Os melhores e os piores de 2012 na música eletrônica

Publicado em 18/12/2012 - Por Mohamad Hajar

ANTES DE LER, LEMBRE-SE DO ÓBVIO: nós não somos e nem pretendemos ser donos da verdade absoluta. Tudo o que escrevemos são textos opinativos baseados na vivência da nossa equipe de editores. Posts polêmicos como o de hoje existem exatamente para acender o debate e fazer mais pessoas declararem suas opiniões, concordando ou não conosco.

Não temos nada contra nenhuma das marcas e artistas citadas no lado negativo do post, muito pelo contrário: tentamos fazer a crítica construtíva para que eles sejam motivo de discussão e, quem sabe, figurem no lado positivo em 2013.

Torcemos muito pelo sucesso de todas as 14 figuras citadas no post, elogiando ou criticando. (OK, não torcemos tantao assim pelo Guetta :P)

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O fim do ano é uma época muito peculiar, em que todos nós vivemos alguns eventos especiais. Estou falando de shoppings e lojas lotadíssimos, musiquinha da Simone rolando em todos os lugares, décimo-terceiro inteiro virando presente de natal, provas finais na faculdade…

OK, olhando por esse lado parece ruim, mas tem uma coisa que é muito legal em dezembro: retrospectivas. Há anos a Globo nos entrete com o tal Retrospectiva XXXX, o programa que passa dia 30/12 e revive os momentos relevantes do ano. Hoje em dia existem diversas outras opções mais rápidas e divertidas, como a retrospectiva do Google e do YouTube – e nós não poderíamos ficar sem a nossa.

Hoje começa uma série de posts que irá reviver o que rolou em 2012 na cena eletrônica. O primeiro deles – este – faz um apanhado geral de destaques positivos e negativos, em 7 categorias diferentes. Lembrando que é uma análise pessoal, isenta de qualquer responsabilidade de ser a próxima verdade absoluta do mundo.

Festival


Em alta: Tribaltech – The End

E depois de 2 anos com desconfiança do público, a Tribaltech finalmente provou seu valor. A edição final da marca cumpriu perfeitamente seu papel de ser o “gran finale”: uma festa com tudo nos conformes, apresentações épicas para todos os palcos e um clima excelente. O público foi unânime nos elogios pós-festa, e o nosso review foi um dos posts mais comentados do ano. Que venha 2013, com todas as novidades que a T2 Eventos deverá nos trazer para substituir a TT! 

Em baixa: XXXperience 16 Anos

A festa em si foi muito boa. O line-up estava condizente com a proposta, os DJs se apresentaram bem no geral, a estrutura e o sound system estavam bons, porém… A data foi péssima. Fazer uma festa no domingo e na segunda de um feriado que só existe em algumas cidades não é uma boa idéia, agora, isso acontecer com um evento que já estava marcado para outra data, foi praticamente um chamado pela revolta popular. As pessoas reclamaram muito nas redes sociais, muitos moradores de cidades que não tinham o feriado devolveram seus ingressos e isso tudo refletiu no evento, que foi um fracasso de público. Uma pena, mas esperamos que tenha servido de lição para o evento, que agora pertence à GEO (produtora do Lollapalooza, ligada às Organizações Globo) e deve retornar em 2013 com força total.

Club


 

Em alta: Clash Club

O Clash poderia estar no bloco de baixo se não fosse uma revolução no finalzinho do ano. Depois de anos preso a uma mesma proposta já batida, o Clash fez uma reviravolta na sua curadoria artística e passou a fazer algumas apostas ousadíssimas. Trouxe a primeira festa de grande porte de dubstep (com Nero) e hardstyle (com Headhunterz e Wildstylez), dois estilos que estão em alta no exterior e são praticamente inexistentes no Brasil. Além de praticamente criarem esta nova cena, mantiveram-se fiéis ao techno que os consagrou, tendo realizado o Circuito com Marco Carola e contratado Glen como residente da casa. Tudo indica que ele deverá ser a casa das grandes festas paulistanas de 2013!

Em baixa: Warung Beach Club

O Warung é o chamado templo da música eletrônica. Tanto sua ambientação como sua curadoria artística visionária sempre contribuiram para isto, porém, em 2012 pouco se viu nesse sentido. Já há algum tempo, o Warung vem dando as costas para a diversidade artística que o consagrou, para focar apenas em deep house (e alguns seletos artistas de techno). A casa, que ao longo dos seus 10 anos recebeu desde Rica Amaral até DJ Marky, passando por D-Nox & Beckers, Deep Dish, Richie Hawtin, Layo & Bushwacka e Booka Shade, se prendeu a uma mesma panelinha de artistas durante o ano todo, repetindo figurinhas carimbadas tanto no âmbito dos headliners, como nos artistas do line-up de apoio. Não que estes DJs sejam ruins, mas está faltando diversidade. Para 2013 já vemos uma melhora no cenário, com a confirmação de Magda, Matador e Richie Hawtin para este verão, sem contar a já realizada festa com Sasha. Esperamos que o templo volte a ter olhos para outros nichos da música eletronica.

