Entrevista: Kadum

Publicado em 08/02/2015 - Por Marina Tavares

Foto: Ana Quesado Fotografia 

Marina Tavares – Quando foi o seu primeiro contato com a música eletrônica e como isso se tornou algo a mais em sua vida?

Kadum – Em meados de 2005, um amigo me passou uma música chamada Scorpion Frog do Infected Mushroom, escutei aquilo e achei completamente diferente de tudo que eu já conhecia como música. Era uma mistura muito interessante de efeitos psicodélicos com sons de orquestra, então, eu decidi ir atrás e pesquisar. Encontrei algumas outras músicas que eram mais conhecidas na época, e ficava ouvindo em casa. Passaram-se dois anos… Em julho de 2007, eu fui convidado por outro amigo para ir em uma pvt, que aconteceu na chácara Paraíso, onde atualmente é o Park Art. Foi o primeiro contato que tive com um sistem de som de verdade, e o melhor, rolando o bom e velho Psychedelic Trance. Nesse dia, me lembro que consegui sentir o Groove na alma, a grande Dj Clara Prema realmente mexeu comigo! Eu consegui também sentir a energia da pista, e perceber o que a galera mais gostava, então pensei: Por que não tentar criar as minhas próprias músicas, e transmitir essa essência pra galera?!

 

Marina Tavares – Como foi o início de sua carreira?

Kadum – Alguns meses após curtir a minha primeira festa, eu conheci um amigo que fazia o curso de produção musical na Aimec, mais precisamente em dezembro de 2007. Eu fui na casa dele, e ele mostrou como funcionava o tal do Ableton Live, e me passou o programa. Nesse dia, eu fui para casa maravilhado, sabendo que eram infinitas as possibilidades de criação, e todo esse poder estava agora em minhas mãos, só faltava saber como executar as milhares de idéias que borbulhavam em minha mente criativa. Eu já tinha uma certa bagagem musical, fiz aulas de piano e teclado desde pequeno, durante sete anos, tocava saxofone com algumas bandas de amigos em Curitiba, apenas por diversão. Eu sempre tive o apoio e incentivo dos meus pais. Então, eu comecei a fuçar, e trocar conhecimento com vários parceiros que estavam começando a produzir na época, um deles era o Yako, que tinha cdj em casa. Foi como uma troca, eu ensinava a ele passos básicos de produção, e ele me ensinava sobre mixagem. O ano de 2008 foi basicamente assim, indo em festas e buscando referências, criando sons experimentais ainda como brincadeira, tanto que o nome que usava para salvar os projetos era KaDuende, para quem tiver curiosidade, é possível encontrar essas produções do início da minha carreira no myspace.com/kaduende. Então, através da minha força de vontade, eu passei a conhecer alguns organizadores de eventos, e consegui um espaço para mostrar o meu som em uma festa que aconteceu em setembro de 2008, a Inside, onde também tocou o projeto Time Lock. Me lembro que nessa primeira festa que toquei, eu já soltei quatro tracks minhas, sem medo de ser feliz! Na época, eu produzia um som de 129 bpm, portanto, mixei com tracks do Gabe, Format B, era o que se encaixava melhor. A resposta do público foi bem positiva, continuei empenhado até fechar um live de uma hora, apenas com músicas próprias, o estilo musical ainda não estava bem definido, eu não seguia nenhum rótulo na hora de criar. Era uma mescla de Full On Groove com Progressive, Minimal, Electro, e tudo que eu ouvia na época. Fui apresentar esse primeiro live para galera no começo de 2009, na chácara DoApavoro, através de um convite do mestre Gabriel Mello (Psilocybin), ele me abriu as portas para tocar na minha primeira open air, uma hora apenas com músicas próprias, fazendo que a paixão pela música só aumentasse. Durante 2010, eu toquei muitos finais de semana na chácara, lá era tipo um laboratório, onde eu testava no sistema de som o que passava horas criando em casa. Nunca com medo de dar a cara a tapa, sempre sentindo o retorno da pista.

Marina Tavares – Quem foram as suas influências?

Kadum – Eu posso falar uma infinidade de artistas, vou tentar fazer um resumo básico do que costumava ouvir com mais frequência no começo: Infected Mushroom, Astrix, Delirious, Broken Toy, Phanatic, Sesto Sento, Switch, D-Nox & Beckers, Gabe, Format B, Boris Brejcha… Os dj sets da Clara Prema e do Marc2s… Depois surgiram alguns artistas como: Headroom, Rinkadink, Sensient, até que comecei a me aprofundar mais, e conhecer artistas da cena Underground. Hoje em dia, têm alguns projetos que são surreais, como Grouch, Merkaba, OTT, o mestre Terrafractyl, Spacey Koala, entre outros… Eu escuto tanta coisa que, se começar a listar aqui, irei ficar para sempre nessa resposta… E olha que eu nem mencionei os artistas que me influenciam e não são do eletrônico. Eu gosto muito de sons autênticos, que transmitem claramente a identidade do artista.

