Kranti evolui a cena sem deixar as origens

Publicado em 04/07/2016 - Por Camila Canabarro

O Festival Alternativo de Kranti é um dos mais tradicionais e antigos do Brasil. Sua próxima edição acontecerá entre os dias 15 a 18 de julho (com direito a pista de skatee vai comemorar 17 anos de uma trajetória repleta de histórias. O Psicodelia bateu um papo com o próprio Kranti e reunimos um pouco da história para você ficar por dentro desse evento tão tradicional, confira:

Um pouco de história

Kranti Pessoa é o idealizador que dá nome ao festival que sempre acontece em julho caindo na data do seu aniversário. Kranti já frenquentava festas de Psy trance em Goa na Índia nas décadas de 80 a 90 e, ao conhecer a fundo essa subcultura, as sonoridades o fascinaram e quando voltou ao Brasil começou a participar de pequenas festas em Trancoso, Bahia, junto com importantes personalidades que estão até hoje na cena.

O festival surgiu após um evento que o próprio Kranti fez em Alto Paraíso com a duração de 10 dias intitulado de Spadelic que contou com a ajuda de Rica amaral, Feio, Ekanta, Swarup e outros velhos conhecidos da cena. Quando completou 10 anos de existência, o F.A.K. encerrou um ciclo. Foi nessa edição que receberam um maior número de pessoas e perceberam que o evento tinha tomado grandes proporções.

Um local especial

Alto Paraíso de Goiás é considerado por muitos o “centro cardíaco do planeta” e foi palco de quase todas edições do F.A.K. Em 2015, por perseguição de autoridades Estaduais e Federais, o festival não pode acontecer na cidade, porém, esse ano ele retorna à região, na rodovia que liga Brasília à Chapada, antigo refúgio místico que sempre foi a marca do Kranti.

Situada há 140 km do novo local do F.A.K., a cidade de Alto Paraíso foi um dos tripés do trance brasileiro, tendo sido além de berço do F.A.K. em 1999, também da Trancendance (2000) e do Universo Paralello (reveillon 2001). Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, Alto Paraíso recebe turistas do mundo inteiro atraídos pela beleza do lugar que conta com centenas de cachoeiras de diversos tamanhos e cores.

Mas como nem tudo são flores, quando comenta sobre políticas de redução de danos o idealizador do evento diz que esse assunto ainda é um tabu mesmo em uma cena que carrega o espírito de liberdade. Kranti afirmou que em Alto Paraíso é impossível trabalhar com políticas de redução de danos devido às autoridades, que entendem a prática como apologia às drogas.

Evoluindo a cena sem esquecer a essência

“Antigamente as festas eram mais puras e idealizadas, apesar de contarem com um orçamento mais modesto, estruturas menores, as festas tinham mais refecia e a essência era bem mais trabalhada e respeitada”

Essa é uma questão que Kranti leva ao pé da letra. Muito se discute sobre a essência do trance e sobre como é difícil manter o espírito do PLUR em uma cena tão grande. Antigamente, com festas menores, sem muita divulgação, só participava quem realmente se interessava muito pela cena. Porém, hoje tudo é bem diferente. Atualmente uma das preocupações do Kranti é manter essa essência acesa, o que pode ser considerado por si só um enorme desafio.

Nova programação

Devido a uma série de fatores Kranti reduziu a duração do festival, mantendo os principais artistas de maneira que mesmo com período reduzido o evento continue tendo uma altíssima qualidade sonora. Os ingressos ficarão um terço mais baratos, passando de R$150,00 para R$100,00.

O camping abrirá e fechará nos dias já programados. 15 a 18 de julho. Os palcos serão abertos às 12:00h de Sábado e irão até a 18:00h de Domingo.

 

Confira a entrevista:

Lemos na sua biografia que junto com Ekanta, Rica, Feio e Swarup você foi um dos responsáveis por trazer festivais de psy trance para o Brasil. Como é para você estar à frente de um dos mais importantes e antigos festivais de contra cultura do Brasil?

Me sinto lisonjeado em poder trazer o verdadeiro e puro espírito da rave, a junção de amigos celebrando a música trance, que te proporciona o transe em meio a natureza.

 

Você teve a oportunidade de participar de festas de Trance em Goa, na Índia quando essas festas ainda nem existiam no Brasil. Como você compara a cena de hoje com a daquela época?

