Tribaltech 2012 recebe 20 mil pessoas e determina tendências para o futuro da cena eletrônica

Publicado em 02/10/2012 - Por Mohamad Hajar

Divisor de águas. Se precisássemos resumir o mês de setembro de 2012 em uma única expressão, esta seria ela, e em especial nos seus últimos dias: o 7º Encontro Fnac de Música Eletrônica (do qual falaremos em breve) por si só já anunciava, mas a Tribaltech no dia 29 de setembro veio para selar o fato, diante das 20 mil pessoas que estiveram na Fazenda Heimari, em Curitiba, prestigiando o evento.

 

O FIM, OU UM NOVO COMEÇO?

Quando foi divulgado há alguns meses que esta seria a última edição da Tribaltech, eu fui um dos que duvidou disso. Por que razão a T2 Eventos mataria a sua principal marca, que também é a cara da cena open air curitibana e o cartão de visitas da cidade perante o resto do país? Mas após algumas conversas com os organizadores e acompanhar o desenvolvimento da campanha, eu compreendi as razões. A Tribaltech representou um ciclo da música eletrônica que precisava acabar, para dar espaço às novidades que já estão ávidas para explodir.

Novas festas, novos estilos, novos DJs, novo público, nova organização. A partir de 2013 vocês verão uma cena eletrônica de cara nova, muito mais profissional, séria e, sem dúvidas, divertida. Ela será resultado da soma de muitas mãos que estão há algum tempo construindo-a, mas sem dúvidas o fim da Tribaltech era o simbolismo que precisava acontecer para marcar a nova era. O eminente retorno da Kaballah para a cidade em 2013, a estréia da Playground, a ascenção dos núcleos locais como Stand’up Concept, Pow! Produções, Zoominimal e Brasuca, a consolidação de casas como Club!, Danghai, Vibe e Park.art, a explosão nacional de pratas-da-casa como Element, HNQO, Fabo, tudo isso deverá ditar o futuro da cena na cidade.

E a T2 Eventos com certeza não ficará de fora da nova fase, prometendo um calendário de eventos para atender a todos os públicos: além do aniversário do Club Vibe (voltado para os fãs do deep underground), já temos também garantida da edição 2013 da XXXperience em Curitiba. Já para os fãs do techno arrebatador que dominou o Black Tarj nesta última TT, restará um novo e misterioso projeto, que assumirá o lugar da Tribaltech no ano que vem.

 

A ERA DO TECHNO

E falando em techno, outra herança que a Tribaltech deixa para a cidade (e talvez, para o país) é a renovação do “som da moda”. Na verdade, é algo que tenho reparado há alguns anos: a moda na cena eletrônica se renova a cada dois anos. É só relembrar: em 2005 e 2006 só se falava em psytrance – Skazi, Infected Mushroom, GMS eram deuses; em 2007 e 2008 foi a vez do minimal, e artistas como Kanio, Boris Brejcha e Format: B dominaram as festas; por fim, 2011 e 2012 foram divididos entre o progressive e o deep house: a onipresença de caras como Solomun, Jamie Jones de um lado, e Captain Hook, Neelix e Day Din do outro confirmam a tendência.

Pois bem, tudo indica que o estilo da vez para 2013 é o techno. Todos os palcos tiveram feedback positivo, mas não há dúvidas que na manhã do dia 30 de setembro Magda e Dubfire arrebanharam inúmeros novos seguidores para a linha com suas 7 horas intermináveis de set. O techno tem seu espaço na cidade há anos, é fato, mas espera-se uma overdose de apresentações do estilo nos próximos tempos, graças a este Black Tarj Stage.

 

O FIM DO PSYTRANCE CHACOTA

Apesar do techno ter dominado o Main Stage da festa, o resultado dela foi positivíssimo também para os amantes de psytrance. O Psy Stage parece ter se livrado de um peso que há anos estava deixando o estilo cada vez mais marginalizado na cidade: o fantasma da “chacota“.

