A era da discotecagem gonzo

Publicado em 23/08/2010 - Por Eliel Cezar

Técnica? Conhecimento musical? Feeling? Que nada! Hoje, o negócio é ser pitoresco!

 

“Ele precisa da ajuda de uma caixa para alcançar a pickup, que fica ao lado de dois carrinhos de brinquedo. Suas músicas prediletas são “I gotta feeling”, do Black Eyed Peas, e “Spring love”, de Stevie B – geralmente eles as coloca em sequência para ver a pista de dança “bombar”. Com 7 anos de idade, cabelos encaracolados e olhos azuis, Vini Santana é o nome mais comentado da cena eletrônica atual” A chamada acima foi retirada de uma matéria do portal G1 a respeito do pequeno Vini Santana, que, aos 7 anos, abre shows para Luan Santana e toca para festas com até 40 mil pessoas. Realmente, a precocidade é algo que chama a atenção e, como o próprio pai do garoto afirma, pode-se imaginar que ele tem um belo futuro pela frente. Se realmente sabe mixar, trata-se de fato de um prodígio! Contudo, observe-se que o destaque que o menino alcança não é pela sua apresentação em si, mas pelo fato inusitado de ele ser extremamente jovem. Isso é algo recorrente na mídia frente à explosão no número de DJs nos últimos anos. Os Djs que ganham destaque fora do que chamamos de “cena” (e, em alguns momentos, mesmo dentro dela) conseguem tal projeção por serem muito jovens, muito velhos, muitos gordos, muitos magros, tocarem pelados, serem gostosas, tocarem com o pés, só com uma mão, não terem mãos, serem ex-BBBs ou fornicarem com ícones do pop. Mais importante do que a a música, estão os elementos freaks, bizarros, inusitados ou popularescos que os DJs incorporam. Mas por que estamos nessa era da discotecagem gonzo no Brasil? Um fator essencial, acreditamos, é que, do turntablism ao Ableton, o grande público ainda não compreende o que realmente faz um DJ. O que faz um indivíduo, afinal, com todos aqueles botões, faders, luzes piscantes e maçãs brilhantes? Um segundo elemento, talvez, seja o pouco apreço do público pela música em si. Os sons, normalmente, são apenas um pano de fundo para outros objetivos típicos e mais importantes da noite, como a ostentação, a bebida e a incessante, incansável, fundamental, promíscua, dionísica e indispensável busca pelo sexo oposto. Quantas vezes em festas você, amante mais atento da música e da arte da discotecagem, não se contorceu enquanto observava seu amigos solenemente ignorarem mixagens sambadas e mal-feitas? Ignorar a música na sua qualidade e execução certamente é um incentivo para que DJs de qualidade duvidosa tenham espaço em festas para milhares de pessoas. Um terceiro elemento bastante observável é a homogeneização. Brasil afora, o pop toma de assalto as cases e playlists, dando pouco espaço para o novo ao lado de “I got a feeling”, “Miami Bitch” e as outras 7 Melhores. Se todo mundo toca basicamente a mesma coisa, como você, profissional das pick-ups, vai se destacar? Botar os peitos para fora ou participar de um reality show parecem ser boas opções… Claro que não tentamos estabelecer uma verdade absoluta com os três quesitos acima, tampouco esgotar neles as causas para a explosão de DJs que trazem esse perfil. Mas parece que a discotecagem, na nossa opinião, sofre uma espécie de efeito “Lady Gaga”: o mesmo pop de sempre, com mesmo formato-canção, mesma estrutura rítmica, mesmas melodias,  mesmos temas, só que incorporando o elemento esteticamente ou subjetivamente “bizarro”, “polêmico”, “escrachado”, etcétera. Por fim, perguntamos: quando todas as instâncias do pitoresco forem esgotadas, quando faltarem peitos de fora e ex-BBBs, o que vai sobrar? Para onde nos leva a discotecagem gonzo? – Convidamos você, leitor, ao debate! Concorda com esse diagnóstico? Os elementos pitorescos são um problema para a música?

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