 

Marina Tavares – Como surgiu o projeto Kadum?

Kadum – Aos poucos, as minhas produções foram amadurecendo, e fui conseguindo imprimir a minha própria identidade nas criações. Precisava então, de um nome que fosse um pouco mais impactante, e que tivesse ligação com a minha pessoa. Geralmente, as músicas tem aquele momento da virada e a hora da explosão. KADUM!

Foto: Juca Bala

Marina Tavares – Como foi tocar no Terra em Transe Festival 2014/15?

Kadum – Foi uma das experiências mais intensas da minha vida, uma realização tanto pessoal quanto profissional. Cada segundo da minha vida dedicado a produção musical, nesse momento, valeu a pena. Desde que descobri pela internet e por relatos, sobre os festivais que acontecem na virada do ano na Bahia, eu sempre tive a curiosidade de saber como era estar lá. Eu nunca tive pressa, sabia que um dia a minha hora iria chegar. A minha visão sobre festivais é que, cada participante compartilha com todos aquilo que tem de melhor para oferecer. Este ano, me deram a oportunidade de pilotar a nave por alguns instantes! Compartilhar com pessoas do mundo inteiro a minha interpretação do que é a verdadeira essência da psicodelia. Ninguém estava ali por acaso, cada um na sua missão. O sistema de som do festival falava mais alto do que qualquer coisa, foi realmente incrível, uma verdadeira imersão nas frequências das ondas sonoras, desde a mais grave, passando pela média, até a mais aguda, cada uma criada e escolhida minuciosamente por mim. Foi uma responsabilidade sem tamanho, conduzir a pista por duas horas e meia. Eu apresentei o meu live, seguido por um Dj set com tracks da Kinematic Records, missão nada fácil, porém, muito divertida, representar essa gravadora australiana de peso aqui no Brasil. Foi 12:00 do dia 02/01/15, e o sol na Bahia é muito forte, portanto, a energia da pista estava realmente muito intensa! Rolou uma guerra de água em frente ao palco, e todos dançaram muito, a bagunça estava muito divertida… Eu pensei que chegando lá, o meu estado de euforia seria bem maior do que realmente foi, mas, na verdade, fiquei bem tranquilo, afinal de contas, estava na Bahia, ôxi… Mas somente consegui relaxar 100% após tocar, e como toquei apenas no último dia, eu agonizei um pouquinho durante todo o festival, mas, foi muito bacana pegar a pista já “amaciada”. A missão foi cumprida com êxito!

Marina Tavares – Em sua opnião, como anda a cena eletrônica brasileira?

Kadum – A cada ano que passa ocorrem mudanças, desde que comecei a frequentar eventos em 2007, muita coisa mudou. Ultimamente, eu percebi que vem aumentando cada vez mais o número de festas e frequentadores. É um pouco assustador, eu não consigo ver onde isso vai chegar. Com a facilidade de divulgação para as massas hoje em dia, qualquer um sem experiência, ou com diferentes propósitos, pode fazer uma festa. O ponto positivo é que diversos novos talentos podem surgir, tem espaço para todo mundo no mercado. O ponto negativo é que, muitas vezes, é passada para frente uma mensagem que diverge dos princípios básicos de uma celebração do trance. Acredite, tem alguns organizadores de eventos mal intencionados por aí. Poucas dessas pessoas que vão nas festas que rolam, conseguem perceber a verdadeira essência do trance, a grande maioria está ali e não sabe nem o porque! Novas pessoas estão chegando, e como ainda estão formando uma opinião a respeito do trance, podem estar muitas vezes idolatrando certos ideais, ou músicas e artistas em evidência, que passam uma mensagem muito pobre do conteúdo! Vamos lá galera, reflitam um pouco, queremos psicodelia avançada, música inteligente!

Já com relação aos festivais, eu acho que estão firmando cada vez mais a cultura trance, criando raízes. A interação entre os núcleos vem aumentando. Cada um tem o seu momento, e todos vão se fortalecendo, pelo menos é assim que acho que deveria ser!

 

Marina – Se você pudesse escolher qualquer lugar no mundo para tocar, onde seria?

Kadum – Eu acho que não existe um lugar em específico. Eu quero levar a minha música para o maior número possível de pessoas, viajar os cinco continentes (risos)… Talvez seja um pouco ousadia da minha parte pensar assim, mas é a força de vontade que nos faz chegar lá! Eu tenho muita curiosidade de conhecer a Austrália, diversos artistas de qualidade são de lá, seria muito interessante fazer parte do line up de algum festival do outro lado do mundo, ao lado dos monstros… Eu gostaria também de fazer uma turnê tocando pelos festivais que rolam na Europa! Eu acredito que lá a cena esteja um pouco mais consolidada do que no Brasil, existindo assim um respeito maior, e valorização para o que é diferente, e seja de qualidade. Na hora certa, as coisas vão se encaminhando, aos poucos eu chego lá, talvez, até antes do que eu imagino. Enquanto isso, eu vou buscando o amadurecimento pessoal e profissional.

