Review – Adhana Festival

Publicado em 04/01/2017 - Por Camila Canabarro

O Adhana Festival aconteceu entre os dias 29 de dezembro de 2016 e 02 de janeiro de 2017 em Rio Negrinho, Santa Catarina. Logo em sua primeira edição, o festival conseguiu surpreender o público e já pode ser listado junto dos maiores eventos de Psy Trance e contra cultura do Brasil. Durante os 5 dias de evento, cerca de 4 mil pessoas viveram uma experiência única espalhadas por 2 palcos e outras diversas áreas dedicadas à atividades alternativas. 

 

Os Culpados

A primeira edição de um evento é sempre complicada, repleta de erros e aprendizados. Mas esse não parece ter sido o caso do Adhana, que já estreou na cena, digamos, sobre o ombro de gigantes, ou pelo menos, sobre o ombro de profissionais muito experientes. Aliás, profissionalismo talvez seja a palavra que melhor define o núcleo do Adhana, começando pela equipe da DM7, principal empresa por trás do evento e que já realiza há 4 anos a Progressive em Curitiba com a mesma qualidade.

A decoração toda baseada no tema “África” que já conhecíamos da forte campanha de divulgação, foi realizada pelos competentes Decor by Belém, Spank.Art, DacArt, GraffiArtArte Astral, Rodrigo Miranda e Erick Citron (Beco RS), que mostraram um belíssimo trabalho nos palcos Savanah e Tribos, além das bioconstruções dos bares e outras estruturas do festival.

Complementando o time dos espetáculos visuais, tivemos também o onipresente show do Laser Beam Factory, as apresentações do Clã Aradia e o video mapping da Urutau Audio Visual e VJ Picles, dos quais já falamos bastante neste review da última Progressive.

E claro, na parte de fotografia e filmagem, não podemos esquecer da escalação de um verdadeiro dream team da cena psicodélica com nomes como Bogea Gonçalves (UpAudiovisual), Bruno Camargo, Tiago Dea (Zooe), Atilla Veras, Taguro e Lucas Caparroz. Afinal, um espetáculo desse porte merece ser registrado com profissionalismo em todos os seus detalhes para que o mundo veja.

 

ESTRUTURA

Muitos organizadores de festivais pecam no quesito estrutura, dando importância apenas para pista, deixando de lado o básico e sem querer acabam transformando tudo em um verdadeiro caos. Mas isso não aconteceu com o Adhana.

O festival foi realizado em um local com estrutura “padrão FIFA” para esse tipo de evento: a Fazenda Evaristo, velha conhecida do público do sul do país, é um espaço destinado especificamente à realização de eventos e por isso já possui uma estrutura física própria com diversas áreas de camping iluminadas e com pontos de luz para o público, banheiros de alvenaria com água quente, praça de alimentação, estacionamento, portaria, belas cachoeiras, etc. Sua escolha foi estratégica e fundamental para o conforto e diversão do público. Mais um ponto para a organização.

Seguindo na estrutura para abrigar entre 3 a 4 mil pessoas precisa estar bem equipada com uma boa praça de alimentação. Quando fomos comer pela primeira vez no evento nos surpreendemos com uma praça bastante completa. Foram cerca de 20 estabelecimentos oferecendo opções de pratos vegetarianos, orgânicos, pizzas, massas, sanduíches, frutas, sucos, vitaminas, açaí, salgados, crepes, pastéis, temakis, café da manhã, doces, petiscos, sorvetes e guloseimas. Além de todas essas opções ainda havia um buffet livre. Tudo isso com preços justos que chegavam ao no máximo R$ 26,00. E para os que não queriam gastar comendo na praça do evento havia ainda uma cozinha em um ambiente comunitário no qual qualquer um pudesse preparar seus alimentos.

Estamos “acostumados” a frequentar festas de um dia em que a cerveja nunca está totalmente gelada. No Adhana a Budweiser estava sempre geladinha. Vale ressaltar que a lata não era a de 269ml que engana o público e sim de 350ml, a tradicional cervejinha por um preço justo de R$ 6,00. Lembrando que a marca foi escolhida pelo público em uma votação que a organização fez durante o an passado.

