Rica Amaral e outras personalidades comentam a tendência de tracks com mantras étnicos

Publicado em 25/07/2017 - Por Psicodelia.org

Por todo o contexto que envolve seu surgimento nas praias de Goa, na India, o Psytrance e seus fãs de uma maneira geral possuem uma ligação muito forte com elementos que remetem à natureza e símbolos étnicos. As próprias festas em geral se posicionam como um espaço destinado à um grande ritual tribal.

Falando de música especificamente, o próprio formato do Psytrance, sua construção e batidas já remetem fortemente à idéia de um ritual. Mas além disso, há um outro elemento que traz à tona esse sentimento: são os samples com vocais de mantras, geralmente entoados em rituais do budismo, hinduismo e diversas outras religiões. Às vezes nem precisam ser de um ritual de verdade, mas somente soar como se fosse. Repare:

Longe de ser uma novidade, esse recurso vem sendo usado com cada vez mais frequência por produtores de Psytrance e músicas seguindo esse mesmo formato/estilo vêm se multiplicando por festas em todo o Brasil a ponto de ser considerado “uma nova moda”, recebendo críticas e elogios.

Mas afinal, colocar um mantra no meio da track é receita para o sucesso? Esse recurso já está saturado ou vai saturar em algum momento? Essas são algumas questões que fãs e produtores vem se fazendo há algum tempo. Por isso, fomos atrás de alguns DJs e produtores para saber a opinião deles.

 

Rica Amaral

Opinião sincera…. “tendências” limitam a criatividade. O trance psicodélico já passou por inúmeras tendências que levaram a cena a mesmice e decadência…. os ciclos/filtros que a cena passa desde o início. A maioria dos seguidores de tendência quando a cena está no ciclo de baixa migram para outras cenas, agora o trance esta em alta de novo e o que eu mais tenho ouvido é “vou começar a produzir trance ‘de novo’ “. Um pouco estranho pra mim porque a base da cena não é formada de tendências e sim de criatividade, melodia e foco na pista de dança, porque é uma música feita desde o início com foco na dança curadora.

As tendências criam momentos de êxtase superficial, momentâneo, o que pra mim e pra quem está na pista na intensão de um exercício meditativo ativo através da música e dança, isto não funciona, não te leva a lugar algum.

Nos dias de hoje o trance, além de milhares de vertentes que dividem a força da cena, está baseado em kick e bassline, faltando o mais importante que é um trabalho sério em cima da melodia, e quando falo melodia é melodia e não “ueu ueu ueu”, entende….. to falando de sentimento, não de matemática, quadradinho depois de quadradinho.

Eu nunca fui uma pessoa de seguir moda e sim de usar e abusar da criatividade e pra mim ser DJ é a melhor coisa que existe pois cada set meu é único, se molda ao momento, ao horário. Existe música pra tocar a noite e música pra tocar de dia, existe música perfeita pra tocar quando o dia começa a clarear e música perfeita pro nascer do sol, e quem já viu algum DJ que sabe fazer isso acompanhando os elementos nunca se esqueçe, porque é algo que vai além da música e da dança e de gritos e aplausos e pulos e egos de artistas.

Quem é realmente pego pela música não consegue nem se expressar, gritar, aplaudir, entra no modo 100% presença e isso muda a vida da pessoa pra melhor e pra sempre. Já dizia meu amigo Bob Marley…. “When music hits you feel no pain”

 

Vegas a.k.a. Paulo Vilela

Desde que conheci o Psytrance eu vejo a presença de vocais étnicos nas tracks isso não é de hoje é de sempre, poderia aqui mostrar tracks de 10 anos atrás com mantras e poderia mostrar uma que saiu semana passada, porém nos últimos tempos tem sido usado com mais frequência, desde quando iniciei meu projeto Vegas semprei usei algum elemento, instrumento ou vocal étnico em algumas faixas, acho que faz parte do psytrance esse lado místico, porém tudo tem que ter um equilibrio.

Procuro também outras fórmulas, seja com melodias ou com idéias que ainda não foram usadas, eu gosto de inovar, nem sempre é facil porem é nosso papel estar sempre em busca de novas fórmulas e idéias que chamem a atenção do público, creio que tudo no mundo da música é ciclo, não só no Psytrance mas em si em todos os estilos musicais.

Não vejo problema em usar algo que sempre fez parte do Psytrance, porem sempre dentro de um equilíbrio e sempre buscando algo inovador.

 

4i20 a.k.a. Tiago Sena

Eu acho algo bem normal essa tendência, o Psytrance sempre foi conectado a um lado espiritual, ao longo dos anos podemos notar varias músicas com apelo espiritual que fizeram muito sucesso.

Atualmente grandes nomes do Psytrance conseguiram chegar em um alto nivel de destaque com temas assim, isso causa uma influência muito grande nos produtores de todo o mundo, todos os artistas acabam querendo aproveitar dessa popularidade para consegur algum destaque, acho que por isso podemos ver uma grande quantidade de produções com vocais étnicos e mantras atualmente.

Eu particularmente gosto bastante, acho mantras e temas espirituais bons temas para se misturar ao Psytrance. Porém acabamos um pouco saturados da quantidade desse tipo de material devido a grande quantidade de material semelhante na cena. Acho também que não é algo que devemos nos preocupar, eu tento alertar os produtores da importância de se criar uma identidade própria e não seguir apenas as tendências.

 

Douglas Oyamaguchi a.k.a Yakuza Project

Acredito que tudo que está na “moda” tem de ser utilizado de forma moderada. Pois caso a utilização seja feita de forma exagerada, o projeto perde um pouco a sua autenticidade e a sua identidade. Caindo na mesmice e sendo taxado de “comercial”.

 

Mental Broadcast/Subverso a.k.a. Roma Dias

Eu acho que talvez por que o Vini Vici fez um tremendo sucesso com o remix do Highlight Tribe que virou uma tendência, é normal que vários outros produtores sigam essa linha, mas como qualquer outra moda uma hora satura e a galera parte pra outra tendência, assim o ciclo segue. Eu mesmo fiz música com mantra e é a que mais bomba no live.

 

Ekanta

Acho que não eh uma ” tendência”… desde que o Trance é Psy sempre houve essa conexão e este tipo de som. De repente agora o pessoal tem mais facilidade de acesso a tudo… Mas se for pesquisar isso já rola a muito tempo! Acho top, o máximo, desde que é claro tenha a intensão. Pelo menos os artistas que estão compondo tem que saber “do que se trata”.

 

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