Acasos da vida… após nosso podcast-review, segue uma avaliação escrita da festa!<\/p>\n
Há algumas semanas, fui convidado pelo amigo Leo Wandresen a escrever o review da XXX 14 anos para uma revista de grande circulação. Contudo, devido a alguns posicionamentos contrários da publicação em relação ao conteúdo do texto, acabou não rolando. Mas, se não vai para a revista, segue, na íntegra, mais um review para vocês!<\/p>\n
Já alerto: ele é enorme<\/strong>, de longe o maior que já fiz, porque ocuparia algo entre 4 e 6 páginas da edição. Para os corajosos que se aventurarem nas linhas desse meu post n\u02da50 no Psicodelia, boa sorte! \ud83d\ude00<\/p>\n –<\/p>\n REVIEW: XXXPERIENCE 14 ANOS<\/span><\/strong><\/span><\/p>\n <\/span><\/p>\n por Guilherme Raicoski e Leo Wandresen<\/em><\/p>\n (agradecimento a Eliel Cordeiro, Cris Trevisan, Carla Franco e Mohamed Hajar pelas valiosas críticas e apontamentos)<\/em><\/span><\/p>\n <\/p>\n Sete horas da tarde, dia 14 de novembro de 2010. À primeira vista, parece que a Fazenda Maeda, em Itu, assistirá a mais uma grande festa <\/span>open air<\/em><\/span>, como tantas outras que marcaram esse espaço desde que a cena <\/span>psytrance <\/em><\/span>explodiu no Brasil nos anos 2000. Todos os grandes chavões estavam lá: as botonas de cano alto, os óculos escuros, as mochilas, os guarda-chuvas de uma certa marca, o pesado esquema de segurança e a onipresente poeira, que historicamente se reveza com a lama como a decoração natural do ambiente.<\/span><\/p>\n <\/strong>Mas, na medida em que o tempo passa, as longas horas, suficientes para permitirem ao sol timidamente se acomodar e ressurgir no horizonte, eclipsando os lasers<\/em> que dominaram a madrugada, fica claro que algo diferente e especial aconteceu naquele espaço tão acostumado às batidas eletrônicas.<\/p>\n Importante alertar que o texto a seguir pode parecer excessivamente ameno, quase publicitário, sobretudo ao serem postas na balança as últimas edições da ex-rave<\/em>. Mas, se você era uma das mais de 30 mil pessoas sob o sol escaldante de Itu no último feriado da República, certamente vivenciou, em alguma medida, os momentos especiais relembrados nas próximas linhas.<\/p>\n <\/p>\n Uma Babel Eletrônica em Itu?<\/strong><\/span><\/p>\n <\/p>\n <\/strong>As últimas edições da XXXperience foram marcadas pela busca de uma nova identidade musical. Aos poucos, procurou-se oxigenar os line-ups,<\/em> antes dedicados quase que exclusivamente ao psytrance em suas vertentes full on<\/em> e progressive<\/em>, com novos estilos. Contudo, era claro que muitas atrações ficavam soltas em line-ups<\/em> e pistas igualmente soltas, com identidades frouxas, porosas.<\/p>\n Mas, dessa vez, até o mais pessimista e crítico dos ravers<\/em> teve de guardar suas pedras para outra ocasião. Afinal, é consenso que a edição de 14 anos, em poucas palavras, acertou em cheio.<\/p>\n Já se pode adiantar que a XXX conseguiu unir, num único espaço, de maneira coerente e inédita, o popular e o underground<\/em>, o uplifting<\/em> e o obscuro, o acessível e o complexo, o dançante e o emocional, os 125 e os 150 BPM, numa verdadeira Torre de Babel em que (quase) todas as línguas da e-music<\/em> conviveram em harmonia.<\/p>\n <\/p>\n Palco Principal<\/strong><\/span><\/p>\n <\/p>\n <\/strong>Outrora dominado pelos altos BPM’s, o palco principal foi uma verdadeira feijoada eletrônica. Para começar, o início da noite foi estremecido pelas linhas de baixo rasgadas e pelos agudos sintetizadores do electro e do electro-house, com destaque para os onipresentes brasileiros Bruno Barudi<\/strong> e Felguk<\/strong>. Além do mais, não importa se você o ama ou o odeia: é inevitável citar a apresentação do projeto belga Dr. Lektroluv<\/strong>, sempre marcante com seu figurino futurista\/ kitsch \/ <\/em>extraterrestre e seu electro cru e reto, que deve fazer todo o sentido no planeta de onde veio.