Review: Terra Azul 2017 – A pura essência Psicodélica

Publicado em 28/09/2017 - Por Camila Canabarro

Realizar um evento open air é um trabalho complexo. São dezenas, às vezes centenas de coisas acontecendo e que demandam atenção em tempo integral de seus organizadores. Claro, as coisas ficam muito mais fáceis quando se conta com dinheiro de sobra, patrocínios e uma equipe de apoio numerosa. Acontece que esse definitvamente não era o caso do Terra Azul.

Jhou, Geraldine Haller e sua equipe entregaram ao público um festival que não deve em nada para os melhores do país, usando de forma inteligente os recursos que tinham à sua disposição. Por isso, escrever o review desse festival é, além de fácil, muito gratificante: além de ser um dos principais festivais do sul do Brasil, o Terra, que aconteceu entre os dias 6 e 10 de setembro em Rio Negrinho/SC trouxe vários artistas conhecidos da cena nacional, mas ao mesmo tempo também valorizou muito os artistas locais.

A atenção aos detalhes e a imponência do palco principal certamente ficarão por muito tempo na memória do público e colocam o festival mais um passo na direção dos maiores da cena nacional.

PALCO ARAUCÁRIA

E por falar em estrutura, os palcos merecem destaque à parte, em especial o palco Araucária. Considerado o “main stage”, foi totalmente construído em bambu e troncos de madeira, cercando toda a área da pista e ostentando um enorme domo estrelado no centro. Tão impressionante quanto a bioconstrução em si, também era o fato dela funcionar perfeitamente bem tanto de dia, proporcionando bastante sombra para o público, quanto à noite, quando se iluminava e podia ser vista até mesmo da área de camping.

Havia lixeiras em quantidade suficiente espalhadas pela pista e o público também colaborou tanto com a limpeza quanto com o respeito pelo espaço, deixando cadeiras sempre nas bordas da pista e nunca no meio.

Por lá se apresentaram alguns dos grandes nomes nacionais e internacionais. Já na primeira noite tivemos Jhou vs Titicow e o set surpreende de Brum!, que encheu a pista logo que assumiu o palco com um Dark contagiante. O segundo dia foi marcado pelo delicioso som de Kadum, que apresentou um set bem trabalhado. Na mesma tarde, Mental Broadcast mandou um som bem dançante, na sequência Hyperflex, um dos grandes destaques do dia. Tera, Purist e Spectral Live comandaram a pista noturna mostrando toda a sua experiência e um trabalho impecável.

A sexta-feira foi o dia de Twelve Session, seguido de Altruism que preparou a pista para a verdadeira aula de Psytrance proporcionada por Rica Amaral (de longe um dos melhores sets do festival). O artista tocou por cerca de 3 horas seguidas, um set altamente psicodélico, deixando a pista cheia do início ao fim.

Já no sábado o chileno Ital, Titicow e Burn in Noise fizeram o dia ter o peso que merecia. De início, Ital, um dos nomes mais esperados fez o que o público já esperava: um set impecável e extremamente pesado.

Marco Element foi o respiro que o festival necessitava, chegou na hora ideal mandando o seu Prog com estilo facilmente reconhecido pelo público. 

Na sequência dos destaques, Burn in Noise tocando o seu já consagrado full on, dessa vez deixou as músicas mais famosas em casa, mas ainda assim, foi maravilhoso. Não podemos deixar de lado Gabriel Mello, que surpreendeu mantendo a pista no mesmo nível.

O sábado não poderia ser finalizado de forma melhor, se não fosse por Jhou tocando um full on night dançante, pesado e ao mesmo tempo psicodélico. 

O Terra Azul também foi a vez dos sons noturnos. Alien Chaos, sem dúvidas foi incrível, deixou os ouvintes em estado de transe. O projeto paralelo de Twelve Session, intitulado de Pedro Thiel também se destacou nas noites psicodélicas do festival. 

Spectral Live e Synthetic Chaos fizeram apresentrações memoráveis. Sutemi, com seu forest repleto de melodias finalizou a noite passando para Psychowave que amanheceu o último dia de Terra Azul em uma energia maravilhosa, com suas produções impecáveis. 

 

A Gralha Azul

Se o palco Araucária era imponente, o Gralha Azul apresentava uma arquitetura bastante criativa. Com alguns bambus, pedaços de madeira, capim e 2 garrafas de água mineral surgia no meio da pista a enorme cabeça de uma gralha. O palco ainda contava com uma grande área coberta propiciando bastante sombra para o público. 