Como tudo na vida muda, as gerações se renovam, a cultura se transforma, as festas também mudaram. Antigamente as festas eram mais puras e idealizadas, apesar de contarem com um orçamento mais modesto, estruturas menores, as festas tinham mais refecia e a essência era bem mais trabalhada e respeitada. Inclusive esse é uma das nossas grandes preocupações, evoluir com a cena sem esquecer as origens e a essência que nos acompanha desde o 1° festival.

 

Como surgiu a ideia de trazer uma pista de skate para o FAK?

Nesta edição procuramos um local que trouxesse o Festival pra perto de suas origens, que é a Chapada. E esse local na EcoVila da Lagoa tinha um grande diferencial que é o bowl de skate, a lagoa para prática de KitSurf e cabble board, que permite que novas integrações aconteçam, recheando, e dando vida e cara nova ao FAK.

 

Quando o Kranti iniciou seus trabalhos a cena era muito menor, hoje com tantos festivais focados no trance como é possível se diferenciar dos demais sem fazer mais do mesmo?

Meu diferencial é a oportunidade para novos trabalhos. O que o FAK valoriza é o amor a música e a cultura eletrônica dando oportunidades a quem faz a cena nacional acontecer. Desde sua primeira edição até hoje o FAK tem sido caracterizado como um encontro nacional do trance brasileiro entre DJ’s, decoradores, organizadores, performances e públicos envolvidos com o movimento em suas regiões.

 

 

Atualmente tem se falado muito em políticas de redução de danos nos festivais de música eletrônica, conversamos com um desses projetos o ResPire e descobrimos que muitos organizadores ficam receosos na hora de implementar projetos como esse. Como o FAK lida com essa situação? Quais projetos de redução de danos vão estar presentes no festival?

Em Alto Paraíso era praticamente impossível, pois as autoridades entendiam que isso funcionava como apologia. No momento estamos sondando como uma possibilidade, pois acho uma atitude muito válida, inovadora e importante.

 

Passaram-se 17 anos desde a primeira edição do FAK, para você essa é uma edição especial? Conte para nós situações que marcaram as edições antigas e que ficaram na lembrança

Sem dúvida é uma edição muito especial, com a volta do FAK pra perto do seu berço de origem, a região de Alto Paraíso depois de 2 anos de afastamento devido as mais diversas perseguições. Neste ano, por exemplo, acontecem vários festivais simultâneos ao meu, em meio a crise financeira que atravessamos, mas honrando nossas origens de resistência e persistência, insistimos em novas de formas de trabalho que tornaram a execução do FAK2016 possível.

 

Não deve ser nada simples organizar um evento dessa proporção. Durante o festival você tira um tempo para curtir? Tem algum projeto que queira ver?
haahaha costumo brincar que a melhor festa é a dos outros, na minha é uma correria total. Mesmo no meio de muito trabalho, consigo ter uma ampla visão de tudo o que acontece no festival, presenciar e observar breves treixos de apresentaçoes, oficinas, Djs, público. É maneira que consigo captar a alegria e a satisfação do publico.

 

Há 17 anos atrás não existiam redes sociais e a internet não era nada comum. Quais as maiores dificuldades em produzir um festival no final dos anos 90/começo dos anos 2000?

Um grande desafio antigamente era conseguir público nas festas, já que a cena era bem mais restrita do que hoje. Não tínhamos as mesmas proporções de divulgação como temos atualmente. O contato entre a própria equipe era mais difícil, principalmente por sempre estarmos em regiões mais remotas e de difícil acesso. Hoje podemos dizer que esses desafios serviram para impulsionar nosso crescimento e nos preparar para as diferentes dificuldades que encontramos a cada nova edição. E sinceramente? Hoje há mais dificuldade em produzir, pelo preconceito que cresceu muito, pela pressão midiática, pelas picuinhas entre produtores, os críticos de plantão nas redes sociais que muitas vezes baseiam seus julgamentos em outras opiniões e não na experiência propriamente vivida, e sempre a inveja que a grande arma dos incompetentes.

 

A página do festival no Facebook diz que você é astrônomo e astrólogo. Conte pra nos como você concilia essas duas ocupações.

Sempre cabe lembrar que Isaac Newton, o pai da fisica era astrólogo e astrônomo também. As duas coisas não são excludentes, a astronomia estuda a posição o movimento dos astros no céu e a astrologia como uma ecologia cósmica estuda a influencia do sol da lua e dos planetas do sistema solar em nossas vidas e no ecossistema terrestre.

 

Saiba mais:

  • FAK – Festival Alternativo do Kranti
  • Quando? 15 a 18 de Julho
  • Onde? Alto Paraíso de Goiás
  • Mais Informações: Facebook e Site Oficial

 

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