autoridades. Pois se dependesse de alguns veículos sensacionalistas, seríamos privados de nosso entretenimento e trabalho. Porque matar um cachorro se é mais fácil eliminar as pulgas dele?

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