ONG leva crianças deficientes a festivais e raves pelo Brasil

Publicado em 08/07/2019 - Por Psicodelia.org

Levar crianças deficientes a festivais e raves pode gerar polêmica devido ao cenário encontrado em alguns destes eventos, mas um projeto da ONG e clínica-escola Centro Bem Me Quer está aí para provar o contrário. 

O Centro de Desenvolvimento Social e Educacional e Cultural Bem Me Quer atua como clínica-escola sem fins lucrativos prestando serviços à pessoas com deficiência. A instituição foi inaugurada em Agosto de 2009 por iniciativa de um grupo de profissionais que se preocupavam com a continuidade assistida do trabalho de apoio, acompanhamento terapêutico e socialização para a pessoa com deficiência. A ONG oferece nesse sentido diversos tipos de atendimentos como: pedagógico, psicopedagógico, terapêutico, fisioterapia, musicoterapia, arte-terapia, esporte e outros. Todo o trabalho é adaptado para crianças, jovens, adultos e idosos. Da mesma forma, existem oficinas de Pet-Terapia, atendimento familiar junto a uma Assistente Social e orientação Nutricional e Jurídica.

Atualmente a clínica atende cerca de 40 pessoas com diversos tipos e graus de deficiência, entre as mais variadas síndromes. Para que o trabalho seja realizado, o Cento Bem Me Quer depende exclusivamente de doações, mas muitas vezes o montante não bate com as necessidades da instituição. Por isso, realizam eventos e contam com o apoio da sociedade para levantar fundos.

O projeto de levar crianças deficientes a festivais e raves

Visto a dificuldade financeira da instituição, em 2018 os dirigentes pensaram em se unificar com o PLUR da cena eletrônica. Dessa forma, começaram a busca por ajuda em meio a produtores e grandes festivais.

“Nós acreditamos que todas as pessoas têm direito de participar plenamente da sociedade. O Centro Bem Me Quer promove inclusão, independência e qualidade de vida da pessoa com deficiência e de seus familiares. Desenvolvemos um trabalho com amor em busca da igualdade” disse Laís Roncoli, presidente da instituição.

Laís Roncoli fala sobre a presença de deficientes em festivais e raves

Desde que começou o projeto, a ONG já contou com a ajuda de grandes festivais pelo país, uma vez que colaboraram e apoiaram com cortesias e descontos, alimentos não perecíveis ou ainda ingressos a serem vendidos e o valor convertido para a instituição.

Para entender melhor o projeto e o trabalho da ONG, o pessoal do Portal Mundo Psicodélico bateu um papo com a presidente do Centro Bem Me Quer, Laís Roncoli. Ela falou sobre o início do projeto, a recepção do público e dos pacientes e também sobre o quão importante tal participação na sociedade é para o desenvolvimento das pessoas com deficiência, confira:

Laís, primeiramente obrigado pelo seu tempo e por falar conosco. Antes de mais, conta pra gente como surgiu a ideia de pedir ajuda e apoio à cena eletrônica?

Há quatro anos meu irmão Lucas me chamava para ir em festivais e raves de música eletrônica. Até então, eu nunca tinha ido. Quando fui pela primeira vez, notei que essa cena é um meio muito louco. De união, de respeito. Não tem essa de julgar. Por exemplo, na hora de dançar, cada um tem seu jeito, tem sua maneira. Na música eletrônica é algo mais light, cada um dança do seu jeito, sem julgar, observar. Achei isso muito bacana. Porque nunca me encontrei em outros estilos justamente por causa dessa questão, por seguir padrão, nunca me encaixei. E logo que fui pela primeira vez, pensei em um paciente em específico. Este tem Síndrome de West, 18 anos, no entanto a mentalidade de um bebê de 4 meses. Porém, ele sempre respondeu muito bem a estímulos, visuais, sensoriais e auditivos. Então pensei “Meu, preciso levar o Rodolfo (nome inventado para preservar a identidade do paciente) em uma festa de música eletrônica!”. Então, no começo do ano de 2018, estávamos passando por uma dificuldade financeira muito intensa. Ai pensei sobre a cena da música eletrônica, a união que via no grupo Resistência. Então decidi mandar mensagem para algumas festas pensando nas diversas formas que poderiam ajudar. A primeira ajuda veio da Playground, que nos cedeu 100 ingressos e nos rendeu um retorno muito importante, muito gratificante, em um mês de grandes complicações.

