Apesar de um tanto tosco o título da coluna de hoje chama a atenção para duas coisas. Uma delas vou abordar muito brevemente, que é a responsabilidade individual em se consumir alguma substância psicoativa.
Em se tratando de um aspecto particular do indivíduo (seu corpo e sua consciência), a política proibicionista na melhor das hipóteses nos trata como crianças, que não podem saber sobre certas coisas, para seu próprio bem.
Na pior, como um inimigo a ser eliminado nesta infame “Guerra às Drogas”. Em qual deles você se encaixa depende, geralmente, da cor de sua pele e de sua condição social.
Enquanto lutamos para conquistar a emancipação e a anistia por direito, de fato, buscamos estratégias para que nossas escolhas não sejam criminalizadas e que sejam feitas da maneira mais informada possível, o que nos leva ao tema principal de hoje: o uso de reagentes colorimétricos em contexto de festas.
Com possibilidades muito mais danosas do que a da música que emprestamos o título, o risco no uso de substâncias psicodélicas aumenta drasticamente devido a sua clandestinidade. A falta de regulamentação deixa usuários às escuras quanto à procedência e à qualidade daquilo que estão consumindo, sem informação sobre a composição ou a concentração para se preparar para a “viagem” ou caso necessite de atendimento médico.
Alguns dados da Polícia Técnico-Cientifica de São Paulo apontam que menos da metade das substâncias apreendidas como Ecstasy continha MDMA, sendo os adulterantes mais comuns a metanfetamina e a cafeína. Os resultados não são diferentes nos blotters de papel, comumente vendidos como LSD. Um estudo de Coelho Neto, mostra que cerca de 65% das amostras eram algum tipo de NBOME, substância que produz uma experiência similar ao LSD, porém com mais riscos associados e poucos dados sobre efeitos adversos e interações com outras substâncias.
Os testes com reagentes colorimétricos entram como uma estratégia de identificação dessas substâncias e reflexão sobre o uso, possibilitando que as pessoas possam decidir ingerir ou não determinada substância, à luz dessa nova informação. Há relatos de pessoas que diante da identificação de uma substância indesejada, optaram por reduzir a dose ou que decidiram por não usar, dispensando o comprimido em questão.
Apesar de importante, a testagem com reagentes é bastante generalizada e não traz informações quanto à concentração de substância presente na amostra, nem se a mesma foi adulterada com um ou mais componentes. Há ainda a possibilidade de indicação de falsos positivos ou negativos, com limitações também quanto a identificação de cores por conta de questões subjetivas e de iluminação, por exemplo. De qualquer maneira essa é a estratégia mais fácil de se implementar durante as festas e eventos, representando um avanço enorme para reduzir riscos e danos no uso de psicodélicos.