Nomes Curiosos: entenda a origem dos nomes do mundo da música eletrônica (Parte I)

Publicado em 13/09/2012 - Por Mohamad Hajar

Dar nome às coisas é uma das atividades mais difíceis da vida: seja para o filho, o cachorro, o grupo de trabalho na escola, eventualmente acabamos passando horas, dias ou até meses tentando encontrar a denominação perfeita. E na vida de um artista esta dificuldade é cotidiana, afinal, cada nova música que é finalizada precisa receber um nome. Alguns simplesmente tacam o foda-se e dão nomes aleatórios, como o projeto Rekorder, que numerou suas músicas de 0.0 até 10.3, de acordo com o disco e a faixa correspondente, ou então deadmau5, que possui álbuns chamados Random Album Title (Álbum de Título Aleatório), For Lack of a Better Name (Na Falta de Um Nome Melhor) e >insert album title here< (Insira o Título do Álbum Aqui).

Porém, a falta de criatividade ás vezes acaba dando lugar a uma criatividade além do necessário – e é nesse cenário que surgem músicas com nomes esquisitos, bizarros ou curiosos. Toda música conta uma história, e no caso das eletrônicas é mais difícil compreender a história que o artista pretende contar, devido à constante ausência de letras – nesse ponto que nasceu minha curiosidade pelos nomes. Em alguns casos, eles dão um novo significado para a música e passamos a gostar ainda mais dela, mas ainda existem os casos em que simplesmente algo aleatório foi escolhido para nomear a canção.

Pois bem, sempre procurei entender os nomes e agora irei compartilhar alguns significados aqui. Vale lembrar que tudo o que escrevo abaixo é baseado em pesquisas na internet – são suposições, o artista pode muito bem vir aqui e me desmentir, afinal, não estou dentro da cabeça dele pra saber qual foi a pira que deu origem ao nome.

DEADMAU5 – PROFESSIONAL GRIEFERS

Deadmau5 é um nerd assumido. Um cara que tem um Space Invader tatuado no pescoço, usou o nickname que tinha no mIRC para batizar o projeto e é fã do Nyan Cat é desgraçadamente nerd – e isso deu nome para esta música também. Griefer é a gíria americana para o jogador que entra em jogos on-line só para estragar a diversão alheia – traduzindo para a geração formada assistindo Hermes e Renato, o Griefer é um Joselito digital. A artwork do EP tem o Meowingtons (gato de estimação de deadmau5) em destaque, e no clipe é ele quem sabota a partida de UFC entre Joel e Gerard Way. Acho que já sabemos quem é o Joselito profissional da história.

 

SKRILLEX – SCARY MONSTERS AND NICE SPRITES

Bem, aqui podemos interpretar de duas formas. O dicionário traduz sprite como duendes. Monstros Assustadores e Duendes Bondosos – belo título para algo bem fantasy. Mas vamos nos lembrar que essa leva de DJs é extremamente nerd e foi adolescente nos anos 90, jogando Mega Drive e Super Nintendo. Sprite também é a denominação técnica para uma tecnologia muito usada em games da época, para inserir os personagens no cenário. Monstros assustadores e com visuais bons – se fosse do mau5 a música eu apostaria na segunda opção sem dúvidas! Seja qual foi a intenção dos Nice Sprites, o nome em si é uma referência à música Scary Monsters (and Super Creeps), de David Bowie.

PLASTIKMAN – SPASTIK

Saindo dos ídolos dos EUA e caindo agora nos deuses do techno, eis uma música que tem 19 anos e ainda é tocada – especialmente a versão “de fácil digestão” que Dubfire fez para ela. A Spastik original não é nada dançante – é um conjunto de percussões e sons intrigantes e hipnotizantes. Se você é DJ de techno, com certeza já tentou usar ela em mash ups e já percebeu que o resultado fica perfeito na maioria das vezes. Mas vamos parar de falar da música e vamos ao nome: spastic é um termo originalmente usado para definir o paciente que tem espasticidade, um enrijecimento muscular sintoma de disturbios neurológicos, como a paralisia cerebral. Ouça a música novamente agora que você sabe o significado do nome – faz total sentido, né? Ah, o K no lugar do C com certeza foi para se alinhar ao nome do projeto, que também troca o C de plastic por um K.

