Xamã Contemporâneo

Publicado em 28/09/2008 - Por

Qualquer semelhança com a música eletrônica é mera coincidência? Não, não é. Aí nos perguntamos: qual é a relação entre a cultura dos povos antigos e as recentes festas de música eletrônica? O processo só se modernizou com o aparato da tecnologia. Ao invés de chocalhos, são picapes computadorizadas. Já dizia Lavoisier: nada se cria, tudo se transforma. Na tradição indígena, o xamã é o mediador entre o mundo dos vivos e o mundo espiritual. E para chegar ao outro plano usam plantas com propriedades químicas que alteram a percepção. Como se fosse um xamã, o DJ convida as pessoas a se entregarem a um ritual coletivo da dança. Com seu set-list, manipula os sons. É um chanceler da vibe da galera. Ir a uma festa eletrônica é uma experiência multisensorial, pois o ambiente e as batidas seqüenciais fazem com que você entre em estado de transe. “Você sente sua respiração e seu coração em outro nível”, disse a raver Chris Fontes, de 28 anos. É o arcaico e a tecnologia que se unem, com a música computadorizada, som tribal (repetitivo), luzes psicodélicas, dança primitiva e, para alguns, o uso de drogas. Para encantar ainda mais, tem pirofagia e circo – isso no caso das raves. Para reforçar essa relação xamãnica temos o fato de que o Ecstasy (bala) e o ácido lisérgico (doce) são substâncias presentes em toda a trajetória da música eletrônica, tendo a mesma finalidade dos rituais indígenas. Há os que não aprovam. O DJ brasileiro mais votado do site americano The DJ List, Doctor Gil, é contra o uso de drogas na balada. “Todo mundo sabe que consumir drogas não é legal. Por que estragar uma boa noite, com um bom DJ, boas pessoas… por uma droga? Acho ridículo”, afirma. Já o mestre em comunicação e cultura contemporânea pela Faculdade de Comunicação da Bahia (Facom – UFBA) Cláudio de Souza acredita que a cena hoje comporta usuários e não usuários de drogas, defensores e não defensores, mas a concepção de “estado alterado” estará sempre presente nesse cenário. A relação entre algumas culturas indígenas e a cultura urbana da e-music são interligadas diretamente no conceito de prazer e elevação do estado de espírito. O ponto mais crítico e polêmico é quando falamos de drogas. Cabe a cada um decidir se usa ou não. O que nunca pode se perder é o lema criado pelo DJ Frankie Bonés, em 1992: Plur – peace, love, unity and respect (paz, amor, unidade e respeito). No livro Altered State, o escritor Mattew Collin diz que a e-music é o uso da tecnologia para acelerar a percepção do prazer. É uma forma de se libertar da experiência mundana do dia-a-dia e viver várias visões de drama, vitalidade e alegria. * Matéria publicada na Revista HOUSE MAG – Edição de Setembro/2007 ** Via Overmundo *** Publicado ao som de Vibrasphere

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