A XXXPerience do amor, com sua identidade visual completamente renovada, finalmente desembarcou na capital paranaense no último sábado, 27 de abril. Com um line up bem mais enxuto se compararmos com a edição paulista, o evento se mostrou “na medida” para cerca de 14 mil pessoas que se alternaram entre o Union e o Love Stage na gelada noite curitibana.
No palco principal, a sequência de psytrance mais sério e pesado logo no início do evento agradou bastante ao público que chegou cedo e logo ocupou a maior parte do palco principal. Element, Tristan e Avalon foram muito elogiados enquanto arrancavam aplausos em diversos momentos de suas apresentações.
Já Eskimo, Felguk e Dimitri Vegas & Like Mike decepcionaram. O britânico, sempre parecendo “ligado em 220v” apresentou um set marcado por uma grande salada de estilos, com pouca mixagem e músicas totalmente diversas se alternando a cada minuto e meio: de Daft Punk a Skrillex, passando por Prodigy, Nirvana, algumas produções próprias mais antigas, Knife Party (em pleno 2013 tocando a já desgastada Internet Friends), etc. Tudo reunido em um mesmo set, fez o público se entreolhar por várias vezes sem entender muita coisa.
Na sequência, os brasileiros do Felguk e os belgas Dimitri Vegas & Like Mike resolveram apelar para o microfone e para muita gritaria para tentar arrancar alguma reação mais animada do público. A cada 2 ou 3 músicas, era possível ouvir um “Vamo aí galera!” no caso dos brasileiros ou um “Put your fucking hands up!” no caso dos belgas. É um tipo de postura que pode ser popular em festivais na Europa e EUA, mas ficou bastante claro que aqui no Brasil não funciona. Muito menos na fria Curitiba.
Ainda na apresentação de DV&LM, uma cena triste, que tem se tornado comum em eventos de música eletrônica: o excesso de pessoas aleatórias que surgiram no palco, querendo aparecer mais do que os próprios artistas. Entre “vips” e piriguetes, o palco se tornou um quadro da Santa Ceia, ficando difícil até mesmo identificar os 2 DJs em meio a tanta gente. Neste caso, falha da organização/seguranças. A frente do palco deveria ser exclusiva para quem está trabalhando naquele momento (DJs e fotógrafos). Lugar de dançar é na pista, ou para trás do palco, mesmo se você for amigo do DJ.
Já a surpresa positiva da noite veio de um DJ que escolheu um caminho oposto ao dos dos figurões que se apresentaram no horário nobre da festa. Com um Electro mais sério, de poucos vocais e principalmente sem chegar perto do microfone, Wolfgang Gartner salvou a noite dos fãs de Electro que, a essa altura, imploravam por pelo menos 15 minutos de música sem interrupções.
Ao amanhecer, Captain Hook e Day Din empolgaram a verdadeira legião de fãs de progressive que se reuniu em frente ao main stage, tocando a maioria de seus já conhecidos sucessos em sets bastante regulares.
Kanio fechou o Love Stage com chave de ouro e a competência de sempre.
Enquanto isso, o Union Stage começou com um “warm up de luxo” para quem gosta de techno. Os sets de Victor Ruiz e Popof vieram na medida certa pra ir aquecendo o público, que fazia questão de se aglomerar sob a tenda para proteger-se do frio. No ponto alto da noite, Stephan Bodzin apresentou um excelente set, muito superior a outras apresentações dele mesmo na própria XXXperience, sacramentado com um novo live mix para a Phobos – que a cada ano fica mais trabalhada e forte.
Na sequência, Booka Shade apresentou um som competente – mesmo que inferior à apresentação deles na XXXperience de 2009, valeu a queda de 2 horas. Ao amanhecer, foi a vez do bonde do warung tomar conta do local: Kolombo, Lee Foss, Renato Ratier fizeram as apresentações que todos nós já sabíamos que aconteceriam, demonstrando que são nomes que precisam “tirar uma folga”, para dar tempo para estes renovarem seus repertórios antes de voltarem pra cá. Neste horário, destaque para Fabo, curitibano que está ganhando o mundo com suas produções criativas e inovadoras.
Destaque Negativo: infelizmente presenciamos uma cena lamentável no início do evento. Um grupo composto por dezenas de pessoas invadiu a festa, pulando as cercas de metal que delimitavam o evento, correndo para o meio da pista. A equipe de seguranças conseguiu retirar alguns, mas boa parte permaneceu escondida entre a multidão.
Vale lembrar que as edições da XXXPerience realizadas em Curitiba sempre foram famosas pela organização impecável, sempre muito superior à maioria dos eventos de música eletrônica realizados no resto do Brasil. Este foi certamente um fato isolado, impossível de ser previsto pela equipe de seguranças. No entanto, serve de alerta para os próximos eventos na Fazenda Heimari que, nos últimos tempos, deixou de ser um lugar relativamente isolado e passou a ter uma favela em franco crescimento se formando logo ao lado.
No mais, o evento contou com uma ótima organização, com grande quantidade de bares e atendentes sempre educados, banheiros sempre limpos (com direito até a pia e espelho) e com pouca ou nenhuma fila nos caixas. A T2 Eventos mais uma vez mostrou a competência de sempre.
Destaque positivo: a invavasão catarinense. Não conseguimos descobrir a quantidade exata de excursões de Santa Catarina presentes no evento, mas em certos momentos, tínhamos a nítida impressão de que pelo menos 30% do público era de Baln. Camboriú, Joinville e região, todos em grupos devidamente identificados pela bandeira do estado. Fato que deixa claro a força da XXX Curitiba e ao mesmo tempo expõe a carência de eventos desse tipo em terras catarinenses.
No final, o público em geral saiu bastante satisfeito, mais uma vez, “com gosto de quero mais” e aguardando a próxima XXXPerience Curitiba.
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