Conheça Daphine: a jornalista que largou sua vida tradicional para viajar pela América do Sul

Publicado em 08/04/2016 - Por Camila Canabarro

Daphine Augustini nasceu em Curitiba, é formada em jornalismo pela PUC/PR e, apesar de levar vida tradicional e confortável em sua cidade, nunca se contentou com isso. Viver para trabalhar e comprar coisas não a fazia feliz, então em parceria do seu namorado Marcelo Simoes, do irmão e da cunhada, Daphine resolveu sair desbravando o Brasil sem nenhum dinheiro, vivendo apenas dos seus trabalhos com artesanatos, trabalhos circenses na rua e também em festivais de Psy trance.

Ah sim, os quatro aventureiros também contam com a companhia da Sacica, uma Kombi toda colorida, psicodélica e que lembra muito as que os hippies usavam nos década de 60. É nela que o grupo guarda toda a estrutura de um motor home e o necessário para viver.

Confira nossa conversa:

1- O que te fez abandonar uma vida tradicional e estável em Curitiba para se aventurar pelo Brasil?

Sempre tive grande simpatia por histórias de viajantes. Sempre gostei de povos nômades, dessa galera que sai a procura de aventura por ai, com coração aberto. Sempre senti, também, muita vontade de conhecer meu país e a América do sul. Depois de minha primeira viajem de carona, constatei que dava tudo certo, que era possível e decidi que ia me programar para me jogar.

Decidir largar tudo para mim não foi tão difícil, pois sempre tive a convicção que devemos ser felizes e realizar nossos sonhos. Como a vida tradicional, dentro de um escritório, carteira assinada, correria e tudo aquilo que a vida em uma capital proporciona não estava me preenchendo por total, já sabia o que deveria fazer.
Então posso resumir que o que me fez decidir mesmo começar essa vida aventureira foi o fato de eu não me sentir completa e realizada com aquilo que me diziam ser a verdadeira realização como ter uma graduação, emprego fixo e essas coisas. Minha felicidade morava em outro lugar… Partiu procurar ela, onde ela estiver.

2- Quando se tem uma vida tradicional as pessoas tem objetivos de vida como conseguir um emprego melhor e comprar coisas. Dentro do seu atual estilo de vida quais são os seus objetivos?

Meu principal objetivo hoje é me conhecer a cada dia mais. Conhecer meu eu interior, conhecer minhas raízes e me tornar alguém melhor a cada dia.

3- Quais os maiores desafios em se viver dessa forma?

Para uma vida nômade o principal é a coragem. Ter coragem de deixar sua casa confortável para tráz, sua família, seus amigos amados e tudo aquilo que te pertence.

E nisso, o maior desafio é acreditar que tudo vai dar certo, é você acordar e pensar “mesmo diante de um dia que eu não sei onde vou dormir,tomar banho, o que irei comer, como serão minhas vendas, quem irei conhecer, só posso acreditar que vai dar tudo certo”. E assim, confiar no universo.

4- Sente falta de alguma coisa da vida que tinham antes em Curitiba?

O que sinto mais falta (todos os dias kkk) é de minha família e amigos. De pode estar entre eles, fazer um almocinho, sair curtir um domingo de sol.
Mesmo conhecendo gente de todos os cantos, você sempre sente falta daqueles que moram em seu coração.

5- Conte nos um pouco sobre a Sacica…

Sacica é o nome da nossa Kombi colorida que hoje é a nossa casa também. Nela viajam quatro artistas malucos eu, meu companheiro Marcelo, meu irmão, Victor, e minha cunhada, Ana. Viajamos em família.

A Kombi Sacica é graffita por fora, toda feita a mão pelo casal de graffiteiros GardPam. Por dentro tem toda a estrutura de um motor-home, e vira assim, nossa casa psicodélica sobre rodas.

Onde paramos, temos onde dormir, como cozinhar. Temos camas, fogãozinho, energia para carregar nossas coisas uma barraca acoplada que faz ela ter um “segundo andar” e tudo mais que uma casa precisa.

O projeto foi todo idealizado pelo grupo e colocado em prática no quintal de casa artesanalmente pelo meu irmão que é Engenheiro Mecânico Industrial. Um projeto lindo, que encanta a todos.

Com ela já estamos viajamos oito meses e já rodamos 9 estados (PR,SC,RJ,SP,GO,DF,BA,MG,ES), mais de 29.000km.Por onde passamos arrancamos sorrisos e olhares curiosos.

Nosso intuito é viajar toda a América do sul realizando intervenções artísticas circences e vendendo nossos artesanatos. E assim, transmitindo o melhor de nós, respeito, paz, vida simples e respeito com a natureza.

Para conhecer mais e acompanhar nossa viajem, temos nossa fanpage KOMBI SACICA.

6- Quando surgiu o interesse em participar de festivais de trance e cultura alternativa?

Sempre busquei envolvimento com a cena alternativa por meio de me conhecer mais, de cuidar da natureza, sempre gostei e fiz práticas de yoga, alimentação saudável, e participei de diversas festas com propostas mais diferentes. Como festivais alternativos mas mais voltados para a vertente rock, reggae, blues entre outros.