Por lá passaram os projetos de música alternativa do festival. Bandas como Mumbai Express, The Blues Jam & Indiara Sfair, Ocean Breeze Tropical Club e, em uma noite para lá de especial, a segunda parte da aula de Rica Amaral, dessa vez despejando uma sequência incrível de tracks alternativas e que não deixaram ninguém parado.

LOCAL

A escolha da Fazenda Evaristo para a realização do festival foi estratégica. Também pudera: o local é extremamente confortável, possui diversos banheiros espalhados por todo o local, chuveiros com água quente, gramado verdinho, ampla área de camping iluminado, árvores, as lindas araucárias que deixam a decoração ainda mais bela, cachoeira, tirolesa, rio, praça de alimentação. É um pequeno paraíso com conforto acima da média.

 

DECORAÇÃO

O público do trance busca sempre uma experiência completa em um festival e a decoração é essencial para eventos dessa cena. Nesse quesito o Terra surpreeendeu com soluções criativas, relativamente simples mas muito eficientes e de grande impacto visual, assinadas por Vision Artes, Arte Astral e DacArt.

 

ESTRUTURA

Pra começar, vamos falar de algo básico e que geralmente acaba sendo alvo de críticas na maioria dos festivais: banheiros. Porém no terra Azul os banheiros estavam o tempo todo limpos, com papel higiênico e perfeitamente utilizáveis.  

E já que estamos falando de banheiros, palmas também para os chuveiros. Um ponto de extrema importância nos festivais que acontecem no sul do país é o banho quente, os banheiros estavam funcionando todos os dias.

Seguindo a estrutura para abrigar quase 2 mil pessoas, é preciso que o evento esteja equipado com uma boa praça de alimentação. Quando fomos comer pela primeira vez, nos surpreendemos com um cardápio muito completo com opções variadas: pizza, massas, buffet, frutas, lanches, hambúguer, caldos, cachorro quente, açaí, sorvetes, doces e guloseimas. Para fazer uma refeição completa o público gastava em média R$ 20,00. E para os que não queriam gastar comendo na praça do evento havia ainda uma cozinha em um ambiente comunitário no qual qualquer um pudesse preparar seus alimentos.

Passando da comida, vamos à bebida – os bares. É importante enfatizar que todos os dias de festival a cerveja estava gelada. A água era servida nos copos de 350ml personalizados com a arte do festival, o mesmo acontecia com os refrigerantes e drinks.

Esse foi talvez o único ponto de críticas por parte do público que claramente preferia carregar garrafinhas de água e latas de refrigerante, contrapondo o argumento da organização que preza por manter o ambiente limpo e produzir a menor quantidade de lixo possível. Os preços, eram justos: R$3,00 pela água, R$6,00 pela cerveja e copo de catuaba a R$12,00.

O camping era muito seguro, iluminado e confortável. Bem distribuído, dificilmente você ficava longe de um banheiro. Importante ressaltar que nesse ambiente haviam seguranças trabalhando o dia todo.

E finalizando a estrutura básica, o posto médico também estava em conformidade com o necessário. Grande, com uma equipe pronta para atender o público se necessário, contava também com uma UTI Móvel e, uma equipe de redução de danos. Este último ambiente era organizado pelo pessoal da RDD organizada também pelo próprio festival.

ENTRETENIMENTO

O discurso sobre ser um festival multicultural é usado por muitos eventos na cena atual, porém, o que percebemos no Terra Azul é que ele consegue ir muito além da pista, é realmente um festival que consegue entreter todas as idades de diferentes formas. E isso implica em muito mais arte e espetáculo do que uma enorme gama de DJs podem proporcionar.

Precisamos falar sobre o espaço Kids, local que foi elogiado por diversos pais e mães enquanto estávamos no evento. As atividades eram variadas durante o dia todo, entretendo de diversas maneiras as crianças. Teve até um momento em que os pequenos foram para a pista, um dos momentos mais memoráveis do festival.

Circoloko, Casal Arson e ViniCirque proporcionaram belos shows durante todos os dias de festival, além de diversas intervenções circenses aleatórias nas pistas.

 

CONFIRA MAIS IMAGENS

 

 

Se existisse um manual ensinando como fazer um festival de Psytrance com poucos recursos e o máximo de qualidade, o Festival Terra Azul deveria estar estampado na capa e ser estudado em detalhes. 

Fotos

 

[products limit="8" orderby="rand" order="rand"]