<\/p>\n Ainda, a edição deste ano contou com figurões <\/strong>que costumam ser monopólio de festivais e clubs<\/em> europeus, como o eurotrance de Calvin Harris<\/strong> e Paul Van Dyk<\/strong>, a introspecção de Sasha,<\/strong> e Dubfire<\/strong>, a metade mais inovadora do duo Deep “baby when the lights go out<\/em>” Dish, hoje convertido ao techno.<\/p>\n A ideia de uma tenda principal, naturalmente, é agregar os nomes mais famosos e os sons mais facilmente digeríveis para o consumidor eventual de música eletrônica. Então, a formatação do line-up<\/em> pareceu consistente com a proposta. Mesmo assim, inevitável apontar que alguns nomes seriam melhor aproveitados se colocados em horários diferentes. O trance rápido e melódico de Paul van Dyk caberia mais em um momento de auge da festa, enquanto as batidas emocionais e envolventes de Sasha encontrariam melhor acolhida se abraçadas pelo calor do astro-Rei, no encerramento do festival.<\/p>\n <\/p>\n Tenda M_nus<\/strong><\/span><\/p>\n <\/p>\n <\/strong>A tenda que levou o nome do selo do inacreditável Richie Hawtin trouxe para o seio da XXXperience o melhor do techno de maneira inovadora. Mesmo tendo se apresentado como o grande refúgio para os amantes do underground<\/em>, foi uma grata surpresa a pista ter permanecido lotada do primeiro kick<\/em> ao último synth<\/em>.<\/p>\n Depois do minimal<\/em> loopado e quadrado de Magda<\/strong>, da paranóia dançante de Marc Houle<\/strong> e da mixagem inconfundível de Richie Hawtin<\/strong>, inegavelmente um dos melhores e mais influentes DJs do mundo, parece que uma cena antes dominada pela velocidade e por palatáveis melodias abre um importante novo nicho para uma das vertentes mais cerebrais e complexas da música eletrônica.<\/p>\n <\/p>\n Tenda House Mag<\/strong><\/span><\/p>\n <\/p>\n Desde que a Chicago dos anos 80 deu à luz o house<\/em>, o estilo que definiria para sempre a electronic dance music<\/em>, a vertente certamente sofreu várias mutações e segmentações. Hoje, o house<\/em> engloba uma quantidade infinita de acepções e sub-vertentes. O objetivo da tenda House Mag foi tentar trazer um grande resumo do que é esse estilo hoje no mundo. Das levadas acessíveis e populares de Mark Knight<\/strong>, passando pelo sentimento disco<\/em> do grande Renato Cohen<\/strong> até o fidget<\/em> barulhento e vocalizado de Afrojack, <\/strong>a pista foi uma grande viagem panorâmica pelo estilo. \tDestaque da pista vai para o orgulhosamente brasileiro Wehbba<\/strong>, mais um exemplo de tupiniquim que fez sucesso antes lá fora do que aqui (Gui Boratto feelings<\/em>?). Deu aula de performance e de humildade, interagindo com o público e estampando, em todos os momentos, um grande sorriso do rosto. Foi o grande exemplo do que é a arte da discotecagem: uma atuação horizontal, sem pedestais, próxima dos espectadores. No fim das contas, esta foi a lição que Wehbba relembrou aos amantes da música e da dança logo no início da madrugada: o DJ jamais deve estar acima da pista, mas sim ao lado dela.<\/p>\n <\/p>\n Tenda Trance<\/strong><\/span><\/p>\n <\/p>\n Da mesma maneira que no caso do sistema de som, a formação da tenda trance também é uma resposta da organização aos insistentes pedidos do público, que clamava por uma “volta às raízes”; ou seja, um palco exclusivamente voltado às vertentes psicodélicas do trance, com full on<\/em> à noite e progressivo pela manhã, tudo isso sem barreiras, sem catracas, sem backstage<\/em>.<\/p>\n A Tribaltech, festival multicultural realizado em Curitiba em agosto de 2010, foi pioneira nessa construção de um espaço exclusivo para a psicodelia eletrônica. Agora, a XXX estabeleceu um precedente do mesmo tipo, em larga escala e com maior visibilidade. Bom para o público, que teve seu pedido atendido, e para a XXX, que dignifica esse gênero para o qual o tanto deve. Parece que o psytrance, cansado após uma década de intensa exploração nos mesmo moldes, encontrou um novo caminho para se manter no mainstream<\/em>.