O que é que tem na sopa do neném?

Publicado em 26/10/2017 - Por Luz Azul

Apesar de um tanto tosco o título da coluna de hoje chama a atenção para duas coisas. Uma delas vou abordar muito brevemente, que é a responsabilidade individual em se consumir alguma substância psicoativa. 

Em se tratando de um aspecto particular do indivíduo (seu corpo e sua consciência), a política proibicionista na melhor das hipóteses nos trata como crianças, que não podem saber sobre certas coisas, para seu próprio bem.

Na pior, como um inimigo a ser eliminado nesta infame “Guerra às Drogas”. Em qual deles você se encaixa depende, geralmente, da cor de sua pele e de sua condição social.

Enquanto lutamos para conquistar a emancipação e a anistia por direito, de fato, buscamos estratégias para que nossas escolhas não sejam criminalizadas e que sejam feitas da maneira mais informada possível, o que nos leva ao tema principal de hoje: o uso de reagentes colorimétricos em contexto de festas.

Com possibilidades muito mais danosas do que a da música que emprestamos o título, o risco no uso de substâncias psicodélicas aumenta drasticamente devido a sua clandestinidade. A falta de regulamentação deixa usuários às escuras quanto à procedência e à qualidade daquilo que estão consumindo, sem informação sobre a composição ou a concentração para se preparar para a “viagem” ou caso necessite de atendimento médico.

Alguns dados da Polícia Técnico-Cientifica de São Paulo apontam que menos da metade das substâncias apreendidas como Ecstasy continha MDMA, sendo os adulterantes mais comuns a metanfetamina e a cafeína. Os resultados não são diferentes nos blotters de papel, comumente vendidos como LSD. Um estudo de Coelho Neto, mostra que cerca de 65% das amostras eram algum tipo de NBOME, substância que produz uma experiência similar ao LSD, porém com mais riscos associados e poucos dados sobre efeitos adversos e interações com outras substâncias.

Os testes com reagentes colorimétricos entram como uma estratégia de identificação dessas substâncias e reflexão sobre o uso, possibilitando que as pessoas possam decidir ingerir ou não determinada substância, à luz dessa nova informação. Há relatos de pessoas que diante da identificação de uma substância indesejada, optaram por reduzir a dose ou que decidiram por não usar, dispensando o comprimido em questão.

Apesar de importante, a testagem com reagentes é bastante generalizada e não traz informações quanto à concentração de substância presente na amostra, nem se a mesma foi adulterada com um ou mais componentes. Há ainda a possibilidade de indicação de falsos positivos ou negativos, com limitações também quanto a identificação de cores por conta de questões subjetivas e de iluminação, por exemplo. De qualquer maneira essa é a estratégia mais fácil de se implementar durante as festas e eventos, representando um avanço enorme para reduzir riscos e danos no uso de psicodélicos.

Com informações de

  • MORRIS, K. Ecstasy consumido em São Paulo não é ecstasy.
  • Folha de São Paulo. 2012. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2012/08/1135888-ecstasy- consumido-em- sao-paulo- nao-e- ecstasy.shtml
  • WELSH, A. C. How on-site drug testing at festivals can help save lives.
  • Fact Magazine. 2017. Disponível em: http://www.factmag.com/2017/07/30/how-on- site-drug- testing-at- festivals-can- help-save- lives/
  • BESERRA, F. R. Testando as Balas e os MDs. Hempadão. 2017. Disponível em: http://hempadao.com/testando-as- balas-e- os-mds- portas-da- percepo/
  • COELHO NETO, J. “Rapid detection of NBOME’s and other NPS on blotter papers by direct ATR-FTIR spectrometry”.
  • Forensic Scientific Int. 2015. Disponível em: https://www.erowid.org/references/refs_view.php?ID=8938 MAPS.
  • Manual of Psychedelic Support. 2017. Disponível em: http://psychsitter.com/ RODRIGUES, S. E. et. al.
  • Redução de Danos e Substâncias Psicodélicas: Construindo Ações e Debates. Platô, São Paulo, v.1, n.1., p. 39-69, 2017.
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