Promover “raves” para vender ecstasy: novo mercado para os traficantes cariocas

Publicado em 17/04/2008 - Por Eliel Cezar

Nada de playboy vendendo droga. O ecstasy subiu o morro e começa a ser vendido pelos verdadeiros “profissionais” do narcotráfico brasileiro. Os traficantes cariocas estão promovendo festas, que vem chamando de raves, onde não se cobra entrada. Toda lucratividade fica por conta da venda de droga para o público.

Trata-se de mais uma polêmica sobre raves e drogas que ganhou espaço na mídia. Semana passada, o tema foi matéria no Terra, no Psyte e em outros locais. Como os veículos destacaram, com a marcação da polícia em cima dos jovens de classe média, abriu-se espaço para a droga ser vendida pelos traficantes. Dizem que anda rolando até um tal “rap do ecstasy”, criado para estimular o consumo.

Por um lado, a promoção dessas festas reforça uma visão ruim e já amplamente difundida que discrimina as raves colando sua imagem apenas ao consumo de drogas. Hoje, todo e qualquer evento que tenha música eletrônica (e às vezes nem isso) e onde haja alguém usando droga já recebe o selo “rave”. Mas, por outro lado, a realização das tais festas nas favelas indica que uma proibição geral à realização de raves nem de longe vai impedir a venda e o consumo das drogas sintéticas.

No ano passado, as raves foram proibidas em Santa Catarina. O que ocorreu depois disso? Começaram a surgir festas clandestinas em locais que realmente viraram terra de ninguém. Revista antes de entrar, ambulância para atender quem passar mal e ampla infra-estrutura são elementos que só as festas oficiais podem oferecer. Festas realizadas com divulgação, fiscalização e concessão de alvarás.

Restringir ou proibir em outros estados, ao que tudo indica, vai estimular o aparecimento de festas feitas na clandestinidade. E, nessas festas, continuarão a aparecer tanto aqueles que vão para curtir a música como aqueles que comparecem somente para usar droga. Claro que não haverá um deslocamento do público e das festas para locais como as favelas, onde poder do Estado não é o que de fato comanda. O fato é que o problema está sendo visto pelo ângulo errado.

Vamos então à lógica da coisa. O problema das raves é consumo de drogas, certo? Mas, os usuários continuarão a consumir drogas fora das raves. Seja em casas noturnas, shows, ou até em um churrasco com os amigos. E novos usuários, de diferentes classes sociais, continuarão a surgir. Só não vê isso quem realmente não quer.

Já foi dito várias vezes, mas não custa repetir. Coibir o consumo é diferente de proibir a realização de festas. E impedir as raves é pura hipocrisia. Não é segredo pra ninguém que o consumo de drogas acontece em shows de rock, hip hop, reggae (esse então, nem se fala!), enfim, todos os estilos musicais. O que temos que começar a nos perguntar é quais interesses estão por trás da proibição específica das raves. Alguma idéia?

Muitas vezes, parece que a defesa “da moral e dos bons costumes” surge só quando alguém não está lucrando com uma determinada atividade.

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