Se eu te der a pulseirinha, o que ganho em troca?

Publicado em 28/06/2010 - Por Eliel Cezar

Em locais que têm cenas eletrônicas virgens, nascentes ou simplesmente decadentes, a música de qualidade normalmente não dá conta de chamar o público. Assim, outros chamarizes ganham muito mais importância do que a história que o DJ conta. O luxo, o requinte e os status são promessas frequentes em clubs. Curitiba, contexto em que parte da equipe do Psicodelia se situa, possui pelo menos 3 casas ditas eletrônicas em que o glamour, se não é um fim em si mesmo, é meio para conseguir outras coisas (interprete “coisas” da maneira que achar mais adequado).
Entre as camisas polo de 300 reais e os baldes de champagne, que flutuam com espoletas sobre as incrementadas cabeleiras do jet set, sobra espaço para o reforço de já agigantados egos, enquanto a música se transforma em longínquos beats que orientam as contidas reboladinhas por trás dos mini-feudos chamados camarotes.
Ok, essa pode ser uma visão um pouco preconceituosa, afinal, cada um gasta seu dinheiro e se “diverte” da maneira que lhe for mais adequada. Mas a artificialidade que ronda esse meio é patente e beira o incontestável. Palavra de quem já viveu um pouco disso.
Mas enfim… dediquei alguns mililitros de veneno nos parágrafos acima devido a uma reportagem do site Rraurl, a respeito do mundinho eletrônico de Florianópolis. Trata-se apenas de uma amostra – não exclusiva da ilha – da realidade em que mulheres ganham pulseiras de camarote e, em troca, plantam-se como sacolejantes samambaias nos camarotes das “melhores baladas” da capital catarinense.
Nada contra – aliás, tudo a favor – belas mulheres. Mesmo se elas decidem se colocar na posição de objeto para apreciação visual e tátil, isso é uma escolha de cada um. Nem nada contra que as convida; cada um sabe o melhor emprego de seu dinheiro e melhor exercício de seu caráter. O que me assusta é esse festival da avatares, essa confirmação do esteriótipo de que a imagem se sobrepõe em infinitas e grossas camadas à substância; a substância, que se manifesta ou nas amizades descompromissadas, ou nas conversas interessantes ou na música de qualidade, parece esmagada pelos saltos e pelos gotejos da champagne.
Para ela, a substância, poucos clubs e poucas pessoas se dedicam. E poucas pessoas se dedicam não porque a maioria é essa que se estabelece sobre encarecidos rituais de escambo, mas porque poucas opções se apresentam frente àquelas que estampam na testa o esteriótipo “balada de playboy”.
Acesse aqui o artigo completo de João Anzolin

Em homenagem à imagem que ilustra este artigo, (que tomei a liberdade de roubar da reportagem do João Anzolin), vai uma track de bônus: o minimal house “Pimp Jackson is Talkin'”, do Loco Dice, em remix de Luciano:

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