DJ Nacional


 

Em alta: Felguk 

É controverso, mas não adianta: os cariocas são os brasileiros do momento. Além de manterem-se no Top 100 da DJ Mag, eles tocaram no Tomorrowland e no Burning Man, produziram a trilha oficial do Electric Daisy Carnival e lançaram diversas tracks com relevância global. Sem dúvidas, um ano de ouro para Felipe e Gustavo.

Em baixa: Gabe 

Gabriel Serrasqueiro é um dos mais talentosos produtores do Brasil. Já foi 55º no Top 100 da DJ Mag tocando psytrance sob a alcunha Wrecked Machines, ganhou as multidões ao lado de Riktam (GMS) tocando como Growling Machines, foi um dos poucos ex-psyzeros a lançar um projeto techno de qualidade (vide Sonar Room e Fidelidade) e deu uma grande tacada ao adicionar brasilidade à música eletrônica sem parecer manjado, com Tudo Vem. Porém, parou por aí. Desde 2011 ele embarcou em uma viagem deep/nu-disco e perdeu os fãs. O cara que antes era certeza de festa cheia hoje malmente coloca 400 pessoas em um club – acabou virando line-up de apoio para estrangeiros. Nomes que antigamente se espelhavam nele, como Victor Ruiz e Glitter, hoje possuem muito mais prestígio perante o público. Uma pena. 

DJ internacional


Em alta: Richie Hawtin

Esta talvez tenha sido a seleção mais difícil, mas foi o trabalho feito fora dos palcos que garantiu a Hawtin o título. Além de ser um excelente DJ, dono de mais de 20 anos de história e toda uma legião de fãs, Hawtin fez muito pela música. Começou com o lançamento da sua festa no Space Ibiza: toda quinta-feira a ENTER. misturou techno, saquê e diversão para o público do club #1 do mundo. A festa foi o palco de consolidação para alguns pupilos da Minus, como Matador, Hobo e Click Box, e passou a ser objeto de desejo do resto do mundo quando assinou um palco no Creamfields Buenos Aires e mostrou que a marca será itinerante. Não suficiente, o inglês-canadense lançou a tour CNTRL: Beyond EDM, que rodou os EUA e o Canadá por 1 mês levando a cultura eletrônica para universitários do país e lhe rendeu a chave da sua “cidade-natal”, entregues pelo próprio prefeito. Impossível alguém ter feito mais pela música eletrônica em 2012 do que ele.

Em baixa: Swedish House Mafia

Uma ótima tacada de marketing e um favor para a música: esta é a melhor forma de classificar o fim da carreira do trio sueco. Depois de ganhar uma multidão leiga parecida com os fãs do David Guetta, o SHM começou a virar motivo de chacota entre os adoradores da tal “EDM séria”. Sempre que era necessária uma referência para música eletrônica vazia, eles eram utilizados da mesma forma que se utiliza Guetta, e o video denunciando o dead act de Steve Angello foi a cereja do bolo. Terminar a carreira foi certeiro pois além de sairem de cena antes da decadência, ainda foi possível super-faturar os últimos shows. Em março de 2013 o UMF Miami irá hospedar o último show de Steve Angello, Sebastian Ingrosso e Axwell juntos, que devem seguir em carreira solo e voltar a serem DJs comuns de house. 

Apresentação


Para ser lembrada: Justice no Sónar

O Sónar se classifica como um festival de “música eletrônica avançada” não de forma prepotente, e sim de forma a mostrar que cada artista do seu line-up deve ter algo bem inovador para apresentar. Por isso estavam lá os graves e vocais de James Blake, o moombahton de Munchi, o audiovisual 3D de Kraftwerk, o som inclassificável de Totally Enormous Extinct Dinosaurs, o techno inovador de Modeselektor. Mesmo com este time de primeira, o live de Justice foi considerado o melhor show do evento pela mídia especializada, graças ao seu palco e ao som futurista. Com certeza uma apresentação que ficará na história da cena nacional, e que deve ter influenciado muitos artistas que deverão surgir nos próximos anos.