O line-up era 95% underground – o único artista da lista que pode-se considerar mainstream é o trio Krome Angels. Um dono de festa conservador provavelmente entraria em pânico, mas a aposta foi tão certeira, que para o público o nome mais fraco do stage foi o próprio Krome Angels, que não bastando ter tocado uma salada de músicas antigas e sons nada psicodélicos (até Coyu rolou), fez um belo de um dead-act.

Diante disso, nomes completamente underground como Symphonix, Rocky, Protonica e especialmente Shadow FX e Avalon levaram o público à loucura, e provaram que não é necessário colocar sempre um estampa-de-flyer no line para vender ingressos.

Graças à esta edição da Tribaltech, fanfarrões que gostam de levar seus sets prontos no Ableton (com músicas que eram sucesso em 2007), terão que fazer mais do que dar play e bater palminhas se quiserem continuar sendo bookados na cidade.

 

A VALORIZAÇÃO DA CENA LOCAL

Outro recado dado no dia 29, foi o de que santo de casa faz milagre sim. Inspirado no caminhãozinho da Jaggermeister que em 2011 reuniu vários artistas curitibanos, o Track Top Stage foi a prova de que a cena local tem muito DJ de qualidade. Com 34 nomes de Curitiba e região, a pista raramente estava vazia, e em momentos tinha um público dançante de mais de 1000 pessoas!

Além do Track Top, podemos citar 5 artistas que já estão com projeção nacional e fizeram bonito nos palcos principais da festa, em “horário nobre”: Element no Psy Stage, Gromma, Fabo e HNQO no Club Vibe Stage e Rolldabeetz no Black Tarj Stage mostraram que Curitiba produz grandes artistas, dignos de dividir palco com os ídolos mundiais de suas cenas.

 

A EXECUÇÃO PERFEITA

Saindo um pouco do campo das tendências e olhando para o evento em si, a Tribaltech foi o que podemos chamar de “como toda festa deveria ser“. Indiferente ao tamanho, existem algumas coisas que obrigatoriamente devem ser observadas pelos núcleos, e isso foi feito com maestria nesta edição. Eram 5 palcos, e todos eles estavam com o sound system redondinho: volume na medida, qualidade excelente e sem falhas. Destaque para os Funktion One do Club Vibe Stage, que mostraram porque são o sistema preferido dos melhores do mundo.

A decoração finalmente voltou para o foco: o Psy Stage finalmente ganhou a ambientação que há muito tempo merecia, ficando com a cara e o clima de uma pista de festival psicodélico; o Black Tarj reviveu as origens do techno com sua temática industrial, regada a fumaça, fogos e engrenagens; o Club Vibe Stage reproduziu perfeitamente a sensação de estar em um club, com pouco espaço, muita luz e, principalmente, muita energia do público. Além das pistas, também vale destacar a decoração espalhada pelas diversas áreas de trânsito, como iluminação em árvores, pinturas nos tapumes, entre outros. Como se já não fosse o suficiente, nesta última edição, além mesmo bares e banheiros possuíam decoração e estrutura diferenciadas.

Os horários do line também foram bastante respeitados, na medida do possível. Exceto pela ausência de Gustavo Bravetti no Black Tarj e Tetrameth no Psy Stage, praticamente todos os outros artistas tocaram no horário prometido. Estas duas baixas, aliás, que fugiram do controle da organização. O uruguaio estava na festa, mas não pôde tocar devido a problemas técnicos com seus equipamentos – uma pena, mas sábia decisão. Já o australiano deu um show de anti-profissionalismo e sequer veio para o Brasil, furando não só com a Tribaltech, mas também com a Earthdance São Paulo – uma pena.

 

O LEGADO

O dia 29 de setembro certamente ficará para a história. Tanto para as 20 mil pessoas presentes, que são quase unânimes em afirmar que foi uma das melhores festas de suas vidas, como para as incontáveis pessoas que terão contato com música eletrônica nos próximos tempos e soferão influência do que aconteceu neste dia.

E que venha 2013, com todas estas coisas boas que promete!


Não deixe de conferir as fotos da Tribaltech 2012 em breve aqui no Psicodelia.

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