Entrevista: Du Tiberani

Publicado em 26/08/2013 - Por Mohamad Hajar

Um agente importantíssimo no mundo da música eletrônica, mas ainda obscuro para muitos, é a agência de DJs. É ela quem cuida da carreira dos principais artistas, faz a ponte entre eles e os eventos e muitas vezes organiza o line-up inteiro de um ou mais palcos. Normalmente ela tem papel crucial na formação de cada geração de ídolos, e do deslanche da carreira de muitos que só precisavam de um “empurrãozinho” para alcançar o sucesso.

Bem, para nos ajudar a desvendar os mistérios desse “mundo de agência” conversamos com Eduardo Tiberani, vulgo Du Tiberani, DJ e um dos proprietários da UltraXpedition.

ENTREVISTA

Mohamad: Boa tarde Du, tudo bem?
Du Tiberani: Olá, tudo bem! 

M: Você é uma das cabeças à frente da agência UltraXpedition. Como funciona o negócio?
D: Atualmente, sou sócio proprietário, junto a mais 2 sócios. Bom, nossa agencia trabalha unicamente com artistas no seguimento eletrônico, tanto artistas nacionais e internacionais. Em nossa sede temos uma equipe que diariamente trabalha tanto com o marketing ativo e receptivo. O foco é proporcionar aos nossos clientes um excelente produto (artista). E hoje posso afirmar que temos um grande diferencial no nosso conteúdo artístico. O que nos possibilita atender dos pequenos aos grandes eventos.

M: A UltraXpedition é parte da escola Ultra DJs? Qual a relação entre as empresas?
D: Na realidade a Ultra DJs é uma escola de produção musical e cursos para DJs que esta no mercado a 10 anos, com seu proprietário Lucas Carrilho. Enquanto isso existia a Xpedition Artists, criada e administrada por mim. Após algumas conversas, trocas de opiniões achamos por bem nos unirmos em prol de uma nova marca para gerenciamento artístico, e surgiu a UltraXpedition. No entanto até hoje são duas empresas distintas.

O processo foi mais simples que imaginávamos, pois temos opniões muito semelhantes. Para dar inicio a UltraXpedition, ampliamos alguns padrões quais eu já praticava na extinta Xpedition Artists. Aprimoramos alguns métodos de marketing e até mesmo a forma como trabalharíamos com os artistas, que não se resume em apenas bookings, mas sim uma assessoria ao artista. Temos que mostrar e fazer com que nossos clientes externos e internos (artistas) se sintam confortáveis e confiantes no nosso trabalho. Caminhamos em passos curtos porém firmes, o mercado esta em um momento delicado e não podemos correr riscos. Com 1 ano de vida, a UltraXpedition esta bem consistente. Estamos satisfeitos com os primeiros resultados.

M: Que grandes nomes internacionais vocês trabalham atualmente? E quais já trabalharam no passado?
D: Bom, boa parte dos artistas que faziam parte da Xpedition Artists, naturalmente migraram para a UltraXpedition, e reforçamos o nosso time.
Já trabalhamos com um dos mais consagrados artistas do minimal, Autistic, infelizmente projeto que não existe mais. Entre os que migraram e reforçaram, hoje trabalhamos com Format B, Daniel Steinberg, Roy Rosenfeld, Min & Mal, Jay Lumen, Sebastien Leger, Juan DDD, Round Table Knights, Alex Young, Alex Galvan, Daniele Petronelli, Andhim, SuperFlu, Frivolous e Konstatin Yoodza, além de outros artistas em parceria com agencias internacionais.

M: Como é o contato com os DJs gringos? Como você negocia a tour… os valores, a exclusividade para sua agência?
D: Bom, confesso que parte do meu trabalho é vasculhar a internet procurando artistas de talento sejam novos ou veteranos. Tenho que garimpar bem, é necessário nos adaptarmos a realidade e aceitação dos artistas no Brasil mediante ao público. Quando um artista que identifico ideal para o nosso mercado, apresento nosso trabalho, e estudamos as possíveis datas a melhor época para traze-los ao nosso país.

M: …os valores…
D: Os valores… bem… essa é a parte mais difícil! Temos artistas que cobram em euros outros em dólar. Esse é o nosso primeiro desafio, para adequarmos a realidade financeira local e reverter em reais, além de custos com passagens aéreas, hospedagem e demais despesas como visto de trabalho. Mas no final sempre deixamos da maneira mais viável possível para que o nosso mercado não seja super-inflacionado. 

M: …e a exclusividade para sua agência?
D: A exclusividade é essencial. Pois o que parece fácil não é. Imagina, trabalharmos a imagem e o material do artista, e em questão de dias ou meses, todo o trabalho que fizemos, o artista resolve trabalhar por conta própria? Todo nosso trabalho foi apenas em prol do artista? Não! Tem que existir um acordo mútuo, para o crescimento de ambos. E o ponto mais importante da exclusividade é simples. Na minha opnião o artista deve se preocupar em estudar e se aprimorar cada vez mais em música/produção para fazer com que suas apresentações sejam cada vez melhores.

A preocupação da parte burocrática, como contratos, passagens, hotel, pagamentos entre outros detalhes deve ser do Manager/Agencia.

