Raves viram tema de dissertação de mestrado – continuação

Publicado em 15/05/2008 - Por Eliel Cezar

Como promessa é dívida, hoje continuaremos a falar sobre a dissertação de mestrado que estudou as raves, procurando identificar se elas poderiam ser caracterizadas como territórios autônomos. Confira aqui o primeiro artigo, publicado semana passada, apresentando a dissertação de Alexandro Camargo. O objetivo de Alexandro era descobrir se as raves atuais podem ser consideradas Zonas Autônomas Temporárias (TAZ), espaços de libertação, onde a regra é não precisar seguir as regras socialmente impostas, e nos quais a presença do Estado seria mínima ou inexistente.

GEOGRAFIA PSICOLÓGICA

Como o referencial teórico do trabalho foi a Geografia Psicológica e, como já teve gente nos perguntando o que seria esse conceito, vamos à explicação do termo. Bem a grosso modo, podemos dizer que a Geografia Psicológica analisa as interações entre o ambiente, o espaço geográfico, e as características psicológicas das pessoas que nele habitam. Trata-se de considerar o impacto da construção do espaço na construção da identidade dos indivíduos.

A PESQUISA

Tendo a Geografia Psicológica como referencial, para estudar as raves, o pesquisador foi a seis festas. Esteve em raves de grande porte e também em PVT´s (todas em Cuiabá) e entrevistou alguns de seus freqüentadores. Nas respostas, puderam ser identificados alguns comportamentos típicos. Seja na restrição de seu comportamento, na escolha rigorosa dos gestos e das roupas que irão vestir ou nos meses de malhação nas academias (com aquela forçadinha para parecer mais forte no dia da festa), boa parte dos ravers anda mais preocupada com sua aparência do que com sua libertação das prisões da vida cotidiana. Olha só como Alexandro descreveu as vestimentas características: “Como todo produto apropriado pelo capitalismo, há uma forma única de se vestir: Mulheres usam bota montaria, cartucheira, blusa tipo regata, shorts e minisaias, caracterizando as chamadas biscatrancers. Os homens usam jeans cargo, tênis e ficam descamisados, caracterizando assim, os chamados bombatrancers.” Ops, não é exatamente assim? Embora nem todos sejam assim, dá para ver claramente que há um padrão.

CONCLUSÕES

A pesquisa concluiu que as raves atuais não podem ser encaixadas dentro do conceito de territórios autônomos, porque o conceito pressupõe liberdade de ação. Nele não cabem “comportamentos típicos”. Assim, as raves tornaram-se mais um entretenimento que, nascido em um meio alternativo, caminha para a uma certa “industrialização”. E isso implica em produção em massa, falta de espontaneadade, liberdade e originalidade. Na próxima quinta-feira, não deixe de conferir o que Alexandro Camargo, o próprio autor do trabalho, tem a dizer sobre o tema em uma entrevista cedida ao Psicodelia. Vamos também disponibilizar a dissertação, na íntegra.

TRABALHOS SOBRE RAVES

Vale destacar que não é a primeira vez que as raves viraram objeto de estudo. Outros trabalhos que abordaram as festas podem ser encontrados na própria pesquisa de Alexandro. O Psicodelia recebeu ainda um e-mail informando que a pesquisadora mineira Ana Flávia Nascimento estudou em sua dissertação o “Festivais psicodélicos na era planetária”. Já entramos em contato e estamos curiosos em saber o que exatamente a pesquisa encontrou.

[products limit="8" orderby="rand" order="rand"]