Comunicação – o maior problema das festas brasileiras

Publicado em 04/09/2012 - Por Mohamad Hajar

Era da Informação. O jargão preferido de 10 entre 10 publicitários, mercadólogos, marqueteiros, analistas de social media para nomear o momento em que vivemos. Como não somos um site de comunicação e marketing, não me alongarei muito dizendo o óbvio: hoje em dia o principal meio de comunicação entre marcas e consumidores é a internet, e o veículo do momento é o Facebook. As festas de música eletrônica do país já aprenderam isso – vide o crescente investimento em Facebook ads e Google AdSense/AdWords, em detrimento a flyers, cartazes e outras mídias tradicionais. O problema, é que eles faltaram algumas aulas, e estão ignorando alguns fatos importantíssimos relacionados ao mundo da internet e das mídias sociais.


Facebook: você está usando isso errado.

USE A FERRAMENTA DA FORMA CORRETA

VOCÊ NÃO É UM GRUPO

Parece ridículo começar pelo básico, mas vocês sabem que é necessário. Ao contrário do Orkut, o Facebook é uma ferramenta incrível para marcas de todos os ramos. Ele possui diversas formas de comunicar cada coisa, possibilitando até a não-existência do tal “site oficial” em alguns casos. Porém, existem festas que ainda não aprenderam a usar estas maravilhas – e nem fazem questão, pelo jeito.

É muito comum ver DJs e eventos criando grupos para auto-promoção, em vez das corretas fanpages. Por que grupos são ruins? Bem, a começar pela forma de ingresso: forçada. Um dia você acorda, abre seu Facebook e descobre que foi adicionado a um grupo desconhecido, que está lotando sua caixa de notificações com spam. Qual a sua primeira impressão da “marca” – seja um DJ ou uma festa? Sim, péssima. Você não pediu para estar ali, você talvez até fosse gostar dela, mas a invasão já te causou uma primeira repulsa.

 


50% das minhas notificações são assim.

 

Fanpages são ótimas, pois são de adesão espontânea. É muito mais difícil conseguir fãs do que membros em grupos, mas acredite: o fã é fã mesmo, e faz questão de receber cada um dos seus conteúdos.

O MEU ROSTO NÃO ESTÁ NO SEU FLYER

Outro vício dos “promoters” da cena é marcar o máximo de pessoas possíveis em uma foto. Bem, o recurso de marcar fotos foi criado para identificarmos nossos amigos em uma foto que publicamos, como um aviso de “esse aqui é o fulano” para o público geral – será que é tão difícil assim compreender que ele NADA tem a ver com divulgação de eventos?

Marcar 50 amigos em um flyer não trará resultado. Destes, alguns exigem aprovação para a marcação ser efetivada – sua marcação ficará eternamente pendente em uma lista de aprovações e você jamais saberá. Outros ficarão putos, pois zelam pelo seu perfil e não gostam quando abrem seu álbum de fotos e vêem mais imagens de flyers alheios do que fotos próprias. Alguns ficarão mais irritados ainda pois sequer simpatizam com a sua marca ou a apoiam, e você usou de uma falha do Facebook para divulgar seu evento para os amigos dele – quase um estupro.


Você acha mesmo que estas 50 pessoas gostaram de ser marcadas? Isso vai fazer elas irem na festa?

Esta prática tanto é mais grave que a outra, que é uma infração às regras do Facebook. Minha sugestão? Toda vez que for marcado em uma foto indesejada, denunciar como spam no ato. Acredite, funciona – em alguns dias o meliante ficará proibido de marcar qualquer pessoa em fotos (e ainda irá reclamar na timeline, xingando o Facebook pelo absurdo).

A PERSONALIDADE DA MARCA

Saindo do “Facebook for dummies” e entrando agora em conceitos mais avançados, alguns organizadores se esquecem que uma marca tem personalidade. Quando você vai a uma Tribe, você está indo a uma Tribe, e não à “festa-do-Du-Serena“. Aliás, boa parte do público sequer sabe que aquele meninote que sempre toca nas Tribes é, na verdade, o dono da festa. O fato é que as festas estão se esquecendo que a sua marca nem sempre é você, e o maior reflexo disso é vermos fanpages oficiais tornando-se extensões do perfil pessoal do dono – ou pior ainda: do estagiário de mídias sociais.

