Shiva, o deus dançarino

Publicado em 29/08/2016 - Por Camila Canabarro

Em seu livro intitulado “Assim Falou Zaratustra, um Livro para Todos e para Ninguém””, o filósofo alemão Friederich Nietzsche já dizia que “só poderia crer num Deus que soubesse dançar”.

A metáfora da dança é utilizada em várias culturas e épocas para descrever os ciclos naturais da vida e do universo, e acabou encontrando uma de suas expressões mais belas e profundas no hinduísmo, na imagem de Shiva, um dos mais antigos e populares deuses indianos. Segundo o hinduísmo, todas as coisas são parte de um grande processo rítmico de criação e destruição, de morte e renascimento, e a dança de Shiva simboliza esse eterno ritmo de vida e morte que se desdobra em ciclos intermináveis.

Shiva é representado sempre com quatro braços, cujos gestos equilibrados expressam o ritmo e a unidade da vida. A mão direita superior do Deus segura um tambor que simboliza o som primordial da criação; a mão esquerda superior carrega o fogo, elemento da destruição. O equilíbrio das duas mãos representa a harmonia dinâmica do universo, acentuado ainda mais pela face calma e indiferente do dançarino no centro, onde a polaridade é dissolvida e transcendida. A segunda mão direita ergue-se num gesto que significa “não tenha medo”, expressando manutenção, proteção e paz. Por sua vez, a mão esquerda remanescente aponta para o pé erguido, que simboliza a libertação da ignorância e do apego. O Deus é representado dançando sobre o corpo de um demônio, símbolo da ignorância do homem e que deve ser conquistado antes que seja alcançada a iluminação.

Quando dança, Shiva representa a verdade cósmica, o fluxo incessante de energia que permeia uma variedade infinita de padrões que se fundem. A física moderna mostra que o ritmo da criação e destruição não se acha manisfesto apenas na sucessão das estações e no nascimento e morte de todas as criaturas vivas, mas também na essência da matéria inorgânica.

Mais do que isso, a dança de criação e destruição é baseada na própria existência da matéria, uma vez que todas as partículas materiais “auto-interagem” pela emissão e reabsorção de partículas. O mundo subatômico é um mundo de ritmo, movimento e mudança contínua.

A dança de Shiva é a dança da matéria subatômica e como na mitologia hindu, trata-se de uma contínua dança de criação e evolução, destruição e renascimento, envolvendo a totalidade do cosmos e constituindo a base de todos os fenômenos naturais.

A mensagem não poderia ser mais clara: tudo aquilo que é criado, um dia morrerá, para poder renascer e seguir o fluxo evolutivo. No entanto, nada no universo morre realmente, só há mudança de plano e padrão vibracional. A energia não nasce e nem morre, só é transformada.

 

Fonte

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