Os outros preços do bar seguiam em uma linha aceitável para o grande público, água R$ 4,00 e catuaba a R$ 12,00. Sucos naturais e vitaminas também faziam parte do cardápio do bar, ajudando o público a se refrescar no intenso calor. Para quem queria ainda mais variedade, havia opção de oferecia Chopp de 500ml a R$ 10,00.

As áreas de camping eram bem arborizadas, estavam iluminadas e bem distribuídas por toda a fazenda. Os participantes nem precisavam de lanterna para a maior parte dos trajetos. O posto médico contava com duas ambulâncias e pessoas preparadas para auxiliar qualquer um que tivesse algum problema de saúde durante o festival. Em todos os campings haviam tomadas para que os celulares e outros aparelhos eletrônicos fossem carregados, ajudando a nos conectar com o universo de fora do evento.

Para finalizar a estrutura, não podemos deixar de citar o grande destaque que ficou por conta do projeto ResPire Redução de Danos. O pessoal fez mais uma vez um excelente trabalho ao reunir especialistas que tratavam pessoas que estavam passando por uma bad trip, além de testar as substâncias psicoativas sem nenhum custo a mais. O ResPire também estava sempre pronto para atendender qualquer pessoa que quisesse se informar e concientizar sobre o uso de drogas lícitas ou ilícitas, tudo isso em uma tenda decorada pelo Adhana.

 

ENTRETENIMENTO E ORGANIZAÇÃO

Festivais de trance não são apenas sobre música, existe toda uma corrente cultural com diversas interações com o público. No Adhana o entretenimento era bem diversificado: malabares, pirofagia, yoga e outras atividades do gênero transformaram o evento em um imenso festival cultural. Havia também um espaço Kids, um ambiente multicultural com brincadeiras para as crianças.

Havia também feirinhas com muitos artigos ligados ao mundo do trance e da psicodelia, artesatano, camisetas, roupas em geral, brincos, colares, pulseiras, sedas, piteiras, entre outros. Vale ressaltar também que cada participante do evento ganhou um lindo presente na entrada, uma sacola de pano com o logo do festival muito útil para carregar os pertences durante o evento, uma revista Skot com line up e outras informações, um poster do Adhana e um copo de plástico, ideia incrível que faz com que a galera não use copos plasticos e não gere muito lixo.

 

PALCOS E ARTISTAS

Vamos agora à parte central do festival: a MÚSICA. Foram dois palcos, o Savanah Stage com os principais artistas de PsyTrance e o palco Tribos que tem uma proposta bem diferente: valorizar artistas e músicos de outras vertentes como: Psy Chill, Techno, World Music, Bass Music, House e Dub. Considerando que os palcos ficam ligados quase 24 horas ao dia é excelente ter outras opções para os ouvidos já que não é só de PsyTrance que vive o homem.

 

PALCO SAVANAH

É o palco principal, o coração do festival e onde rola muita Psicodelia. Lá os principais nomes da cena nacional e internacional de PsyTrance e suas vertentes fizeram apresentações memoráveis, sejam eles mainstream ou underground. Como de costume, a galera do Progressive Trance marcou presença em apresentações extremamente intensas e enérgicas que fizeram o público pular intensamente a cada virada. Não faltou o bom o velho Full On que predominou na noite da virada. O Prog Dark também teve seu espaço, além de duas noites dedicadas ao Dark e HiTech, uma no palco Tribos e outra no Palco Savanah. 

Mas se tem uma coisa que ficou clara nesse Adhana Festival é uma hipótese que levantamos aqui no Psicodelia há algum tempo: se o Progressive Trance gringo domina a cena há alguns anos, agora talvez esteja começando a era do Progressive Brasileiro. No Palco Savanah predominaram artistas como Zanon, 4i20, Capital Monkey, VegasGroundbass, Basscanonn, Synthatic entre outros. Se você acha que essa turma invadiu os clubs e festas em 2016 prepare-se para uma invasão ainda maior em 2017!