Para ser esquecida: Justice no Dream Valley

Seis meses se passaram e os mesmos franceses protagonizaram a maior vergonha do ano no país. Provavelmente impressionados pelo feedback do live no Sónar, o pessoal do Dream Valley resolveu contratá-los para tocar no segundo dia do evento, depois de Zedd e antes de David Guetta. Para completar, contraram o DJ Set, e não o Live. O resultado foi lastimável: o publico do evento, que curte big room, electro house e sons de fácil digestão e grande euforia, não compreendeu o house francês e cabeçudo da dupla. Além de ser um som totalmente fora de contexto, o set foi realmente mal construído, o que resultou em algumas vaias para eles.

Falácia na mídia


O pau-na-mesa: Deadmau5

Podemos dizer que Joel Zimmermann é o troll de internet mais famoso do mundo. Seu nome provém do IRC, rede famosa nos anos 90 que hoje é sinônimo de saudosismo entre nerds e geeks, seus clipes e até mesmo músicas fazem referência ao mundo virtual, e ele não economiza palavras na hora de falar o que pensa. Uma das polêmicas mais notáveis foi quando ele criticou Madonna pela grande apologia às drogas, presentes no título do seu último álbum (MDNA) e em um show no qual ela perguntou ao público se eles já conheciam Molly (um apelido para o MD). Porém, ele não ficou só no mundo pop, tendo tido discussões com DJ Sneak, além da sua afirmação de que sim, ele e a maioria dos “melhores DJs do mundo” não são DJs e só apertam o play mesmo, e que a mágica ele faz em estúdio. Isso para não mencionar sua campanha pedindo votos para o Meowingtons (seu gato de estimação) para o Top 100 da DJ Mag. Com certeza foi um dos que mais recebeu votos, mas obviamente a revista invalidou todos eles. 

O babaca: David Guetta

Primeiro, o francês dá uma declaração mal-construída indicando que vai encerrar a carreira. Depois justifica, dizendo que é só um projeto paralelo focado no underground (que pouco fez até o momento). Não bastassem essas falácias, sua atitude nos bastidores dos shows brasileiros mostraram o quão babaca é o ex #1 do mundo. A lista normal de exigências de Steve Aoki já causou polêmica, mas se a de Guetta vazasse com certeza ia ser muito mais impactante. Desde coisas como 2 SUVs blindados para transportar ele e sua equipe até o evento, passando por camarim exclusivo (ele não se mistura não com os “amigos” top DJs como Zedd e Hardwell), evacuação da sala de imprensa para o momento da sua chegada e culminando na total proibição de captação de fotos e videos durante seu show (exceto nas músicas 3, 4 e 5) só mostram quão mal o pop-americano Billboard fez para a humildade do cidadão. Os mesmos eventos receberam o outro top mainstream Armin van Buuren, que deu um show de simpatia e humildade, só para efeitos comparativos. Shame on you, David!

Psytrance


 

Em alta: progressivo

Entre 2005 e 2007 o psytrance foi a moda maior em se tratando de música eletrônica, mas a onda passou e ele viveu alguns anos difíceis na sequência. Vários artistas migraram para techno ou house (ou “low BPM”, como gostam de chamar), e os poucos que sobraram sofriam para conseguir gigs. Foi aí que uma das vertentes do psy se sobressaiu e garantiu a vida do estilo: o progressivo. Seja pelo lado off-beat com Neelix e Day Din, pelo lado introspectivo com Ace Ventura e Ritmo ou pelo lado dark com Grouch e Shadow FX, o prog cresceu assustadoramente e hoje é maior que o full on, sendo a principal referência de psy para o mundo. Alguns artistas que não migraram para o techno/house, acabaram se rendendo ao prog, como X-Noize (Major7) e Pixel.

Em baixa: full on mainstream

Apesar do grande crescimento do prog, o full on não deixou de existir, e a prova disso foi a Tribaltech e a Playground de Curitiba deste ano. Enquanto a TT investiu pesado no underground do full on, com nomes como Avalon e Killerwatts, a Playground apostou nos medalhões Skazi, Astrix e Sesto Sento. E contra todas as apostas, o primeiro time venceu. O Psy Stage ficou lotado a festa toda e esses artistas foram muito elogiados na sequência, enquanto que os antigos ídolos foram criticados pela mesmice apresentada, sendo elogiados apenas pelo fator nostálgico dos seus sets. Até mesmo o Krome Angels, único pop “infiltrado” na TT, decepcionou os fãs. Aparentemente, o público leigo saiu da cena psy, ficando apenas pessoas que compreendem a música e valorizam quem a faz direito. 

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