Durante esses contatos, como foi a recepção dos produtores? Houve algum preconceito ou receio?

Nesse segundo ano de buscas notamos que existe um grande leque de possibilidades de parcerias. Conseguimos algumas novas, como com o Defo e a Mundo Psicodélico. O pessoal recebe maravilhosamente bem. Apesar de ser difícil esse contato com os produtores, tem sido algo muito benéfico pra gente. É complicado contatar diretamente quem manda, e muitas das vezes a pessoa não se sensibiliza ou já está envolvida com outras ações sociais. Mesmo assim, as parcerias que conseguimos ajudam bastante a instituição.

Durante os eventos em que participam, como é a aceitação e a relação público <> pessoas com deficiência?

É algo muito marcante. Por exemplo, quando levamos o Rodolfo para sua primeira festa… Quando tocava a música e a gente levava ele pra frente, ele se enfiava literalmente no meio das caixas. E ele batia nas caixas…o sorriso dele, é algo que nunca vou esquecer. Pois apesar de suas dificuldades, apesar de não se alimentar sozinho e usar fraldas, ele sentiu que pertencia àquele mundo. A galera abriu espaço, dava atenção, brincava com ele. Foi algo muito, muito bacana.

O quão importante você considera essas experiências externas de cultura, arte e até mesmo psicodelia para o desenvolvimento e a interação social dessas pessoas com deficiência?

Acho extremamente válido e importante, porquê é então uma experiência única. Se eu pudesse voltar no tempo, há 10 anos atrás, quando meu irmão já me chamava… Sinto que é muito mais que a música. É a oportunidade de conhecer alguém diferente, ouvir algo diferente. A música tem o dom de mexer com sua energia, então ela muda seu estado de ânimo. Se você está pra baixo e escuta uma música mais alegre, você ao mesmo tempo da aquela animada. A criatividade dos efeitos visuais, o capricho em todos detalhes da festa, do palco, as luzes, o telão, as tendas…tudo isso é uma experiência única que pelo menos todo mundo deveria se permitir viver pelo menos uma vez na vida. Pros nossos atendidos e pra qualquer pessoa com deficiência eu super indico a festa de música eletrônica. Por estimular a criatividade, sua visão, audição, seus sentidos…

Para quem quer ajudar a clínica-escola e também saber mais do trabalho de vocês, como faz?

Existem várias formas de ajudar. Primeiro como voluntário, no dia-a-dia, em eventos ou online para setores específicos. Da até mesmo para a pessoa ajudar de forma online, doação, apadrinhamento, em eventos, etc. Também é possível ajudar de forma pontual, com arrecadação de brinquedos, alimentos, material de higiene, entre outros que variam de acordo com a época do ano. É possível doar também como pessoa jurídica, através de projeto aprovado via lei fiscal. A empresa pode patrocinar projetos culturais aprovados e isso na prática não acarreta em novas despesas, além de gerar contrapartidas e responsabilidade social.  Todo o tipo de ajuda é muito importante para nós e para os pacientes.

Saiba Mais

O Centro Cultura Bem Me quer está em processo de construção de sua sede própria. Colabore com o projeto! As salas e os espaços em comuns serão batizados com o nome da empresa ou de um de seus representantes que apoiarem. Participe, sua ajuda é muito importante e da mesma forma super bem-vinda!

Para maiores informações, escreva para: contato.bemequer@gmail.com. Para doações:

  • Banco Bradesco
  • Agência: 2308
  • C/C:03440-1
  • Favorecido: Centro de Desenvolvimento Social Educacional e Cultural Bem Me Quer
  • CNPJ: 11.258.510/0001-80

Nas redes sociais da ONG você pode acompanhar todos os eventos já realizados e os projetos que estão em andamento. Por fim, visite o site do Centro de Desenvolvimento Social e Educacional e Cultural Bem Me Quer.

Via Mundo Psicodélico

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