Opinião: Empresários e DJs falam sobre a supervalorização dos artistas gringos

Publicado em 17/08/2016 - Por Camila Canabarro

Um assunto um tanto quanto polêmico e que volta e meia surge em rodas de conversa sobre música eletrônica é a suposta supervalorização dos artistas internacionais. Mas será que esse excesso de valor realmente existe? Será que o fato de artistas nacionais andarem bem cotados nos eventos nacionais deve-se à crise econômica e à alta do dólar, ou finalmente estamos valorizando a arte brasileira?

Para entender melhor as nuances envolvidas nessa questão, fizemos a mesma pergunta para diversas pessoas atuantes na cena trance e as repostas vocês conferem a seguir:

Você acha que existe algum tipo de super valorização dos artistas gringos em relação aos brasileiros? Qual a sua opinião sobre as diferenças de cachê entre  DJs nacionais e os que vem de fora?

 

“Hoje em dia depende muito do artista em si. Mas para artistas de ponta a nível nacional, se retirarmos a parte extra que o promoter paga do internacional (voo + visto + alimentação + hospedagem) não existe mais um abismo de diferença não”.

Marco Lisa A.K.A Element – DJ, sócio na DM7 Bookings e produtor dos eventos Progressive e Adhana Festival

 

 

 

“Acho que nos últimos tempos a cena nacional começou a ser mais valorizada, em relação aos gringos sempre houve essa diferença creio pelo fator da nossa moeda ser mais fraca em relação ao euro e ao dólar”.

Paulo Vilela A.K.A. Vegas (DJ)

 

“Acho que o Brasil sempre super valorizou o que vem de fora e no mercado Psy Trance não é diferente, infelizmente o artista internacional sempre vai chegar aqui “com uns pontos a mais” pelo fato de ser gringo. Esses pontos a mais vão de valor do cachê, maior destaque nas festas, até uma super valorização do publico.
Porem notei esse ano uma grande melhora em relação a valorização dos produtores nacionais, eles vem ganhando cada vez mais espaço em festas grandes e festivais, espaço que esta sendo muito bem aproveitado, por vezes vi artistas nacionais “bagunçando” mais a pista do que artistas gringos”.

Cyrus Zanon A.K.A Zanon (DJ)

 

“O mercado do Psytrance, como qualquer mercado, funciona de acordo com a oferta e a procura. Quando um DJ é muito requisitado, naturalmente seu cache irá aumentar, seja ele brasileiro ou estrangeiro. Não é o DJ ser Brasileiro ou gringo que vai ditar o valor do seu cache, e sim a capacidade que esse artista tem de chamar público para um evento. Hoje o mercado mudou muito, não é só mais o som que importa, existe toda uma rede de marketing por trás de um artista, quem investe mais nisso, obviamente vai ter mais exposição, e naturalmente, será mais conhecido e consequentemente trará mais público.

A maioria dos artistas internacionais recebem em Dólar ou Euro, e estando o dólar valendo cerca de 4 reais, dificulta muito o trabalho no Brasil. Porém percebemos que existem produtores de eventos que ainda estão dispostos a pagar caches de 5, 7 e até 14 mil dólares em alguns artistas e enquanto tiver alguém que pague, sempre vai ter alguém pra vender.

Acredito que estamos revivendo um momento na cena que já vimos a cerca de 10 atrás, quando o psy trance teve seu primeiro “boom” no Brasil. Grandes agencias subiram os preços dos artistas de uma forma absurda (naquela época o dólar estava na casa de 2 reais), produtores de eventos começaram a levar prejuízos exorbitantes e com o passar do tempo os eventos foram perdendo força e público, a diferença do momento atual é que antes a cena dependia quase que exclusivamente de produtores internacionais, eram pouquíssimos projetos nacionais.

Precisamos ter cuidado para não deixar isso acontecer novamente, os produtores de eventos precisam ter bom senso e não sair pagando valores exorbitantes para artistas internacionais, fora de nossa realidade.

Acredito que nossa cena agora esta muito mais madura, temos muitos bons Djs nacionais que estão fazendo um ótimo trabalho e o mercado está os valorizando, isso trás uma certa confiança de que a cena a cada dia que passa esta mais solida. Não é difícil ver por todo canto do País eventos sem nenhum artista internacional.
Acredito que precisamos cuidar dessa “fonte” e ter a consciência se queremos beber essa água toda de uma vez e deixar a fonte secar, como aconteceu nos anos 2000, ou se iremos cuidar de nossa nascente de uma forma saudável e beber dessa água por um longo tempo.

Uma coisa é certa, nossa cena esta mais madura e profissional do que nunca e já não aceita mais amadorismo de nenhuma parte”.

Norton Brandl A.K.A Groove Control – DJ e produtor dos eventos UNION e Secret Waves

 

“Antigamente era bem mais forte né, os gringos super valorizados e os nacionais nem tanto. Hoje já vem mudando aos poucos, os nacionais começando a serem mais valorizados. Está melhorando, mas ainda a diferença é grande. Falando em media, o maior cache de um nacional não chega perto do maior cache de um gringo.

Claro também temos que levar em consideração que os gringos contam com shares internacionais inclusos no cache, o que encarece. Mas o legal é que hoje os nacionais estão mostrando força e conseguindo ser “headline” e bombar as festas, essas que não são mais tão reféns das atrações gringas. Então se nos os nacionais estamos bombando tanto quanto os gringos, quem sabe ainda nosso cache não bombe também. O mercado tem valorizado então isso já é muito importante e bom pra gente”.

Thiago Ramos A.K.A GroundBass (DJ)

 

“Com certeza existe! Porém, com a crise econômica no país, os promoters se sentiram “obrigados” a contratar mais brasileiros. E com isso, perceberam a força dos artistas nacionais. Ao mesmo tempo que existe uma super valorização dos artistas gringos, também existe uma patriotismo muito grande e os brasileiros estão mais fortes do que nunca. Entretanto, os cachês dos gringos ainda são maiores. Devido aos custos internacionais e a diferença do Euro/Dólar para o Real principalmente”.

Diogo Andrade a.k.a. Quake – DJ e sócio na DM7 Bookings

 

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