<\/p>\n Naturalmente, deve-se apontar que, para isso, é fundamental a renovação das apresentações, tão constante em outros gêneros e tão difícil no caso do full on<\/em>. A repetição quase paranóica de atrações, ano a ano, deixa no ar a reflexão de que, sem novidades na vertente mais acelerada do psy, de pouca valia serão os demais esforços para aplacar o saudosismo raver<\/em>.<\/p>\n Com relação às apresentações, no início da noite, imperou o full on<\/em> dito high-tech<\/em>. O destaque ficou para Eskimo<\/strong>, artista de mística própria que, com todas as suas peculiaridades, polêmicas e fanfarra, continua atraindo grande atenção do público com sua mistura de linhas de baixo rasgadas, peso, velocidade e pitoresca interação com a pista. Rolou até remix de Panamericano!<\/p>\n Mas o melhor do stage<\/em> realmente coube ao progressivo, que imperou do amanhecer ao último beat<\/em> da festa. O destaque ficou para a apresentação clássica do veterano Psysex<\/strong>, para os grooves<\/em> rápidos e melódicos do progressivo de Day Din<\/strong> (considerado por muitos o melhor do Trance Stage) e para Weekend Heroes<\/strong>, novo projeto israelense que aos poucos desponta, e que deve ser presença constante no ano de 2011 com seu progressive house<\/em> sério e pesado.<\/p>\n <\/p>\n Estrutura<\/strong><\/span><\/span><\/p>\n <\/p>\n Para os ouvidos: <\/strong><\/span><\/span>sound system<\/strong><\/span><\/em><\/span>, a grande estrela do line-up<\/strong><\/span><\/span><\/p>\n <\/p>\n Com um público de mais de 30 mil pessoas, há certamente o mesmo número de visões sobre a festa, cada uma elegendo o melhor e o pior momento, o melhor e o pior DJ. Mas, se cada um desses 30 mil pontos de vista tem um olhar, os 30 mil ouvidos são unânimes: o sistema de som da XXXperience 14 anos foi a grande vedete da festa.<\/p>\n A crítica ao sound system<\/em> das open airs <\/em>se transformou em um verdadeiro clichê nos últimos anos, independentemente da marca da festa, do núcleo organizador ou da cidade em que acontecia. Por isso, a qualidade e potência quase inacreditáveis do som em todas as pistas<\/span> merece o pódio de grande destaque do festival. Foi-se da potência maltratante (no bom sentido) dos graves nas beiradas do Palco Principal e da Tenda Trance à atmosfera musical envolvente das Tendas House Mag e M_nus, que não deveram em nada a qualquer club<\/em> de referência mundial.<\/p>\n Outro fato que merece nota é que a tradicional prática de deixar o volume mais baixo para “atrações menores” e dedicar a máxima potência para os DJs considerados como “principais” não aconteceu nessa XXX. Respeito ao público, que pôde curtir um sistema de som excepcional em todos os sentidos, e respeito aos artistas, que puderam contar com toda a potência disponibilizada pela organização para mostrar seus trabalhos, sejam novatos promissores, sejam medalhões gringos.<\/p>\n A XXXperience e o Grupo No Limits definiram um novo padrão em potência e qualidade de som, que deve servir de referência para qualquer “festival de música eletrônica” que assim pretenda ser denominado.<\/p>\n <\/p>\n Para os olhos: decoração e arte 3D<\/strong><\/span><\/span><\/p>\n <\/p>\n Alardeada como uma das grandes novidades dessa edição, as projeções 3D no grande telão que ornamentava o palco principal, infelizmente, deixaram a desejar. Durante as apresentações, o telão “convidava” o público a colocar os óculos – incluídos na compra do ingresso – para curtir as animações que viriam. Contudo, o efeito de “terceira dimensão” era muito superficial para aqueles que esperavam se surpreender com imagens mais marcantes, e o veredito final é que uma das grandes promessas da festa, honestamente, não rolou.<\/p>\n Mesmo assim, não era esse o único uso para os óculos. Menos alardeados do que o telão, foram muito mais eficientes e marcantes os painéis com arte 3D que ficavam em frente à Tenda M_nus e, principalmente, a grande pirâmide de tecido presente no Trance Stage, que mostrava uma nova pintura dependendo do “quadradinho” pelo qual se olhava no óculos e da cor projetada pelos canhões de luz que a iluminavam.