RADIO SLAVE – GRINDHOUSE (DUBFIRE PLANET TERROR MIX)

Grind house, traduzindo literalmente, seria “casa de triturar” – um nome mórbido, assim como a música. Além da tradução literal, grindhouse também é a denominação usada para designar cinemas que passam filmes de terror trash, daqueles que não se preocupam em ter uma boa história, continuadade ou execução. Porém o nome não é apenas uma referência a este tipo de cinema, e sim uma referência a uma recente produção que popularizou o termo. Grindhouse é um filme de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, que faz uma homenagem ao terror trash dos anos 80. O filme divide-se em duas partes: Death Proof e… Planet Terror. Bem, não precisamos dizer mais nada sobre este nome, né? Os vocais, apesar de parecerem muito com samples retirados de filmes de terror, não são do filme homônimo. Não consegui encontrar nenhuma referência na internet – talvez sejam originais, ou de algum filme MUITO alternativo.
* agradecemos a colaboração de Hermes Pons, que nos alertou para o significado não literal de “grindhouse”

DUSTY KID – LYNCHESQUE

E já que o assunto é techno doente e cinema alternativo, o maior hit de Dusty Kid também é uma referência à sétima arte. O sufixo -esque significa “à moda de”. Por exemplo, DaVinciesque, à moda de DaVinci. Então Lynchesque seria à moda de Lynch – David Lynch, diretor conceituadíssimo de cinema, com filmes intrigantes e doentes, assim como a música em questão. Curiosidade: já tem um tempo que Lynch resolveu atacar de produtor, e o resultado é, no mínimo, interessante. Vale a pena procurar 😉

D-NOX & BECKERS – CALA A BOCA

Peraí, por que os alemães deram um nome em português para a música? E por que um nome agressivo? Segundo D-Nox, é uma homenagem às pistas do Brasil – as que mais falam e menos prestam atenção no som. Cala a Boca mandou uma mensagem clara para nós muito antes de qualquer campanha que você tenha visto pela internet: fale menos e dance mais. E não é que eles têm razão?

KROME ANGELS – KRISKROS RHYTHMS

Essa foi provavelmente a primeira música que investiguei a fundo o nome – e ele é interessantíssimo. O nome em si é facilmente explicado – no break da música há um vocal dizendo “criss-cross rhythms that explode with happiness“. Mas ainda assim, “sons cruzados que explodem com felicidade”? Há sentido nisso? Acreditem, há sim. Esta frase foi criada por uma banda de música afro, chamada Osibisa, como uma tradução do nome deles – porém é só uma cortina de fumaça. Osibisa na verdade vem do termo Osibisaba, que significa “vida desregrada” no dialeto Fante. Ou seja… são os ritmos cruzados ou a vida sem limites que explodem com felicidade? 😉

GMS – JUICE

Pra finalizar, outra dos cinemas. Depois do audio-visual que o GMS fazia em 2009 ficou mais óbvio, mas ainda assim vale a pena a menção. A música na verdade é um remix para Lux Aeterna, música tema do filme Requiem Para Um Sonho. Os samples usados também são tirados do filme, e Juice é o nome do programa de televisão que tem função crucial no filme – o apresentador dele que fala a célebre frase “I said… We got a winner“. E já que estamos no assunto, uma dica: a película dirigida por Darren Aronofsky (que também dirigiu Cisne Negro) é obrigatória para qualquer pessoa que viva o mundo da música eletrônica e, consequentemente, das drogas (por mais que não as use).

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