Mas de fato, minha vida alternativa dentro do trance começou em 2009, depois de terminar a faculdade de jornalismo na PUC/PR. Estava naquela fase que sua graduação termina, depois de longos quatro anos, seu estágio termina, você é formada e está desempregada e todas aquelas dúvidas na cabeça.
Na época, Fábio, meu colega, me chamou para ir passar o final de ano no festival Universo Paralello, na Bahia. Eu topei na hora, e no final, fomos eu, ele e meu irmão, que hoje viaja comigo de Kombi.

Pela primeira vez fomos para tão longe, no nordeste, primeira vez que pegamos caronas, passamos o natal na casa de desconhecidos passamos vários perrengue e no final, tudo certo, lá estávamos nós, no nosso primeiro festival de trance.

E foi lá que a magia começou. Lá conheci meu atual companheiro, Marcelo, e me apaixonei pela estrada diante de tanta liberdade, tanta gente corajosa que viaja por tudo, que desbrava todo o mundo acreditando no universo, assim, decidi que iria me jogar também.

Depois do primeiro festival, já fui em vários e, mesmo não sendo tão por dentro da cena musical do trance, me apaixono a cada dia mais por essa família que acredita no diferente, que ama a si mesmo, e que faz, por meio da música, transcender e conectar.

7- Nunca sentiu medo por não ter segurança financeira? Ou não ter dinheiro é, afinal, mais libertador do que qualquer outra coisa?

Não sinto medo da questão monetária pois mesmo viajando, estou sempre trabalhando e movimentando minha vida financeira por meio do que chamamos de economia nômade que é quando você não precisa estar em um lugar fixo para fazer sua grana.

Assim como eu, diversas pessoas fazem isso para viajar e conhecer lugares por meio de artesanato, circo de rua, música, venda de alimentos, enfim, só não faz seu pé de meia quem não quer.

Claro que, diante de minhas escolhas atuais, não vivo focada em enriquecer demasiadamente. Corro atrás de meu trabalho para me manter, comer, colocar gasolina na Kombi e enfim, poder desfrutar de meu esforço.

Mas antes de ficar super focada, quase alienada nessa questão de grana, penso em ser saudável, feliz, conhecer gente, enfim, me realizar por completo.

8- Você já está viajando há algum tempo, deve ter passado por vários momentos marcantes e conhecido muitas pessoas, tem algum que você queira partilhar conosco?

Conheço tantos lugares maravilhosos e cheios de gente linda que fica até difícil eleger os melhores momentos.
Mas poderia citar aqui um pouco dos perrengues que passamos com a Kombi como quando na chegada em Ubatuba/SP acabou o freio no meio da serra, ou na saída de Trindade/RJ, na Serra do Deus me livre, quando não conseguimos por nada subir a serra. Nesses momentos que ela quebra sempre precisamos se virar nos trinta.

E posso falar também das belezas naturais do nosso pais amado, Brasil, no qual já conheci grutas e cavernas, cachoeiras e mares de água azul turquesa, as chapadas com seus paredões e cristais preciosos por todos lado, passarinhos coloridos e animais dos mais diversos tipos. Como diz a música, nosso pais é “abençoado por Deus e bonito por natureza”.

9- Além da vida mais simples, que outras coisas ganhou desde que começou essa jornada?

Auto confiança, confiança no universo saber me virar nas mais diversas situações é o que mais aflora todos os dias. Pude também conhecer mais minhas raízes conhecendo o meu pais. Nosso Brasil é feito de gente muito humilde e trabalhadora, que se vira como pode para sobreviver e ser feliz nesse pais duro. Mas para quem quiser conferir todas as histórias, podem acessar meu BLOG VIAJANDO (meusrelatosnaestrada.blogspot.com) ou a nossa fanpage BLOG VIAJANDO.

10- Quais são as três coisas fundamentais para se seguir esse caminho

Dentro da minha Vivência, acredito que primeiramente a coragem é a mais importante, do início ao fim. Você deve estar confiante e de cabeça firme, todos os dias. Em segundo lugar estar aberto a todas as situações e aprender a se virar diantes delas pois pode acontecer de tudo (de tudo mesmo). E, para finalizar um bom planejamento. Financeiro, de roteiro, de datas se for uma viagem com data predeterminada, etc. Assim, as coisas fluem melhor.

11- O que acha que está errado na forma de vida das sociedades atuais?

A falta de conhecimento interior primeiramente quando as pessoas correm atrás e perdem suas vidas por aquilo que está pré-determinado. Aquele padrão “colégio, faculdade, pós- graduação, emprego bom, um bom casamento…”, que já conhecemos muito bem.

Existem diversas formas de viver e precisamos ver aquilo que nos faz feliz e realizados. E isso muitas vezes não se encaixa dentro do que é o padrão. Pois quem não é feliz, não dá bom dia, não trata os outros bem, só pensa em inveja, vingança, vive triste.

E também a vida que corre cada dia mais contra a vida simples. Queremos riqueza, vida digital, pessoas de plástico, apartamentos urbanos. Precisamos retornar a vida simples, assim viveremos melhor, nos entenderemos melhor e nosso planeta irá agradecer.

Saiba Mais

Acompanhe a viagem de Daphine pelo blog Viajando e também em sua página no Facebook.

 

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