<\/p>\n <\/strong>Com relação à decoração, foi adequada e suficiente em todas as pistas, cabendo o destaque para os caprichados vídeos e imagens projetados nos telões. O excelente trabalho dos VJ’s certamente compensou a falta do 3D.<\/p>\n Durante todo o festival, ainda, as imagens dividiam o espaço com chamadas bem-humoradas também projetadas no telão como: “Grita aí!”, “Mush é du caraleo!” e “Meu cérebro não presta pra mais nada”. Oras, estamos numa festa, e esse tipo de bobagem faz parte da diversão, certo?<\/p>\n Por fim, no aspecto visual, pode-se apontar um pequeno pecado: a falta de fidelidade da decoração com a arte-conceito “Mundo XXXperience”, presente no site principal. A Pista House Mag foi provavelmente a que mais se aproximou do conceito de “Colmeia”, com a criativa ideia de pendurar no teto da tenda guarda-chuvas brancos, que criavam o efeito de favos de mel. De resto, embora a estrutura da festa fosse suficiente e muito bem executada, ficou a pergunta: onde estava o restante do “Mundo dos Sonhos”? Podemos forçar um pouco a interpretação e dizer que a “Rainha Borboleta”, na verdade, desabrochou do “casulo” do Main Stage do SWU.<\/p>\n Talvez seja o caso de adotar uma das seguintes posturas: ou chamar um profissional renomado de cenografia, arte, moda, Carnaval ou algo do gênero que assine a festa, ou simplesmente abandonar conceitos megalomaníacos que não se refletem na realidade.<\/p>\n <\/p>\n Notas finais: um novo Skol Beats?<\/strong><\/span><\/span><\/p>\n <\/strong><\/p>\n Após uma festa para o qual o adjetivo “histórica” não parece exagerado, não tardaram a aparecer comentários consagrando a XXXperience como “o novo Skol Beats”. <\/strong><\/p>\n <\/strong>Essa edição certamente parece, com as devidas proporções, ter se aproximado de outros festivais de referência mundial que também misturam várias vertentes, como o Glade Festival, no Reino Unido (que também teve suas origens no psytrance) ou ainda o Dance Valley holandês. Inclusive, o line-up<\/em> da XXX 14 anos compartilhou muitos headliners<\/em> da versão porteña da Creamfiels, realizada em Buenos Aires no mesmo fim de semana.<\/p>\n Mesmo assim, nossa pequena Babel tupiniquim não albergou todas as línguas eletrônicas. Se é para olhar para a sombra do Skol Beats, é notável, por exemplo, a ausência das batidas quebradas, do Drum ‘n Bass, do Dubstep e, porque não, do Hip-Hop.<\/p>\n Mesmo a festa demonstrando um verdadeiro caleidoscópio de estilos de maneira coerente e profissional, parece essa não ser a comparação mais adequada. Hoje, a cena eletrônica brasileira já é mais rica e muito mais multifacetada, e comporta muito mais do que um único grande festival de referência. Num país de 190 milhões de habitantes, já é possível haver uma miríade de estilos e conceitos de execução de um espaço para a música eletrônica. Há lugar para a alternatividade da Tribaltech, para a puxada pop<\/em> do Skol Sensation e para um grande festival de várias matizes como essa XXX de 14 anos, cada qual com sua proposta e sua importância, sendo todas igualmente aguardadas pelos diferentes públicos.<\/p>\n <\/strong>Enfim, talvez a Fazenda Maeda não tenha sido palco de um novo Skol Beats, mas certamente viu o nascer de uma nova XXXperience. E isso, por si só, já basta para que a música eletrônica brasileira ganhe em grandiosidade e conteúdo e, finalmente, consiga seguir em frente, apesar dos “fantásticos” e <\/em>“globais<\/em>” esteriótipos.<\/p>\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Acasos da vida… após nosso podcast-review, segue uma avaliação escrita da festa! Há algumas semanas, fui convidado pelo amigo Leo Wandresen a escrever o review da XXX 14 anos para uma revista de grande circulação. 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