M: E os DJs nacionais, como funciona a peneira para ser parte da agência? Se um leitor quiser fazer parte, como ele deve proceder?
D: Tenho que confessar, esta é a parte mais difícil. Hoje temos inúmeras opções, o Brasil e beneficiado de muitos artistas de extrema qualidade. Não existe um processo específico de peneira, mas sim um acompanhamento diário de diversos artistas, qual nos procuramos enxergar suas devidas qualidades e pontos que devem ser melhorados. É um pouco ingrato essa parte, eu mesmo gostaria de poder ajudar, dezenas até centenas de DJs. Mas infelizmente tenho que filtrar muito bem.

Para fazer parte do nosso casting, não vejo segredos, acho que detalhe básico e o DJ ter foco, determinação e temos que ver que de fato ele estuda, procura adquirir conhecimentos enfim, leva a coisa a sério. Temos artistas veteranos e sempre apostamos e acreditamos muito em novos talentos. Mas, adianto. Agencia não faz milagre, ela soma e contribui para o crescimento do artista. Aos leitores, o método é o mesmo, a UltraXpedition, acredita em quem realmente entende, compreende e acredita na musica. E dela, fazer o seu trabalho de forma séria.

M: Qual sua opinião sobre o mercado da música eletrônica no Brasil hoje? Há espaço para todos ou está muito restrito a “panelas” e estilos específicos?
D: Acredito que o mercado atualmente ainda passa por uma transformação revolucionária. Por anos fomos vítimas de sub-generos, que confundiu muito o público. Com isso perdia-se público nos eventos, e não só isso, mas também iniciantes que criavam seus eventos sem um basico conhecimento, o que naturalmente deixava a desejar. A “galera” do cenario eletronico é muito exigente, dos simples aos mais importantes detalhes. O mercado sofreu muito com eventos onde a única preocupação era montar line up. Acredito que tem espaço para todos sim.

Existem as “panelas” claro, o que eu particularmente acho absurdo, penso que a receita do sucesso não é se isolar ou ter o seu grupinho, mas sim ampliar seus contatos, clientes, amigos. É básico, se houver soma sem dúvida o resultado e positivo para todos. Estilos, aí esta um problema gigante. O publico brasileiro tem o hábito de ouvir o que esta na moda, o que faz com ele deixe ou esqueça de conhecer coisas novas e apreciar coisas antigas..

A música hoje, diria que mundialmente, pode proporcionar a nós diversos generos. Sou do tipo que ouço o que agrada meus ouvidos e não o que esta na moda. Ja tivemos época do psy, trance, electro, dubstep, techno, house, deep house, tech house, minimal. Mas fica a pergunta: Devemos ouvir só quando esta em evidencia? Qual a razão de não proporcionar seja qual for o genero, mas com frequencia, com coerencia?

Ironicamente, o culpado não é o público, e sim os produtores de eventos, acredito que o produtor é o grande responsável em levar a música ao publico. Ele tem o poder de educar toda essa “galera”. Mas fica o medo “vai ou não vai bombar” a minha festa? Faça com seriedade, competencia, que sem dúvida vai dar certo.

M: Algum projeto grandioso que tenha rolado em 2013?
D: Estou certo que entre nossas grandes conquistas, o que se destaca foi a parceria que tanto a UltraXpedition quanto a Ultra Djs firmou com a Electrance. Um evento de grande importancia no calendario paulistano. Ficamos muito felizes.

M: Como você faz pra conciliar sua carreira de DJ com a profissão de manager/booker?
D:
Não é tão simples. rs…. Mas a cada negociação tenho que ser o mais coerente possível. O cliente tem e deve ter a liberdade de escolha do artista. Quando atuo como Manager/Booker ele trata com o Eduardo, porém o cliente tem a opção de contratar o Du Tiberani. Em muitos casos devido a amizade e até mesmo por ele se identificar com o meu trabalho acontece sim a contratação, mas isso não é regra tão pouco condição.

M: Como surgiu a vontade de trabalhar com música eletrônica?
D: Vou resumir… Desde 1997, ouço musica eletronica, e por curiosidade fiz um curso para DJ’s. Em 2001 fui pela primeira vez em uma festa open air, dai surgiu a vontade de atuar. Após alguns anos estudando, me aprimorando e amadurecendo a idéia de ser um Dj. o que felizmente aconteceu e vem dando certo. Com o tempo surgiram muitos amigos, contatos com outros Djs nacionais e internacionais, devido a minha profissão antiga ser ligada á publico e vendas, decidi tornar estes contatos em trabalho. O que resultou no meu trabalho com agenciamento artístico.

M: Você pretende investir mais na carreira de DJ em 2014? Quais são os planos?
D: Sim, pretendo. Penso de alguma forma criar mais diferenciais em minhas apresentações, isso vai desde sons novos e muito particular, além de uma performance diferenciada durante minhas apresentações. Sinto que cada vez mais o público gosta e quer interagir com o DJ, pois é neste ponto que me apego e penso em inovar, nao sei ao certo como, mas tenho algumas ideias. Tenho meu estilo de interagir, o que acredito que agrade o publico, mas criar diferenciais é sempre bom.

Outro investimento que diria “audacioso” , é o meu projeto TI & Ti, junto ao meu amigo Tiago Garbin. Adotamos uma postura diferenciada para iniciarmos nossa jornada. Focados em produzirmos nossas próprias faixas, com intuito de alcançar as maiores gravadoras. Queremos que o mercado eletrônico ouça , curta e pergunte: Quem é Ti & Ti? Estamos amadurecendo nossas produções, algumas delas já lançadas no Beatport por diferentes gravadoras, e nossas apresentações que sera no formato Live, a partir de fevereiro de 2014.

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