 

PALCO TRIBOS

Foi no palco Tribos que encontramos uma enorme diversidade cultural, instrumentistas de diversos tipos, DJs e sons alternativos. Era impossível chegar lá e não viajar no som independente da hora do dia. Com uma belíssima decoração apelidado carinhosamente de “Warunguinho”, esse palco contava com diversos balanços e um gramado verde que deixava o ambiente ainda mais aconchegante. Destaques para as apresentações de Krumellur, Pedra Branca, Kultra, Mumbai Express, Kadum, Cheap Konduktor e os mestres Fabio Leal e D-Nox.

 

Abertura

O festival não poderia ter começado com uma energia melhor, com dj Anginha tocando a track do último álbum do Astrix, Shamanic Tales. Com uma energia bem positiva e sem igual as pessoas foram chegando aos poucos e o Clã Aradia pôde mostrar mais uma de suas intervenções.

 

A Virada

A programação da tarde do dia 31 encerrou por volta das 20h com Loud no comando da pista principal, seguido de uma pausa para que público e festa se preparassem para o ano-novo.

Faltando poucos minutos para a virada, uma tempestade caiu implacavelmente sobre a Fazenda Evaristo. Mas isso não foi suficiente para intimidar o público que aos poucos preencheu a pista do palco principal para conferir o aguardado Alpha Portal, projeto fruto da parceria entre ninguém menos do que Astrix e Ace Ventura, até então inédito no Brasil.

Complementando a noite, o mapping iluminou o palco principal, enquanto o Leaser Beam Factory fazia seu show, fogos de artifício eram quiemados ao longe e centenas de garrafas de champagne eram estouradas aqui e ali pelo público.

 

Os Sets Retrô

Uma das atrações mais aguardadas pelo público desse festival foram os sets retrô de Sesto Sento, GMS e Rinkadink anunciados previamente no line up. Sim, ouvir novamente pérolas como Rounders, Lift Me Up, We Will Never Die, entre outras pérolas de 10 anos atrás foi de arrepiar! Foram apresentações de longe as apresentações mais emocionantes e proporcionaram um grande diferencial no evento. 

 

Mais Destaques

Burn in Noise  apresentou outro grande set do festival e, mais uma vez, provou que é um grande maestro e com toda a sua humildade passando pela fazenda Evaristo durante todos os dias do evento, tirando foto com os fãs e não deixando de atender ninguém que chegava até ele. DJ Thatha também foi pura simpatia, ao lado do marido não deixou de esbanjar humildade enquanto andava pela pista e durante a noite da virada tocou o seu consagrado full on, um set dançante como todos esperavam.

Titicow e Foca entraram de mansinho na manhã da dia 02, mas mostraram todo o conhecimento e bagagem que carregam. Ricardo Grilo também fez a pista bombar, tocado um “full on de qualidade, reto e sem massagem”. Kadum apresentou projetos em ambos os palcos, mais de uma vez provando que é um artista completo. 

 

PÚBLICO

Nada seria o mesmo sem a energia desse público, uma energia positiva contagiante. Crianças, pessoas de todas as idades esbanjavam amor e sorrisos pelos lugares que passavam. Em nenhum momento encontrávamos lixo no chão. O PLUR estava presente do início ao fim.

 

 

EXPERIÊNCIA

Foi uma experiência única, digna dos melhores festivais do Brasil. Sair de uma realidade em que somos condicionados a viver mostra que a vida é muito mais do que nossas rasas rotinas diárias. Conhecer novas pessoas, novas formas de viver a vida mostra o quão o mundo aqui fora poderia ser mais rica e abundante. Depois de passar 5 dias em um festival onde não existem brigas e as pessoas convivem em harmonia e se respeitam nos faz refletir porque vivemos testando nossos limites diariamente em uma sociedade em que somos mercadoria. A vida humana se torna cada vez mais insiguinificante. O Adhana Festival é um verdadeiro pedaço de paraíso, que todas as pessoas do mundo deveriam viver pelo menos ao menos uma vez.

Terminamos esse review com um sentimento de gratidão. Nosso muito obrigado a todos que fizeram o Adhana acontecer e nos vemos em 2018! <3 

Confira mais imagens pelo olhar cuidadoso de Bruno Camargo: 

 

Saiba Mais

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