 

Marina Tavares – De onde você tira inspiração para criar novas músicas?

,Kadum – A inspiração vem de tudo que está presente no meu dia a dia, tudo o que eu vejo, toco, escuto, sinto… Eu também toco em bandas, escuto muita coisa além da música eletrônica. Eu acho legal fugir do convencional, misturar sons, criar ambientes, sensações, explorar diferentes campos harmônicos. Eu gosto de estar com a cabeça livre de preocupações para produzir, quando tenho outras coisas para resolver, às vezes, fica difícil me concentrar. Quando rola uma sequência de eventos para tocar, eu acabo repetindo algumas músicas, inevitavelmente, mas, se tem alguma festa maior para acontecer, sempre que posso gosto de inovar! Trazer algo inédito para os ouvidos da galera, produzindo com prazo marcado e objetividade, geralmente essas tracks ficam muito boas também!

 

Marina Tavares – Já aconteceu alguma situação engraçada enquanto você estava tocando?

Kadum – Inúmeras! Dá para escrever um livro (risos)… Na segunda edição do Fusion Festival, que rolou aqui em Curitiba, eu estava no comando da cdj, e tinha acabado de amanhecer, a pista estava cheia! De repente, um amigo subiu em uma árvore bem alta, ao lado do palco. Ele se empolgou tanto com o som, que começou a dançar lá no topo. O problema é que o galhos lá em cima não são muito fortes, aí já viu… No último kick da última música do meu live, o galho quebrou, e ele caiu lá de cima! A galera começou a aplaudir, tanto a minha apresentação, quanto o cara que se levantou sem nenhum arranhão, e saiu andando como se nada tivesse acontecido (risos)…

Outra situação engraçada aconteceu em Cananéia, um maluco veio ao palco com cinco reais, querendo comprar uma cerveja com o Dj, sem perceber que ali não era o bar (risos)… São tantas situações bizarras, que algumas, eu só acredito vendo!

 

Marina Tavares Quais são os seus hobbies quando você não esta produzindo ou viajando?

Kadum – Putz, tem tanta coisa legal para fazer, mas o meu maior hobbie é estar produzindo (risos)… Eu tento dedicar a maior parte do meu tempo a isso. Quando estou realmente saturado, ou não está rendendo muito, eu vou jogar video game, tem alguns jogos que são muito inteligentes, e estimulam bastante a criatividade, com trilhas sonoras fantásticas. Às vezes, eu também passo o tempo desenhando mandalas, tocando piano, faço filtros dos sonhos, treino a coordenação motora com malabares.Eu gosto de fazer alguma coisa que exija concentração, e tome a minha atenção por completo. Tudo que pego para fazer, eu tento caprichar. Eu também gosto de andar de skate, jogar futebol, improvisar no saxofone, ir pro meio do mato, fazer trilha, subir montanhas, curtir um visual bacana, mergulhar em cachoeiras, por aí vai…

 

Marina Tavraes – Quais são as novidades para este ano?

Kadum – Bom, cada ano que passa está sendo mais promissor. Após a realização de tocar na Bahia na virada do ano, tudo que acontecer daqui pra frente é lucro! Eu tenho várias datas fechadas até o final do ano, se alguém quiser marcar algum evento é melhor ser rápido… Eu também estou com alguns contatos fora do Brasil. Já está encaminhado, mas, ainda não irei revelar muito, pois, eu preciso acertar os últimos detalhes. Mas, eu tenho fé absoluta que tudo vai dar certo, e em breve, teremos novidades muito boas. Eu pretendo também dar continuidade às minhas criações, chegou em minha casa recentemente um piano da família, vou aproveitar para gravar várias idéias. Eu quero criar um novo EP do Kadum pela Kinematic Records, lançar algumas tracks em VA com nomes de peso. Com relação ao live, aos poucos estou incrementando mais o uso de instrumentos como: saxofone, didgeridoo, sintetizadores, entre outros… Tudo ao vivo, trabalhando com alguns efeitos em cima. Novas sonoridades estão por vir!

 

Marina Tavares – Você gostaria de deixar uma mensagem para os seus fãs?

Kadum – Eu acho engraçada essa relação de artista e fã… Na real, parece que todos são meus amigos (risos)… Muito obrigado pelo apoio que sempre tive, isso dá motivação para seguir em frente. Ainda pretendo ir longe, e sem vocês, nada disso seria possível. Enquanto tiver essa confiança depositada em meu trabalho, podem ter certeza que irei me esforçar para fazer o melhor, buscando sempre inovar e trazer novidades, para satisfazer as necessidades auditivas e espirituais que estiverem ao meu alcance!

 

Conheça mais sobre o artista:

https://www.facebook.com/kadumlive

http://www.soundcloud.com/kadumlive

 

Fotos:

Ana Quesado Fotografia

https://www.facebook.com/anaaqsfotografia

 

Juca Bala

https://www.facebook.com/jucabalafotografia

 

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