O QUE VOCÊ DEFENDE? O QUE VOCÊ CONDENA?

Não só para internet, mas para a comunicação como um todo, é importante definir quais valores são defendidos e condenados pela marca. Falando especificamente do mundo da música eletrônica, é importante as marcas decidirem seu posicionamento diante de temas polêmicos da nossa cena, como por exemplo: descriminalização das drogas; DJs celebridades; dead-acts; mainstream vs. underground.

Não é feio assumir uma posição neutra, como dizer que tanto mainstream quanto underground possuem seu espaço e seu valor e devem coexistir, mas é obrigatório ter uma opinião formada sobre cada assunto. E antes de definir qual é a opinião, lembrar que uma grande marca é uma grande formadora de opiniões, e uma publicação mal explicada pode causar danos irreparáveis – tanto para si própria, quanto para terceiros. Ataques geralmente devem ser muito bem planejados, ou então reservados para os perfis pessoais dos donos. Vale sempre lembrar: Quem tem Aoki de vidro, não joga pedra na House Mafia do vizinho!

QUEM É VOCÊ, AFINAL?

Sua festa é mainstream? Roots? Underground? Eclética? Deixe isso CLARO para o público. Infelizmente, a cena está cheia de gente intolerante, e xiitas do psy odeiam quando o low bpm (sic) invade suas festas, assim como o pessoal do electro acelerado não gosta quando o deep “arrastado” corta sua vibe.

Uns 5 anos atrás era muito difícil dizer a diferença entre XXXperience, Tribe, Kaballah e Tribaltech. Hoje já é bem claro qual delas é a pop mainstream, qual é a roots, qual é a que sempre aposta em inovações e qual é a mais underground. O sucesso que as 4 obtiveram ao encontrar sua personalidade e ater-se a ela deveria servir de exemplo para todas as festas de médio e pequeno porte que ainda procuram fincar suas raízes na cena nacional. Se o público for ao evento sabendo o que vai encontrar, dificilmente ele irá reclamar depois.

MEMETIZAÇÃO E ORKUTIZAÇÃO

Memes possuem um efeito 8 ou 80: se a idéia for bem sacada, será muito bem recebida, mas se for forçada, virará motivo de piada e pode até cair em páginas indesejadas, como Porra DJ ou Humor Eletrônico. Se quer entreter seu público e descontrair um pouco, o faça de forma decente – você quer ser o CQC ou o Zorra Total?


Não basta a piada ser ruim e não fazer sentido, tem que ter um erro de português grotesco nela.

E falando em Zorra Total, identifique seu público. Se você está fazendo um evento para classe A e B, jamais faça memes com imagens da novela das 9, com o bonde da Oakley/Evoke, com piadas do Ary Toledo. Se está no Facebook há mais de 1 ano, você já percebeu que os hipsters, ricos e early adopters são extremamente intolerantes contra esse tipo de orkutização – e por mais chatos que eles sejam, muitas vezes são os únicos dispostos a gastar 50, 100, 200 reais em uma festa.

RESPEITANDO O PÚBLICO

Nesse tópico não vou falar sobre oferecer estrutura decente, banheiros limpos, preços justos e coisas do gênero. Estes itens são obrigação, e uma festa que não atenda a eles não deveria nem abrir suas portas. Lembrem-se: o foco do artigo é a comunicação.

O SEU CONSUMIDOR NÃO É OTÁRIO

Não venda gato por lebre – o público está cada vez menos desinformado. Não diga que você é o maior, o primeiro, o principal, o melhor melhor do mundo, quando você não for. Aliás, não diga nunca – se você for o melhor, as pessoas já saberão sem você dizer.

Um imprevisto aconteceu? Problemas? Jogue LIMPO com o público. Se o DJ cancelou a tour, apresente a justificativa do artista ou da agência, peça desculpas, ofereça uma compensação e proponha-se a reembolsar quem sentir-se lesado. O som estava baixo? Justifique-se! Foi exigência da polícia? Foi fornecedor que instalou um sound system ruim? Foi o DJ que não soube configurar seu próprio equipamento? Conte ao público, ele merece saber. Mas claro: cuide para não repetir o problema na próxima edição.


Dimitri Vegas & Like Mike cancelaram a tour brasileira dessa semana. Semana passada o Bielle avisou seu público, já outras casas ainda estão fingindo que nada aconteceu…

Vai mudar de data para fazer uma festa melhor? Bem, esse assunto merece um tópico próprio.

O CASO XXXPERIENCE

Este artigo está na minha lista de pautas há meses, mas foi o caso XXXperience que me estimulou a fazê-lo agora. Se você acabou de sair da criogenia, explico de forma breve: a festa, marcada para acontecer no dia 3 de novembro (sábado), com 26 atrações já confirmadas, foi adiada para os dias 18 e 19 de novembro (domingo e segunda). Para maiores informações, leia o artigo sobre o assunto que escrevemos ontem.


Mesmo aonde é feriado, e quem não emenda? Fácil, hein?

A mudança causou uma revolta IMENSA no público e em nós, pois metade da festa acontecerá numa segunda-feira que é véspera de feriado apenas em São Paulo e mais meia-dúzia de cidades no país, ou seja, o resto do Brasil se revoltou contra a mudança. Depois de conversar com diversas pessoas, envolvidas e não-envolvidas com o festival, digo a vocês: a falha foi MUITO maior da comunicação do que da organização. Foi uma crise pessimamente administrada pela assessoria do evento, e vocês vão entender porque.

A idéia de fazer um festival de dois dias é mais antiga do que vocês imaginam – era o projeto original, adiado pois o SWU havia marcado seu evento de 3 dias para o mesmo feriado. Como o festival pseudo-ecológico foi cancelado, a tentação de retomar o projeto original foi grande – mas com uma mega-campanha em curso, como fazer?

Com certeza não é sendo sarcástico com seu público “contorcente”. 

Deveria ter sido divulgado que a festa do dia 3, que todo mundo estava ansioso para ver, alguns com ingresso comprado já, foi transferida para o dia 18 – um domingo. O país todo pode prestigiar, assim como faria no dia 3. OK, chegar na madrugada de domingo em casa pode não ser bom para a produtividade da segunda, mas é passável – houve épocas em que as raves eram day parties de domingo e ninguém se queixava. No ato deste anúncio, uma forma de reembolso: é direito do consumidor desistir da compra, caso o produto mude. É LEI, deveria ter sido a primeira coisa a ser anunciada.

Depois de administrada essa parte da crise, o anuncio mais doloroso: um segundo dia para a festa, na véspera do feriado paulistano. O resto do país ainda teria direito à festa que havia sido anunciada até então, no domingo, e digamos que uma “festa extra” aconteceria no dia seguinte, para os afortunados que podem usufruir do feriado emendado.

Desta forma, as críticas e reclamações seriam bem menores, e mais facilmente contornáveis. Como diz o título do tópico anterior, o consumidor não é otário, e como diz o título do artigo, o maior problema das festas é a comunicação. Porém, os gestores do Facebook da XXX além de terem errado na mão, estão deixando suas emoções pessoais interferirem, portando-se de forma sarcástica diante das reclamações. E assim, está sendo assassinada uma das maiores e mais antigas marcas da nossa cena.


Desta proporção? Me conte mais sobre os 16 palcos, 300 artistas e cenografia impressionante que estão preparando.

Festas, para não enfrentarem um mar de reclamações e opiniões negativas é só jogar limpo e respeitar seu público. Nós não somos otários e nem crianças de 5 anos, vocês podem conversar conosco do mesmo nível que falam com um patrocinador ou uma agência de DJs internacional – te garanto que vamos compreender e apoiar toda crise que enfrentarem.

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A minha intenção com esse artigo não é atacar ninguém. Está mais do que claro que a década de 10 é o momento da música eletrônica dentro da cena global de entretenimento, agora cabe às festas, os principais fomentadores de música e conteúdo dentro da cena, posicionarem-se de forma profissional e correta, para que esta nossa paixão obtenha êxito na consolidação dentro da cultura geral do país. O nosso desejo é que um dia festas de música eletrônica, como XXXperience, Universo Paralello, Dream Valley, Tribaltech, sejam tão lembradas e respeitadas no imaginário da nação como hoje são os festivais de pop-rock, como Rock In Rio, SWU, Planeta Terra, TIM Festival.

Lembrando que todas as dicas servem também para sites, e o Psicodelia.org cuida para seguir cada uma delas 😉

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